Indústria automobilística: qual o impacto do 3º ciclo de investimentos no NE?

Stellantis, que anunciou esta semana um programa de R$ 30 bi no Brasil, e BYD estão à frente da nova expansão da indústria automobilística nordestina. Mas que efeitos esse crescimento vai trazer para a região? Confira
Indústria automobilística: os heads global e para América Latina da Stellantis, durante anúncio do plano de investimentos 2025-2030
Indústria automobilística: os heads da Stellantis se reuniram com o presidente Lula, em Brasília, para anunciar R$ 30 bi em investimentos/Foto: Stellantis

A indústria automobilística do Nordeste – depois de dois ciclos de investimentos nos anos 2000 e 2010 – tem uma nova fase de expansão, pegando carona na descarbonização global da frota de veículos, que vai gerar aportes de R$ 100 bilhões no Brasil. Os recursos serão destinados ao desenvolvimento e produção de carros elétricos/híbridos e corte de emissões nas atividades fabris do setor. Stellantis e BYD estão à frente desse movimento na região.

Mais do que crescimento, essa etapa representa uma oportunidade para a região ter protagonismo nacional na transição dos motores térmicos para as tecnologias que utilizam eletricidade, etanol e hidrogênio.

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Isso porque, embora o Nordeste não vá receber a maior parcela dos aportes anunciados em 2023 e neste início de 2024, os primeiros modelos elétricos fabricados no Brasil vão sair de Pernambuco e da Bahia.

Além disso, esse terceiro ciclo traz a chance de que o setor de autopeças ganhe tração na região, já que a maioria dos fornecedores da cadeia automotiva ainda estão no Sudeste e Sul, realidade que as montadores instaladas em estados nordestinos querem mudar nessa nova fase.

Stellantis e BYD lideram salto da indústria automobilística

Nos saltos anteriores da indústria automobilística nordestina, o pioneirismo coube à Ford, que em 2001 ativou seu complexo em Camaçari (BA), e à então Jeep, cujo polo automotivo em Goiana (PE) foi inaugurado em 2014.

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A montadora norte-americana, que saiu do Brasil em 2021, investiu R$ 5,5 bilhões para a implantação da unidade baiana. Já o parque da Jeep, agora controlada pela Stellantis, recebeu R$ 18,5 bilhões, desde o início da construção até o momento.

O crescimento atual do setor na região será puxado novamente pela Stellantis e pela estreante no país: a greentech chinesa Build Your Dream. Líder mundial na produção de veículos a bateria desde que ultrapassou a Tesla no final de 2023, a BYD assumiu o antigo parque da Ford Camaçari.

Em comum, além de terem operações no Nordeste – vale ressaltar, em estados vizinhos – as duas gigantes compartilham a mesma ambição: dominar o mercado de carros elétricos/híbridos no país. A briga promete ser boa.

Indústria automobilística: Stellantis investe R$ 30 bi

A Stellantis apresentou, semana passada, suas armas para a disputa pelo pódium da eletrificação/hibridização de carros. O CEO global da corporação, Carlos Tavares, e o COO para a América Latina, Emanuelle Cappellano, se reuniram na quarta-feira (6), em Brasília, com o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, para anunciar investimentos de R$ 30 bilhões no país.

Segundo a companhia, esse é o maior aporte já realizado por uma empresa do setor na história da América Latina. Embora a fatia que será destinada especificamente ao polo pernambucano ainda não tenha sido revelada, a expectativa é de que boa parte dos recursos seja direcionada ao complexo localizado na Região Metropolitana do Recife.

Afinal, é da Stellantis Goiana que sairá, no segundo semestre desta ano, o primero modelo elétrico brasileiro do grupo franco-ítalo-americano. Na planta de Pernambuco, são produzidos modelos das marcas Jeep, RAM e Fiat Toro. A montadora tem mais duas fábricas no Brasil, localizadas em Betim (MG) e Porto Real (RJ).

Indústria automobilística:  sócio da BYD no Brasil, Alexandre Baldy aposta em adensamento da cadeia produtiva regional
Alexandre Baldy, da BYD, aposta em atração de fornecedores de autopeças e adensamento da cadeia da indústria automobilística/Foto: BYD

BYD é a mais agressiva em preço

A BYD – que lançou recentemente o carro elétrico mais barato do Brasil, o importado chinês Dolphin Mini (R$ 115 mil) – iniciou, na terça-feira passada (5), a implantação de sua unidade baiana. A pedra fundamental do empreendimento foi lançada em outubro de 2023.

No complexo, serão aportados R$ 3 bilhões. Como boa parte da estutura física necessária será herdada da Ford, incluindo a pista de testes, o processo deve ser rápido. A expectativa da montadora é de lançar seu primeiro carro elétrico produzido no Brasil – e made in Bahia – entre o final de 2024 e o início de 2025.

O parque, no entanto, não vai produzir apenas carros. Estão planejadas três fábricas, voltadas para, além de veículos de passeio (com capacidade de 150 mil unidades/ano), chassis de ônibus e caminhões elétricos e processamento de lítio e ferro fosfato.

BYD destaca simbolismo na Bahia

Conselheiro e sócio brasileiro da BYD, o empresário Alexandre Baldy destaca como emblemática a instalação da greentech no local que marcou a entrada da primeira grande montadora no Nordeste.

“A chegada da nossa empresa em território baiano é um divisor de águas para a indústria automotiva nacional, que volta a investir e produzir na Bahia, em um espaço simbólico e estratégico”, ressalta.

Em relação à esperada atração de mais fabricantes de autopeças para o Nordeste, Baldy está otimista. “A região será um polo de atração de fornecedores diversos ligados a toda cadeia produtiva, desde fabricantes de peças e acessórios até prestadores de serviços. É nisso que estamos empenhados”, acrescenta.

Diplomático, Baldy já propôs até uma união de esforços com a rival Stellantis para proporcionar ganho de escala que viabilize a implantação de novos fornecedores do setor, na região.

Quanto ao impacto tecnológico da entrada da BYD na Bahia, o conselheiro afirma que a montadora vai transformar a Região Metropolitana de Salvador no “Vale do Silício brasileiro”, por meio do centro de pesquisa e desenvolvimento que será instalado na capital baiana, vizinha de Camaçari.

Indústria automobilística: Angelo Almeida vê mudança de patamar do Nordeste, com novos investimentos
Indústria automobilística: Angelo Almeida avalia que o Nordeste se insere de forma estratégica na transição da mobilidade/Foto: SDE-BA

Governo da Bahia vê mudança de patamar do NE

No Governo da Bahia, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, acredita que o Nordeste muda de patamar na indústria automobilística com esse ciclo do setor.

“A região se insere em um cenário de grande importância na expansão da cadeia automotiva no país, tendo agora um papel fundamental na transição da mobilidade no Brasil”, defende.

“Teremos no Nordeste desde a modernização e instalação de fábricas ao desenvolvimento de tecnologias de ponta para redução de emissões e soluções de mobilidade seguras, limpas e acessíveis”, detalha.

Quanto à expansão da indústria regional de autopeças, o secretário, assim como Alexandre Baldy, avalia que os fabricantes não vão perder as oportunidades que serão criadas para o segmento, considerando o aumento da demanda que será gerado na Bahia e Pernambuco. Ele aposta no adensamento da cadeia produtiva na região.

Fieb vê NE fortalecido na transição energética

No empresariado baiano, a federação estadual das indústrias (Fieb) vê o Nordeste fortalecido na transição energética com o avanço da indústria automobilística.

“Esse movimento do setor automotivo na região se insere num contexto maior, de transição energética, que é de ordem internacional, e dialoga com o boom da geração limpa nos estados nordestinos e os esforços da região para atrair a cadeia de hidrogênio verde”, analisa o superintendente Vladson Menezes.

Em Pernambuco, a entidade que representa o setor fabril (Fiepe), considera a aceleração da indústria automobilística como uma grande chance para que a indústria de transformação nordestina se revigore. O segmento, com algumas exceções, vem passando por dificuldades desde o final da década passada e que se acentuaram nos últimos anos.

“Com as montadoras, teremos, além de um aumento do emprego na área fabril e impacto na renda, um crescimento da produção na indústria de transformação, que atualmente está em baixa na região”, sustenta Denise Honorato, analista de Economia da entidade.

“Outro benefício será o incremento das exportações regionais, melhorando o resultado da nossa balança comercial, que historicamente é deficitária”, conclui.

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