
O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) negou nesta terça-feira (10) ter participado de qualquer tentativa de golpe de Estado. Durante depoimento ao ao Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 2688 que apura a articulação de uma trama golpista após as eleições de 2022, Bolsonaro disse que não incentivou atos de ruptura institucional e classificou como “malucos” os apoiadores que acamparam em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
O ex-mandatário também mencionou que jamais defendeu a edição de um novo Ato Institucional semelhante ao AI-5 — medida de exceção adotada pelo regime militar em 1968. Segundo ele, esses temas eram propostos por manifestantes radicais, sem qualquer respaldo oficial. “Tinha maluco que queria AI-5, estado de sítio, e o pessoal que estava na frente dos quartéis, aquilo é coisa de maluco”, declarou.
Apesar de negar qualquer articulação golpista, Bolsonaro admitiu que discutiu “alternativas legais” com aliados próximos, especialmente após os ataques direcionados ao sistema eleitoral e à atuação do Supremo Tribunal Federal. “Conversávamos sobre cenários políticos, mas nunca se cogitou ruptura”, afirmou.
Investigações seguem no STF
O depoimento de Bolsonaro ocorre no contexto das investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que analisa o suposto envolvimento do ex-presidente e de aliados em uma tentativa de invalidar o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A apuração abrange documentos, reuniões e minutas apreendidas durante operações da Polícia Federal.
O inquérito inclui apurações sobre a reunião de 5 de julho de 2022 no Palácio do Planalto, na qual Bolsonaro e ministros militares debateram estratégias após reiteradas críticas ao processo eleitoral. Também são investigadas as ações posteriores aos acampamentos em frente a instalações militares, que precederam os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Estratégia de defesa
A defesa do ex-presidente tem reiterado que não houve qualquer instância oficial de planejamento de golpe. A repercussão de suas declarações, no entanto, gera impacto político no Partido Liberal, que tenta manter articulação com setores do Congresso e se posicionar como oposição institucional ao governo Lula.
A nova linha adotada por Bolsonaro — ao se distanciar dos atos mais radicais — reflete uma tentativa de preservar capital político diante das investigações e de eventuais sanções judiciais. Até o momento, o STF não determinou medidas cautelares contra o ex-presidente.
Braga Netto nega ter repassado dinheiro em sacola a Mauro Cid
O general Braga Netto negou nesta terça-feira (10) ter repassado a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, dinheiro dentro de uma sacola de vinho para que fosse entregue a militares que faziam parte do esquadrão de elite do Exército, chamados de “kids-pretos”.
Militar da reserva e vice na chapa de Bolsonaro em 2022, Braga Netto foi interrogado, por videoconferência, pelo ministro Alexandre de Moraes por ser um dos réus do Núcleo 1 da ação penal da trama golpista.
Ele está preso desde dezembro do ano passado sob a acusação de obstruir a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado e de tentar obter detalhes dos depoimentos de delação de Cid.
No início do depoimento, Braga Netto rebateu as acusações feitas ontem (9) durante interrogatório do ex-ajudante no STF. Cid disse que recebeu dinheiro dentro da sacola de vinho e que o recurso foi entregue pelo general. De acordo com as investigações, o dinheiro seria destinado ao financiamento das ações do plano golpista. “Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid”, afirmou.
Ex-ministro diz que alertou Bolsonaro sobre gravidade de golpe
O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira afirmou nesta terça-feira (10) que alertou Jair Bolsonaro sobre a gravidade da possibilidade de decretação de medidas golpistas no final do governo do ex-presidente, em 2022.
Nogueira, que é general do Exército, é um dos réus da ação penal da trama golpista e foi chamado para ser interrogado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
O general foi acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de endossar críticas ao sistema eleitoral, instigar a tentativa de golpe e de apresentar uma versão do decreto golpista para pedir apoio aos comandantes das Forças Armadas.
O ex-ministro confirmou a participação na reunião realizada pelo ex-presidente para apresentar estudos para decretação de medidas de estado de sítio para reverter o resultado das eleições, mas negou ter apresentado o documento.
Nogueira disse que alertou Bolsonaro sobre a gravidade da tentativa da golpe e que ele e o ex-comandante do Exército Freire Gomes saíram “preocupadíssimos” da reunião.
Ex-chefe do GSI, general nega envolvimento em suposto plano golpista
Réu na ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente da República Jair Bolsonaro no cargo e impedir que o então candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva fosse empossado, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno negou, nesta terça-feira (10), que tenha coordenado ações para disseminar informações falsas colocando em dúvida a legitimidade do sistema eleitoral e a inviolabilidade das urnas eletrônicas.
Ao exercer seu direito constitucional de permanecer calado, Heleno não respondeu às perguntas formuladas pelo relator da ação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Mas respondeu às questões de seu advogado, Matheus Mayer Milanez.
Durante o interrogatório, Heleno também negou ter coordenado ações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para produzir relatórios falsos. E garantiu nunca ter tratado de nenhum tema ilegal com Bolsonaro, comandantes militares ou membros da equipe de governo.
Segundo o ex-ministro do GSI, o teor de suas controversas declarações durante uma reunião com Bolsonaro e demais ministros, ocorrida e gravada em julho de 2022, foram interpretadas erroneamente.
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