
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu, em missão à China, o uso de reatores nucleares modulares (SMRs) como uma solução para os data centers se instalarem no Brasil e ter energia limpa. A energia nuclear é considerada limpa, porque não emite CO2 e o governo federal está preparando uma política para atrair data centers ao Brasil.
O setor de data centers é eletrointensivo, consumindo muita energia elétrica. Num primeiro momento, se acreditou que esta energia poderia ser gerada por renováveis, como eólicas ou plantas solares fotovoltaicas, principalmente no Nordeste. Falta de infraestrutura na rede elétrica e os cortes de geração feitos pelo ONS estão levando o setor de renováveis a produzir menos energia no Nordeste.
Em janeiro último, o Operador Nacional do Sistema (ONS) negou o parecer de garantia de energia futura a um grande data center que vai se instalar no Ceará. Isso ocorreu ,por vários motivos, incluindo a falta de infraestrutura da rede de transmissão de energia e reforços que não foram implementados.
“Vamos construir toda uma política para poder criar o ambiente para fazer essa energia se tornar uma energia vigorosa no Brasil”, afirmou o ministro Alexandre Silveira nesta segunda-feira (12), em entrevista coletiva, em Pequim, se referindo à energia nuclear.
A futura parceria do País seria com a estatal russa Tenex, subsidiária da Rosatom. Na semana passada, a empresa mostrou-se interessada em ampliar a sua atuação no Brasil, principalmente na exploração de urânio e lítio, minerais que fazem parte deste novo cenário da transição energética. O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio e é um dos seis maiores produtores de lítio.
Pequenos reatores vão produzir energia nuclear
De acordo com o ministro, a intenção é de que esse acordo avance para projetos de pequenos reatores nucleares que fazem parte do futuro da energia. “O Brasil com tanto investimento em eólica e solar, que são energias intermitentes, passa pela necessidade da estabilização do seu sistema. E como é que nós vamos fazer isso? Com as nossas térmicas, em especial, as nossas térmicas a urânio, que é um combustível que nós temos em abundância”, afirmou Silveira. Ele lembrou também de um grande data center da plataforma Tik Tok, no Ceará, que demandaria um investimento de R$ 50 bilhões.
Mesmo sendo uma energia limpa, quando ocorre um acidente, a energia nuclear é desastrosa para os seres humanos e o meio ambiente por muitos anos.
Tendência mundial: datas centers usarão energia nuclear
O diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) Carlos Mariz explicou que é uma tendência mundial os data centers se preparem para usar energia nuclear por causa da intermitência das renováveis, como eólica e solar. Para alimentar o seu data center, a Microsoft assinou um acordo de compra de energia de uma usina do complexo Three Mile Island, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Esta unidade estava desativada e foi palco de um grande acidente nuclear em 1979.
Já o Google fez uma parceria com a empresa Kairos Power para desenvolver de seis a sete reatores pequenos que produzirão energia para ser usada no seu data center e nas aplicações de Inteligência Artificial. O primeiro reator deve ficar pronto em 2030 e os demais entrarem em operação até 2035.
“A energia nuclear é 100% confiável, não flutua a frequência e tem continuidade, sendo a ideal para abastecer os data centers”, resume Mariz. No mundo, segundo ele, existem pelo menos 70 empresas desenvolvendo estes pequenos reatores nucleares e tanto a Rússia como a China dominam esta tecnologia.
“O que o Brasil tem que fazer é se organizar pra não dar de graça as jazidas de urânio e outros minerais que serão muito utilizados. O consumo de urânio vai crescer com a instalação de novas usinas nucleares. O Brasil tem que fechar o ciclo, transformando isso num projeto comercial”, comentou Mariz. Ele quis dizer que o País não pode exportar só o minério, mas tem que agregar valor. Ele acrescentou que somente a China está planejando construir 150 usinas nucleares nos próximos 15 anos.
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