Fundo interessado no estaleiro vira piada em Suape

No meio empresarial de Suape, o tal fundo virou piada. Vem sendo chamado de "Organizações Tabajara”.

O sentimento de frustração tomou conta da administração do Complexo Industrial e Portuário de Suape um dia após o desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco Bartolomeu Bueno suspender o leilão que venderia os ativos do Estaleiro Atlântico Sul (EAS). A área está inserida fora do porto organizado. Mas não é só isso. Inquieta o estranho aparecimento do fundo de hedge North Tabor Capital, de Nova Jersey.

Ele se apresenta como interessado na aquisição de ativos postos à venda pelo EAS, mesmo sem ter homologado sua participação no leilão. No meio empresarial de Suape, o tal fundo virou piada. Vem sendo chamado de “Organizações Tabajara”, em referência a uma empresa fictícia, criação debochada do grupo de humor Casseta & Planeta da Rede Globo de televisão. 

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Estaleiro EAs
Áreas do Estaleiro Atlântico Sul estão no centro da disputa em Suape/Foto: divulgação/Porto de Suape

O leilão envolvendo os ativos do estaleiro vem sendo aguardado com muita expectativa porque abre a possibilidade para um novo terminal de contêiner mais competitivo que o atual Tecon Suape, que aliás integra o grupo ICTSI Rio Brasil Terminal 1 S.A, responsável pelo recurso que levou à suspensão do leilão judicial que ocorreria no dia 6, com abertura de proposta nesta quinta-feira (07).

“Ninguém aqui em Suape acredita nessa proposta do fundo norte-americano. Quanto mais tempo perdemos para uma definição do leilão, mais Pernambuco perde na configuração de um terminal de contêiner para sair da brincadeira de ter o terminal mais caro da América Laltina”, diz Roberto Gusmão, presidente do Porto de Suape, referindo-se às astronômicas tarifas praticadas pelo Tecon Suape.

A história que gira em torno do fundo interessado nos ativos do EAS é cheia de situações estranhas. Já com prazo para aderir ao leilão encerrado, o fundo entrou em cena. O que se sabe sobre o North Tabor Capital é que ele foi criado por Cole Mattox, na tenra idade de 17 anos. Hoje, Cole teria 22 e, pelo que foi apurado pelo Movimento Econômico, ele só tem um sócio.

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Mesmo tão pequeno, o North Tabor Capital está disposto a investir R$1,2 bilhão e diz que já fez uma proposta ao EAS por todo estaleiro. A ideia é retomar a produção de navios e operar um terminal de contêiner, entre outras iniciativas. O fundo diz que representa grandes corporações como JP Morgan Chase & Co. e  Santander Bank. 

“A abordagem desse fundo é muito esquisita. É muito estranho que empresas do porte do JP Morgan ou Santander não façam um contato prévio com o Governo de Pernambuco para anunciar seus interesses numa aquisição tão estratégica e que usem a imprensa para isso”, diz uma fonte do setor.

Outra coisa que chama atenção é o modelo de negócio. Fontes ouvidas pelo Movimento Econômico não entendem como é que um fundo se propõe a colocar tanto dinheiro num negócio que prevê a retomada das atividades do estaleiro, quando se sabe que não há mercado para fabricação de navios no Brasil. Tanto é que o EAS entrou em recuperação judicial.

“O grupo também diz que quer implantar um novo terminal de contêiner no Cais Leste, por 10 anos. Esse cais está estaqueado em 10 metros de profundidade. Para receber os navios que trazem contêiner seriam preciso de 15 metros. Uma obra que exige milhões de reais em investimentos e que não se paga em 10 anos, como projeta o fundo”, diz um especialista do setor naval.

Não há demanda

O fundo anunciou ainda que deseja operar commodities em outro cais do EAS. Mas Suape já tem terminal para commodities, que pertenceu a Agrovia e que recentemente foi a leilão e só teve um interessado, a Agemar. Não há demanda para dois terminais dessa natureza em Suape. 

Suape Cais 5
Cais 5 de Suape e sua retroárea adquirido pela Agemar/Foto: divulgação

O presidente de Suape, Roberto Gusmão, explica que da mesma forma que o governo do estado teve que aprovar a instalação de um estaleiro, tem que aprovar qualquer mudança na sua estrutura. “O que acontece no porto tem que estar alinhado com nosso planejamento”, diz.

“Qualquer que seja o operador e traga novas linhas de longo curso e mais competição para Suape é bem-vindo. Vamos apoiar a vinda de novo terminal sem abrir mão de ajudar o Tecon Suape a resolver as mudanças contratuais que lhe permitirão reduzir suas tarifas”, ressalta Gusmão.

Entretanto, ele alerta que é preciso respeitar a limitação em cada área física. A área de uma empresa não pode ser maior do que o estabelecido para garantir a competição. É o caso do Tecon Suape. A área prevista para um novo terminal é limitada do ponto de vista físico e isso significa que se o Tecon Suape ganhar o leilão não poderá operar dois terminais.

Um bode na sala

No EAS, uma fonte garante que a empresa não recebeu proposta alguma do tal fundo e se isso tivesse ocorrido teria que submeter a proposta à Justiça. Segundo a fonte, no EAS o entendimento é que colocaram um bode na sala para atrapalhar o processo e fazer com que a APM Termianis B.V. (APMT), integrante do grupo Maersk, desista de participar no processo. 

O Estaleiro Atlântico Sul havia conferido condição de Stalking Horse à empresa  APM Termianis B.V. (APMT). Essa figura jurídica permite que o interessado faça uma oferta inicial e antecipada para tentar fechar negócio com uma empresa que está em recuperação judicial, dando-lhe a prerrogativa de preferência mediante a oportunidade de cobrir a melhor oferta.

 “Mas o que chama atenção mesmo é o fundo querer comprar o estaleiro sem estar participando do leilão judicial. É como querer ganhar na Mega Sena sem jogar”, diz um especialista.

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