Indústria reduz produção por falta de matéria-prima em Pernambuco

A falta de matéria-prima ou o seu custo elevado está alterando a rotina das fábricas em Pernambuco e no Brasil.
O diretor financeiro da Fiepe e empresário Felipe Coelho fala que a falta de matéria-prima está fazendo uma parte da indústria produzir menos. Foto: Divulgação/Fiepe.

A matéria-prima continua em falta, aumentou de preço e está contribuindo para reduzir a produção da indústria nacional e pernambucana. Dos 25 setores que fazem parte da indústria de transformação, 22 têm na falta de matéria-prima ou no aumento do preço da mesma a principal preocupação, de acordo com a Nota Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicada em julho. Agora, um dos motivos que contribuiu para a falta da matéria-prima e o seu aumento de preço foi o lock down em Shangai, na China, que durou 65 dias, acabando em junho último.

“Uma mercadoria que sai de Shangai passa 50 dias para chegar em Suape. Este lock down de Shangai deixou parado 600 navios e está provocando um desabastecimento na indústria mundial”, diz o diretor financeiro da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Felipe Coelho. Ele tem uma empresa que fabrica produtos de limpeza, cosméticos e plásticos. “Reduzi um turno da produção por causa da falta de matéria-prima”, comenta. Isso resultou numa redução de 30% do quadro de funcionários da companhia que agora funciona apenas em um turno com um total de 60 trabalhadores.

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Antes da falta de insumos, a  fábrica estava trabalhando em dois turnos. “Todas as empresas deste segmento estão fazendo isso. Todas que compram matéria-prima vinda da China e da Índia estão com o mesmo problema”, afirma Felipe.

Não ocorreu só a falta da matéria-prima, mas também o aumento do preço destes insumos baseado num antigo princípio: o da oferta e da procura.  “Uma matéria-prima que a gente comprava por US$ 3,00 agora é vendida por US$ 4,50. É um aumento de 50% sem contar a pressão do dólar”, explica Felipe. Quando a cotação do dólar sobe em real, todos os que importam acabam pagando mais (em reais) pelo produto importado.

O lock down de Shangai também contribuiu para aumentar os custos com o frete. “O preço de um contêiner de 20 TEUs de Shangai para Suape custava US$ 2 mil. Agora, está custando US$ 10 mil. Só a logística sem contar o aumento dos insumos. Já são oito trimestres faltando matéria-prima”, desabafa Felipe. A falta de matéria-prima começou a ocorrer na indústria desde que aconteceram os primeiros lock downs na China como forma de evitar o contágio do coronavírus a partir de 2020.

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Segundo um levantamento feito pelo setor industrial, são mais de 400 itens usados como insumos da indústria que estão em falta atualmente, incluindo chips – muito usados pela indústria automobilística -, semicondutores, componentes eletrônicos, substâncias usadas na indústria farmacêutica, resina plástica, entre outros. “Em Pernambuco, dos 38 setores produtivos, 33 estão com o mesmo problema”, comenta Felipe. Localmente, os setores que mais sentem a falta de matéria-prima ou o aumento de preço da mesma são os de: metal-mecânica, plástico, produtos de limpeza e higiene pessoal, calçados, bebidas, alimentos, celulose e papel, entre outros.

Ainda de acordo com Felipe, a falta de matéria-prima vai reduzir o faturamento da empresa, mas as despesas fixas vão permanecer as mesmas, como o Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) mínimo, os funcionários do setor administrativo, entre outras. “Não posso planejar em cima de hipóteses e não sabemos de fato quando o fornecimento será regularizado. Os fornecedores dizem que estão sem previsão e suspenderam a venda de determinados insumos”, comenta Felipe.

O economista Jorge Jatobá explica que a pandemia provocou uma disrupção em várias cadeias produtivas que abasteciam as fábricas de vários países do mundo. Foto: Arthur de Souza/ME

A dependência de vários países da China

“Há uma enorme dependência de boa parte do mundo, incluindo o Brasil, da indústria chinesa com relação aos componentes eletrônicos, Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), entre outros. Primeiro, estes lock downs provocaram a escassez, o que resultou depois em aumento de preços. Não há produção suficiente para atender a demanda”, explica o economista e sócio-diretor da consultoria Ceplan, Jorge Jatobá.

A segunda consequência deste cenário, como argumenta Jatobá, é a disrupção das cadeias produtivas, “porque mesmo com o preço alto, faltam peças e componentes” porque os fornecedores não conseguem entregar estes materiais. “Boa parte da indústria se acostumou a trabalhar com just in time. Ou seja, estas matérias-primas iam chegando à medida que precisavam destes materiais na produção”, diz.

Segundo o economista, a regularização no fornecimento destas matérias-primas só vai ocorrer, quando as cadeias produtivas voltarem a funcionar sem interrupção num nível adequado a demanda. Isso é difícil porque a política de covid-zero da China provocou a decretação de vários lock dows desde 2020. “É por isso que atualmente está se pensando em diminuir a dependência não comprando (matérias-primas) de oligopólios instalados em determinados países. A globalização já vinha sendo questionada por ter fechado as fábricas em locais como Estados Unidos e a Europa”, diz Jatobá.

Agora, o que muitos economistas estão questionando é o fato de muitos países dependerem da produção, principalmente da China e da Índia para terem matérias-primas nas suas fábricas. Até antes da pandemia, o raciocínio da globalização era produzir as matérias-primas nos locais em que fossem mais barato para as empresas serem mais competitivas.

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