Abalada por uma crise profunda desde a segunda metade da década passada, a construção naval aprova a retomada das encomendas de embarcações pela Transpetro que, esse semana, abriu uma licitação internacional para 4 navios de cabotagem. O presidente do sindicato nacional do setor, Ariovaldo Rocha, considera a iniciativa o “marco” de um novo ciclo no segmento.
Na Bahia, o Estaleiro Enseada, do grupo Novonor, também emite sinais de aprovação ao programa TP 25 e afirma ter interesse nesses contratos.
“A companhia vê de forma positiva as novas demandas colocadas recentemente pela Petrobras e Transpetro e segue avaliando todas as oportunidades relacionadas ao mercado de construção naval e offshore”, diz a companhia por meio de nota.
A planta baiana é uma das maiores do setor no Brasil, ao lado do EAS Heavy Industry Solutions, em Pernambuco. Procurado, o EAS disse observar os movimentos com atenção, mas evitou adiantar avaliações sobre o processo.
Construção naval diz que ritmo das encomendas é o esperado
No Sinaval, o presidente se mostrou satisfeito com o andamento do novo programa de renovação da frota da Transpetro, braço logístico da holding Petrobras.
“Recebemos com satisfação a abertura de licitação de navios da classe Handy, com capacidade de 15 mil a 18 mil toneladas de porte bruto, com o primeiro lançamento de embarcação previsto para 2026″, destacou Ariovaldo Rocha.
Para o executivo, “a nova licitação reforça o compromisso da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, com a retomada da indústria naval brasileira”.
Encomendas trazem sinalização positiva para construção naval
Ariovaldo Rocha ressalta que, obviamente, o volume de embarcações dessa primeira remessa não é o suficiente para encerrar o ciclo de dificuldades que a construção naval enfrenta desde a crise política e financeira que se abateu na Petrobras, na segunda metade dos anos 2010.
Mas frisa que se trata de uma sinalização positiva para a recuperação dessa indústria. “Sabemos que quatro navios não vão preencher a capacidade ociosa dos estaleiros [instalados no Brasil] atualmente. No entanto, é um passo importante para que possamos reiniciar as atividades dessas plantas”, defende.
Ao todo, o TP 25 prevê a contratação de 16 embarcações, o que na opinião do presidente, vai dar fôlego para que as empresas, no médio prazo, retomem as atividades.
“Esses navios se encontram em estágio avançado de estudos, sendo que oito gaseiros [desse programa] tem previsão de lançamento de edital até o final deste ano“, aponta.
Licitação internacional não é considerada um problema
Sobre o novo modelo de concorrência adotado nesse programa, Ariovaldo Rocha não vê problemas na abertura para que estaleiros internacionais possam participar dos certames.
O formato é diferente do antigo Promef, executado nos governos Lula e Dilma, nos anos 2000 e 2010, com exclusividade para plantas instaladas no Brasil em sociedade com players mundiais.
“O setor, no país, está pronto para operar: os estaleiros possuem parque instalado de nível global, com investimentos em modernização e construção recentes de novas plantas, além de recursos aplicados em gestão, governança e integridade”, sustenta.
Ele frisa ainda que o setor não reinvindica uma reserva de mercado para empresas brasileiras.
O que os empresários do Brasil querem – na visão do presidente – é uma estratégia de desenvolvimento nacional. Dessa forma, estaleiros estrangeiros que eventualmente vencessem essas licitações teriam que realizar grande parte do processo produtivo no país, gerando riqueza e postos de trabalho no mercado brasileiro.
Ariovaldo Rocha também ancora seu posicionamento em questões de política internacional. “Quando defendemos que haja construção naval no Brasil, estamos falando de soberania e segurança energética“, esclarece.
Para o empresário, “hoje, nossa frota de petroleiros é, quase em sua totalidade, afretada e com navios de bandeiras estrangeiras, o que significa um risco muito grande de desabastecimento num cenário geopolítico cada vez mais acirrado”.
“Neste sentido, ter parte da frota [da Transpetro] com navios de bandeira brasileira e construídos no Brasil é importantíssimo para o país, uma vez que mais de 90% da nossa produção de petróleo é no mar. Precisamos de embarcações para escoar essa produção”, argumenta.
Construção naval tem subsídio até nos EUA
Sobre um suposto conflito, alegado por críticos do setor, entre benefícios para a indústria nacional e economia de mercado, Ariovaldo tem um réplica direta e que desmonta fácil narrativas ideológicas.
“Ter subsídio para garantir a soberania nacional não é exclusividade do Brasil”, justifica.
“Os Estados Unidos, fundados sob ideais do liberalismo, possuem uma regulamentação que obriga que qualquer navio que opere na cabotagem do país seja construído em seu território, mesmo que a produção no mercado norte-americano seja três vezes mais cara que na Ásia“, rebate.
Segundo Ariovaldo, “o arcabouço regulatório brasileiro impede que a Transpetro coloque em seus editais a obrigação de os navios serem construídos no Brasil, como acontece nos EUA”. “O que é uma pena”, critica.
“Com isso, o Brasil está na contramão da tendência mundial de adotar medidas para recuperar e proteger suas indústrias locais de competições desleais, especialmente contra a China e a Índia, em setores estratégicos como construção naval e offshore e o de energia renovável”, conclui.
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