Clínica Florence cresce 40% ao ano com cuidados de transição

Mercado de cuidados paliativos e reabilitação intensiva cresce no Brasil, seguindo tendência internacional
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

O uso de tecnologias nas empresas de saúde evolui a passos largos, acelerados a partir da pandemia da covid-19. Ao mesmo tempo, um movimento de humanização dos tratamentos, com mais interação entre a equipe médica, as famílias e cuidadores, vem sendo fortalecido.

Na Florence Recife, a cama vai ao jardim para o banho de sol do paciente – FOTO: Divulgação Clínica Florence

No Brasil, esse movimento ganha reforço com o aporte de grandes fundos de investimento em novos empreendimentos de saúde, especialmente em São Paulo, o maior centro médico do país. 

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Mas foi no Nordeste, na Bahia, que surgiu há cinco anos a Florence, a primeira clínica do país especializada em cuidados de transição – uma fase onde o paciente não precisa mais ficar internado em hospital, mas sim de reabilitação intensiva ou de cuidados paliativos.

O modelo já é bem aplicado nos Estados Unidos e países da Europa como a Bélgica e a Holanda, trazendo uma redução significativa de custos para os convênios de saúde que, no Brasil, pode variar de 20% a 80%, como acontece quando o paciente deixa a UTI para um quarto.

“Nosso posicionamento é de transição, com previsão de alta médica, o que permite o modelo de conta fechada, com diária global, cujo valor cai se o paciente passar mais tempo internado do que o previsto. Isso gera compartilhamento de riscos, evita desperdícios porque não vamos receber do convênio além do que estiver acertado”, explica o CEO da Florence, o cardiologista Lucas Andrade.

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Após a experiência com a Florence em Salvador, os convênios convidaram os sócios da Florence para abrir uma unidade no Recife, onde prospera um robusto polo médico, considerado o segundo do país.

Convite aceito e plano de negócios definido,  em dezembro passado a Florence abriu as portas na capital pernambucana, no bairro das Graças, área valorizada e tranquila, próxima aos principais hospitais do Recife. O investimento de R$ 30 milhões na montagem da clínica chega a R$ 70 milhões, considerando-se o contrato de aluguel do amplo espaço, por 20 anos.

A unidade atende pelos planos de saúde nacionais e está em negociação com os locais, o que deverá incrementar a procura pelos serviços, como vem ocorrendo na matriz. Inaugurada em 2017, com 37 leitos, a Florence Salvador fez sua primeira ampliação em 2020, passando para 60 leitos e, em plena pandemia, colocou mais 15 leitos de UTI à disposição de pacientes que tinham saído das emergências de hospitais. Ainda este ano vai para a segunda ampliação que irá garantir 95 leitos em 2023. Parte dos recursos vem do Banco do Nordeste, e o restante do capital dos sócios que não retiram lucros, sempre reinvestindo no negócio para “crescer sem vender equity”.

Nos cinco primeiros anos, até 2021, o investimento na matriz atingiu R$ 40 milhões, com mais R$ 20 milhões de 2022.  Nste ano, as unidades de Salvador e do Recife devem faturar R$ 50 milhões e chegar a R$ 80 milhões em 2023. “Temos crescido 40% ao ano e vemos um grande potencial no Brasil para expansão do nicho dos cuidados de transição na saúde”, revela Andrade.

No planejamento, a meta é levar a Florence para outras capitais do Nordeste como Maceió, Aracaju e João Pessoa, e grandes cidades do interior, a exemplo de Caruaru, em Pernambuco; e Feira de Santana, na Bahia. Na terceira fase, a clínica pretende chegar às demais capitais do Nordeste e à Brasília e, a partir daí, ao resto do Brasil.

Sócios que se complementam: Matheus Munford, Lucas Andrade e Vijay Gosula – FOTO: Lucas Moreira

Modelo de transição médica em evolução

Antes de atrair os sócios Matheus Munford, engenheiro; e Vijay Gosula, sócio do escritório da Mackensie Company, em Salvador, para implantar este modelo no país, Lucas Andrade atuou como consultor médico em projetos no México, na Holanda, na Alemanha, no Reino Unido e na França. Trouxe na bagagem experiências em gestão baseada em indicadores apoiados em sistemas que norteiam todas as atividades de uma clínica. Da medicação dada aos pacientes ao Net Promoter Score (NPS), metodologia para medir a satisfação dos clientes. 

“Nosso percentual de indicação pelos usuários é de 90% e quando os pacientes morrem, o índice vai para 95%, revelando que, apesar do desfecho não desejado, a experiência dos familiares foi positiva”, declara o CEO. Os resultados, tidos como excelentes na graduação da metodologia NPS, se explicam, segundo ele, pelo alto nível de cuidados intensivos de médicos e equipe de enfermagem, alinhados ao olhar atento para detalhes como levar a cama ao jardim para o banho de sol do paciente, ou definir com ele e a família qual o melhor horário para o banho. A clínica não pode cobrar por isso mas pode receber o reconhecimento de que a atenção faz a diferença em situações muito complexas como a iminência da morte de um parente por um quadro clínico irreversível. 

“Somos um lugar com porta de saída. A passagem tem começo, meio e fim. Para aceitar um paciente avaliamos o caso sob vários aspectos e, 48 horas após a internação, fazemos uma reunião com os familiares onde avaliamos as condições de recuperação em casa após a reabilitação de cirurgias complexas, por exemplo, e apresentamos os prognósticos, mesmo que sejam os de tempo de vida restante”, explica Lucas Andrade. 

Para o CEO da Florence, o valor em saúde tem a ver com a experiência vivida pelo paciente ou familiares e a clínica, ao que parece, encontrou a fórmula para oferecer este valor e torná-lo rentável. “Se conseguirmos definir no Brasil a régua do negócio do cuidado de transição, vamos ter um grande legado”, prevê Andrade.

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