
Em uma região marcada por desigualdades históricas, o Instituto Conceição Moura, sediado em Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco, vem se consolidando como referência em educação transformadora. O instituto surgiu com a missão de ampliar as oportunidades para crianças e adolescentes do município, por meio de projetos voltados ao fortalecimento da rede pública de ensino e melhoria do aprendizado.
A atuação do Instituto se distingue por unir formação docente, uso da tecnologia em sala de aula e envolvimento da comunidade escolar. O impacto das ações da organização pode ser medido por resultados concretos. Os estudantes Allysson Victor, Maria Fernanda e Emily são exemplos de jovens que tiveram suas histórias transformadas após participarem de projetos ou atividades realizadas pela organização, que tem sua sede no centro de Belo Jardim, a 185 km do Recife.
O estudante Allysson Victor saiu do Ibura, no Recife, para cursar Engenharia de Controle e Automação no campus de Belo Jardim da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). “Na faculdade, não tinha muito contato com programação, mas acabei fazendo um curso de arduíno no Instituto Conceição Moura”, lembra.
Allysson comenta que “as portas se abriram depois do curso de arduíno”. Foi lá que ele aprendeu a programar, a construir robôs e adquiriu conhecimentos de eletrônica básica. “E, sendo assim, conseguimos agregar bastante ao currículo, porque o arduíno, atualmente, é uma placa bastante utilizada na área educacional, sendo empregada na construção de vários tipos de robôs, independentemente da área”.
A experiência do curso fez com que ele redirecionasse sua carreira para essa área. Hoje, o estudante é monitor de robótica da instituição, dentro do projeto Jovens do Futuro. Uma participação como voluntário em Vila Nova, na Serra dos Ventos, uma comunidade em Belo Jardim, despertou em Allysson a intenção de ser professor. Agora, ele também participa das atividades de robótica da UFRPE.
Outra estudante que teve a vida impactada pela experiência com robótica foi Emily Audryn, que chegou a Belo Jardim em 2021 para cursar Engenharia Química na UFRPE. “O conhecimento de eletrônica e robótica trouxe uma transformação na minha vida. Foi o pontapé para pegar gosto por essa área que dá acesso a muitas possibilidades. Mudou o meu olhar e me despertou o interesse pela sala de aula”, resume. Ela atua como monitora voluntária nas turmas iniciais de robótica, compostas por alunos de 13 a 15 anos, no Instituto Conceição Moura.
Emily também participa como árbitra voluntária do evento BJ Bots Cup, um torneio de robótica que, este ano, terá sua terceira edição em Belo Jardim e é apoiado pelo Instituto Conceição Moura. A edição contará com 31 equipes das cidades do Recife, Belo Jardim e representantes dos estados de Alagoas e da Paraíba.
A estudante Maria Fernanda Santos diz que a robótica mudou sua vida. Ela lembra que estava um “pouco perdida”, e o curso de robótica fez com que percebesse a importância de focar nos estudos. Depois disso, concluiu um curso técnico. Atualmente, cursa Engenharia e atua como monitora do Instituto Conceição Moura. “Na robótica, voltei a sonhar novamente”, diz, acrescentando que pretende fazer uma especialização após concluir o curso superior.

Instituto foca suas ações em educação
Criado em 2014 por iniciativa da empresária Dona Conceição Moura, o instituto é o braço de responsabilidade social da empresa Baterias Moura. Dentro da estratégia ESG da empresa – que inclui iniciativas sustentáveis nas áreas de meio ambiente, social e governança –, a companhia decidiu concentrar suas ações sociais em educação. Isso incluiu desde o apoio a quatro escolas de tempo integral, em parceria com o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), até projetos que desenvolvam habilidades socioemocionais nos estudantes e reduzem a defasagem escolar, como Jovens do Futuro.
Além de robótica, o instituto oferece aulas de música e teatro para crianças e adolescentes da cidade. Quase ao lado da sede da organização, também no centro de Belo Jardim, funciona um cineteatro, com filmes exibidos também em atividades educativas e que integram o complexo, que se tornou um centro cultural da cidade, recebendo também exposições.
Em média, o instituto desenvolve cerca de 30 projetos por ano. Em mais de uma década de atuação, foram registradas 427 mil inscrições de jovens e adolescentes nos projetos. O apoio às quatro escolas de tempo integral beneficiou 1.687 alunos.

“O instituto trabalha em quatro frentes de atuação: Primeira Infância, Educação de Qualidade, Arte e Cultura, e Formação de Jovens. Nossas ações são pautadas para desenvolver as habilidades de vida desses jovens e crianças que participam do Instituto, mas também visando, cada vez mais, melhorar o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da cidade”, afirma a coordenadora executiva do Instituto Conceição Moura, Lorena Tenório.
A meta da organização é colocar Belo Jardim entre as 15 cidades com as melhores notas do Ideb em Pernambuco, trabalho iniciado em 2021. E já há uma evolução nesse sentido. A nota do Ideb subiu de 4,1 para 4,5 nos anos iniciais e de 3,8 para 4,6 nos anos finais, em 2024. “Ainda é um caminho longo para que a gente possa ficar entre os 15. Então, para que a gente possa transformar, nada mais importante do que a educação. É a partir da educação que a gente se transforma”, reforça Lorena.
A parceria com o ICE desenvolveu uma metodologia própria para as escolas de tempo integral em Belo Jardim. “O Instituto Conceição Moura, junto com o ICE, trabalha com toda a formação da equipe escolar. Desde a gestão, coordenação e também com a equipe administrativa. Isso traz essa visão formativa para a escola, de como preparar os estudantes para esse novo mundo, para novas realidades. A gente não consegue preparar um estudante para o século XXI se a equipe não estiver preparada também”, argumenta o gestor da Escola Municipal de Ensino Integral (EMEI) Antenor Vieira, Willians Silva.
Para ele, a principal diferença que a escola integral provoca no aluno é o comprometimento com o aprendizado, fazendo o jovem perceber que, por meio do estudo, pode alcançar seus sonhos. “Ele se compromete a aprender”, relata o gestor. E isso se reflete na nota do Ideb.
Hoje, Belo Jardim conta com três escolas integrais na zona urbana e uma na zona rural. “A gente também resolveu abraçar esse processo de construção de uma escola integral. Estamos erguendo uma escola com capacidade para atender aproximadamente 300 crianças e vamos entregar esse equipamento à cidade”, afirma Lorena.
Sesi investe R$ 38 milhões em escola em Belo Jardim
Belo Jardim vai ganhar mais um equipamento para melhorar a educação. Em parceria com a Baterias Moura, o Serviço Social da Indústria (Sesi) vai implantar uma escola de ensino básico no município. A Moura doou o terreno, e o Sesi Pernambuco (PE) e o Sesi Nacional investirão R$ 38 milhões na construção da unidade.
“A Moura é uma grande parceira do sistema da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe). Belo Jardim é um polo industrial forte no Agreste, tem muitos filhos de industriários e uma comunidade que precisa de um empreendimento deste tipo para formar mão de obra local. Serão 1.300 vagas, começando no primeiro ano do ensino básico até o terceiro ano do ensino médio”, explica a superintendente do Sesi-PE, Cláudia Cartaxo.
Os canteiros de obras já estão sendo implantados para o início da construção. Cláudia ressalta que a formação do Sesi é voltada para preparar os alunos para o mercado de trabalho. Ela destaca a robótica como um viés importante da educação, especialmente por estar presente no desenvolvimento de diversos processos, inclusive industriais.
A expectativa do Sesi-PE é concluir as obras em um prazo de 14 meses. A escola contará com laboratórios, área de convivência e “oferecerá o melhor da educação”, conclui Cláudia.
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