Inclusão: conheça iniciativas de empresas pela diversidade no quadro de funcionários

Falta de inclusão, machismo, racismo e capacitismo são obstáculos que afastam mulheres, negros e com deficiência do mercado de trabalho

O mercado de trabalho reflete muitos dos preconceitos presentes na sociedade, dificultando o sustento e ascensão econômica de muitas pessoas. Machismo, racismo e capacitismo são alguns dos obstáculos que afastam mulheres, pessoas negras e com deficiência, por exemplo, da chance de ter um emprego.

Apesar da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 determinar que empresas com 100 funcionários ou mais tenham no mínimo de 2% a 5% de seu quadro formado por pessoas com deficiência, o Brasil tem números alarmantes no que diz respeito à falta de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

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Além disso, temos o Estatuto da Pessoa com Deficiência, elaborado pelo Senado Federal, determinando que as pessoas com deficiência têm direito “ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”, e que “as pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos”. No entanto, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 mostrou que apenas 28,3% da população com alguma deficiência em idade de trabalhar consegue um emprego.

Inclusão de PCD’s

Shirlei Paiva Belchior, que tem uma luxação congênita no quadril, foi promovida na Votorantim Cimentos. Foto: Divulgação

Uma mudança nessa realidade passa exige a adoção de políticas públicas eficazes, aliadas a investimentos em acessibilidade em postos de trabalho na iniciativa privada, e numa mudança de cultura organizacional que preze pela inclusão e diversidade. Uma das empresas que se empenham em mudar essa realidade de exclusão e preconceito é a Votorantim Cimentos.

Em 2022, a empresa investiu R$ 10 milhões em adaptações de suas instalações, de modo a dar acessibilidade às unidades operacionais de todo o país, acompanhando seu Banco de Talentos para Profissionais com Deficiência, onde profissionais cadastram seus currículos para futuras vagas de emprego na companhia.

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A companhia criou, em parceria com o Instituto Alicerce, o curso gratuito de qualificação profissional exclusivo para Pessoas com Deficiência, “Programa Evoluir – Incluir para Transformar”, com vagas em diferentes estados. O principal objetivo é promover capacitação profissional para apoiar a sociedade na inclusão por meio do mercado de trabalho.

“Os nossos esforços de inclusão vão além da oferta de oportunidades para ingressar no mercado de trabalho. Queremos que as pessoas com deficiência de fato participem da nossa jornada de evolução e desenvolvam suas carreiras, contando com um ambiente em que sejam tratadas como iguais, respeitando as diferenças. Dessa forma, construímos juntos mudanças que inspiram e transformam a vida de todos para melhor”, afirma a gerente geral de Gente da Votorantim Cimentos, Bruna Perpétuo.

Além disso, a Votorantim implantou um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) voltado à retenção dos funcionários com deficiência em sua fábrica no estado de Pernambuco. O PDI é uma ferramenta de RH para estabelecer, acompanhar e desenvolver as competências dos trabalhadores, para reter talentos com oportunidades internas. Após a iniciativa, 88% dos funcionários com deficiência seguiram na empresa.

Um exemplo é Shirlei Paiva Belchior, de 45 anos, com uma luxação congênita no quadril. Quatro anos atrás ela conseguiu, na Votorantim, seu primeiro emprego como pessoa com deficiência e o suporte para se sentir incluída. Shirley é formada em direito e ocupou o cargo de técnica em contabilidade na fábrica de Paulista. Em 2022, ela foi promovida a assistente administrativa.

Ela relata que, por sua condição não ser visível a todos, nem sempre teve todos os direitos garantidos em outros locais de trabalho, mas que hoje tudo é diferente. “Eu me sinto cuidada. Em momentos de crise de dores, o pessoal consegue compreender, me ajudam e eu vejo preocupação da empresa, uma sensibilidade. Porque há uma luta e uma superação diária”, diz Shirlei.

Como profissional, Shirley valoriza muito o contato com lideranças e colegas que vivenciam o mesmo dia a dia que ela e trabalhar num ambiente com diversidade no quadro de funcionários. Uma das ações sociais implementadas em todas as fábricas da Votorantim Cimentos na região Nordeste é o Café com Lideranças, definido como um espaço “de fala e reconhecimento” para as pessoas com deficiência que trabalham lá, dando continuidade às rodas de conversa realizadas em comemoração ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro.

“Tive uma porta que se abriu por mérito, mas é importante estar onde estou como pessoa com deficiência. A troca é muito importante, acho interessante ser ouvida porque pode ajudar outras pessoas e faz com que entendam nossas dificuldades, abre caminhos”, disse Shirley, ressaltando que está “onde queria estar e quero continuar crescendo”.

Busca por vagas

Além de atitudes inclusivas realizadas pelas próprias empresas, há outras iniciativas para empregabilidade de pessoas com deficiência, como portais de vagas destinadas exclusivamente a essa população, formando bancos de currículos e ajudando profissionais a encontrarem a melhor vaga possível.

Um exemplo é o Portal Egalité, destinado a auxiliar pessoas com deficiência a entrar no mercado de trabalho, e as empresas a cumprirem a lei de cotas através do recrutamento assertivo. O site também visa à construção de boas práticas de inclusão para desenvolver profissionais com deficiência em ambientes de trabalho produtivos. A plataforma também oferece cursos gratuitos.

O site “Deficiente Online” é um dos maiores destinados à empregabilidade de PCD’s. Ele divulga vagas e organiza um banco de currículos que ficam à disposição de mais de mil empresas. O cadastro é gratuito.

Outros exemplos são os portais “Oportunidades Especiais”, envia vagas pelo WhatsApp, faz curadoria de currículos e oferece cursos de capacitação; “Vagas PCD”, um banco de talentos com milhares de candidatos inscritos; e o “Rede Cidadã”, que reúne sociedade civil, empresas, órgãos públicos, organizações sociais e voluntários, criando soluções para a geração de trabalho e renda.

Enfrentamento ao racismo

Séculos de racismo tornaram o racismo um obstáculo para negros e negras no Brasil. Foto: Freepik

O racismo estrutural, triste marca da sociedade brasileira, também representa uma barreira no acesso ao mercado de trabalho e ascensão social. Dados do IBGE mostram que em 2021, brancos receberam cerca de R$ 19 por hora de trabalho no Brasil, 74% a mais que o rendimento dos pretos (R$ 10,90) e 68% a mais que os pardos (R$ 11,30).

Com o objetivo de ampliar ações de luta antirracista, a Tim criou a campanha “Saia do modo silencioso”, projeto que traz uma música inédita da cantora Negra Li, inspirada em falas simbólicas contra o racismo, que pode ser usada como toque de celular.

A TIM integra a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero e tem, atualmente, 37% de pessoas negras em seu quadro profissional, com meta de atingir 40% até 2023. A empresa lançou um programa de desenvolvimento de carreira e um banco de talentos exclusivos para pessoas negras.

“Contratar pessoas negras é uma reparação histórica”, afirma a consultora Ana Minuto, CEO da Minuto Consultoria, parceira da TIM no programa. Ela reforça a importância do investimento em desenvolvimento de pessoas negras dentro da empresa. “Além de preparar essas pessoas para tornarem-se líderes, isso ajuda a mudar o ponteiro da média de liderança dentro das organizações”, diz a especialista.

A cantora Negra Li gravou uma música antiracista para a campanha da Tim. Foto: Divulgação

A fabricante brasileira de bebidas Ambev conta com mais de 800 profissionais autodeclarados pretos ou pardos e movimentou mais de R$106 milhões em negócios gerados com empreendedores pretos. Em 2020, a empresa assinou os “10 Compromissos das Empresas para a Promoção da Igualdade Racial” e anunciou 13 metas para aumentar a diversidade racial entre seus líderes e na cadeia de valor com um comitê de especialistas externos relacionados à pauta racial.

A companhia também lançou o Representa, programa de estágio exclusivo para pessoas pretas, em parceria com o MOVER, capacitando mais de 3 milhões de profissionais negros e gerando mais de 10 mil novos cargos de liderança até 2030. Neste ano, a empresa também lançou o Dàgbá, o seu primeiro Programa de Desenvolvimento de Lideranças Negras.

A Ambev já colhe frutos importantes dessas ações, como a superação da meta de colaboradores negros nos cargos de liderança – a empresa previa a contratação de 200 profissionais entre janeiro e dezembro de 2021 e, até então, foram incorporados mais de 500 profissionais ao quadro de líderes.

Elayne foi selecionada para o cargo de Gerente de Gente e Gestão. Foto: Divulgação/Ambev

Um belo exemplo é Elayne Freitas, Gerente de Gente e Gestão no CDD Ilhéus, que participa do projeto e conta que o Dàgbá trouxe um novo sentido à sua trajetória na Ambev. “Como mulher negra, sempre entendi o impacto das minhas ações e como tinha muita responsabilidade em cada passo que dava. Eu trazia muitas outras histórias comigo. Então, ser escolhida para estar num programa como o propósito de acelerar carreiras de pessoas estruturalmente à margem da sociedade, como o de corpos como o meu, não havia como não ser a principal prioridade de evolução em 2022”, contou ela.

Elayne conta que o Dàgbá lhe deu “ainda mais coragem pra ser ousada e inovar”. “Despertou a minha voz, para que saísse dos bastidores e me tornasse protagonista. Me fez evoluir no meu autoconhecimento, mas o melhor foi conhecer histórias tão lindas e inspiradoras, fortalecer amizades antigas e me abrir para novas. Sou uma pessoa melhor, porque SOMOS. Gratidão!”, ressaltou ela.

Força feminina

Mulheres em capacitação no projeto Rede Mulher Empreendedora, no Recife. Foto: Divulgação

A Ambev também promove uma ação chamada “Bora Empreender com Comida”, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (RME), que visa à capacitação gratuita de 2 mil empreendedoras no Recife (PE) e São Luís (MA), com prioridade às negras e moradora de comunidades. As interessadas em participar, podem se inscrever no site do projeto.

Entre as participantes, 100 serão selecionadas para mentorias de aceleração, e 40 delas receberão recursos financeiros e acompanhamento para os negócios. O programa também vai promover a conexão das empreendedoras com negócios locais e a rede da Ambev.

No Recife, a próxima capacitação será promovida no dia 5 de dezembro, na Av. Alm. Paulo Moreira, 3133 – Garapu, no Cabo de Santo Agostinho, município localizado na Região Metropolitana. Como começar a vender, liderança e gestão de tempo serão os temas.

Em São Luís, a capacitação do projeto na Avenida Amália Saldanha nº 243 – Coroadinho aconteceu ontem (26). Foram abordados temas como atitude empreendedora, modelo de negócio, finanças e fornecedores, como começar a vender, liderança e gestão de tempo.

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