Indústria naval só sobrevive com garantia de competitividade

A Transpetro comunicou na última quinta-feira (04) que sua prioridade é a retomada da indústria naval. A medida ajuda estaleiros parados no país, mas a exigência do conteúdo nacional mínimo é um obstáculo.
Navio da Transpetro
Navio Abdias Nascimento da frota da Transpetro/Foto: Transpetro

A Transpetro comunicou na última quinta-feira (04) que a prioridade da nova gestão é a retomada da indústria naval no Brasil. O anúncio foi de Sérgio Bacci, seu presidente. Mas, o próprio Bacci admitiu que “para a indústria naval ser efetiva, ela precisa ser perene, ter demanda de longo prazo”.

Para especialistas no setor, essa demanda está intrinsecamente ligada à competitividade com o mercado internacional.

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“Os navios de segunda mão à venda no Oriente têm preços muito competitivos e as empresas brasileiras tendem a comprar por lá navios usados em boas condições. Para dar certo, os preços no Brasil precisam ser competitivos”, analisa Francisco Martins, ex-presidente do Complexo Portuário Industrial de Suape e consultor para o setor portuário.

Uma fonte ligada ao governo federal, que pediu reserva, observa que a medida é boa, considerando a quantidade de estaleiros parados no país, mas tem um detalhe: a exigência do conteúdo nacional mínimo para a indústria naval.

A exigência desse conteúdo nacional pode chegar a 75% no Brasil. Em outros países, como a Singapura, é inversamente proporcional: o consumo de conteúdo importado chega a 90%.

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“O problema é que a exigência do conteúdo nacional mínimo para a produção naval obriga empresas a terem que comprar no Brasil componentes a preços mais elevados, como chapa de aço, motor…”, ressalta. Isso, segundo a fonte, a princípio pode parecer bom, porque gera empregos. “Mas, por outro lado, acaba incentivando indústrias não competitivas, como aconteceu no passado”, acrescentou.

Estaleiro EAS
EAS: caso clássico da indústria naval no NE/Foto: reprodução do Youtube

Em Suape, há um caso clássico: o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Ele foi concebido para ser um dos maiores estaleiros da América do Sul, mas não resistiu.  Quando acabaram as encomendas da Petrobras, não ocorreram outras, porque os preços não eram capazes de concorrer com a indústria naval internacional. O EAS findou em Recuperação Judicial.

Especialistas ouvidos pelo ME admitem que no caso do outro estaleiro situado em Suape, o Vard Promar, do grupo italiano Ficantieri, a recuperação poderia ser mais imediata. É que o Promar tem negócios no mundo inteiro e convive com as oscilações da indústria naval com maior frequência, podendo voltar às atividades com mais fluidez.

Demanda para indústria naval

“A demanda da Petrobrás por navios aliviadores é uma demanda concreta, e vem sendo suprida mediante o afretamento de embarcações no exterior”, comenta a ex-CEO do EAS e conselheira de empresas, Nicole Terpins.

Nicole vivenciou o processo de decadência do EAS devido à falta de encomendas e à baixa competividade. “A medida beneficia muito aos estaleiros brasileiros – em especial os pernambucanos, com track record de construções para a Transpetro”, analisa.

Entretanto, Nicole ressalta que é muito importante que o direcionamento da demanda para os estaleiros nacionais ocorra de uma forma estruturada, mediante o equacionamento de outros desafios da competitividade. “Sem competitividade, estaremos correndo o risco de daqui a alguns anos cairmos na mesma armadilha, com novo desvio da demanda para o exterior”, disse.

Nicole diz esperar que além de criar a demanda para construção das embarcações, o governo trabalhe na estrutura de custos dos estaleiros, favorecendo a aquisição de matéria prima mais barata (no Brasil ou no exterior), reduzindo os encargos trabalhistas e tributários e garantindo o financiamento a produção através de linhas atrativas e da criação de ferramentas para garantia do crédito.

Embraer

Segundo o especialista do governo, o modelo naval tem que seguir o modelo aéreo. A Embraer, por exemplo, não é obrigada a comprar conteúdo nacional mínimo. É livre para comparar os componentes das aeronaves em qualquer lugar do mundo.

“Pegando esse exemplo da Embraer, acredito que seria uma boa ideia deixarmos a indústria naval livre para fazer suas escolhas. Quem sabe não o setor naval chega ao nível da competitividade da Embraer. Se Embraer conseguiu, porque a indústria naval não conseguiria”, analisa.

Porto de Suape
Porto de Suape tem área para novos estaleiros/Foto: divulgação

Suape

Francisco Martins lembra, inclusive, que caso essa indústria possa de fato ser retomada, o Complexo Portuário de Suape estaria apto a receber novos estaleiros. “Suape tem um plano diretor pronto, que direciona o seu desenvolvimento e o zoneamento portuário. O plano prevê áreas para novos estaleiros”, explica antigo gestor.

As áreas em questão são as destinadas à expansão. “Isso requer, claro, grandes investimentos em dragagem para se construir os canais de acesso. De todo modo, Suape pode entrar nesse mercado com grande competitividade”, ressalta.

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