Ademilson Saraiva: Inflação – combustíveis e eletricidade seguem pressionando as famílias

Os brasileiros acompanham com grande preocupação a escalada do preço de combustíveis, em função de diversos fatores, desde o início de 2021: retomada da demanda global, elevação do preço do barril de petróleo bruto no mercado internacional, desvalorização do Real frente ao dólar e interesses mercadológicos da Petrobrás, são alguns deles. Com esses movimentos, o […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista
Economista fecomércio-PE
Ademilson Saraiva, economista – Foto: Maker Mídia

Os brasileiros acompanham com grande preocupação a escalada do preço de combustíveis, em função de diversos fatores, desde o início de 2021: retomada da demanda global, elevação do preço do barril de petróleo bruto no mercado internacional, desvalorização do Real frente ao dólar e interesses mercadológicos da Petrobrás, são alguns deles.

Com esses movimentos, o preço dos combustíveis veiculares, medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE), cresceu em média 49,0% em 2021.

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Este ano, a deflagração de guerra da Rússia contra a Ucrânia também contribuiu para turbinar o preço internacional do petróleo e, consequentemente, o valor dos combustíveis no mercado nacional.

É bem comum ouvir que se engana quem acredita que o preço dos combustíveis afeta apenas o bolso de quem dirige veículo particular. De fato, o preço dos combustíveis afeta também o custo do transporte público, impactando famílias de consumidores que dependem desse tipo de condução diariamente – para quem já é bem difícil conviver com o aumento geral dos preços no país.

Na prática, o efeito do preço do petróleo sobre os demais preços ao consumidor vai bem além dos transportes, por influenciar os custos logísticos em diversas cadeias produtivas, de alimentos a serviços. Sua difusão chega a todos os setores, à toda a população.

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Mas, da porta para dentro, é inegável que o aumento geral do nível de preços ao consumidor, que foi de 10,1% em 2021, vem atrapalhando mais, relativamente, a vida das famílias de mais baixa renda – aquelas cujo principal meio de deslocamento é o péssimo e caro transporte público.

Entre os preços que mais avançaram no último ano, o da alimentação e o aluguel são os que mais pesam sobre a despesa familiar, sobretudo nas faixas de renda menos abastadas. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar 2018 (POF/IBGE), esses pesos são de 14,2% e 15,1%, respectivamente, alcançando 22,0% e 20,5% nas faixas de renda familiar de até dois salários mínimos. Em 2021, esses itens registraram elevação substancial de preços: 8,2% e 7,0%, respectivamente.

Porém, embora tenham um peso menor no orçamento familiar, foram os aumentos no custo da energia elétrica residencial e dos combustíveis domésticos que mais saltaram aos olhos no ano passado.

O gás doméstico, segundo a POF, pesa em média 0,8% no gasto mensal das famílias brasileiras, mas alcança 2,2% no estrato de renda até 2 salários mínimos. A reboque do aumento nos preços de combustíveis, o IPCA registrou um avanço de 37,0% nos preços desse componente em 2021.

A energia elétrica residencial, por sua vez, compõe 2,5% dos gastos mensais, mas na faixa de renda mais baixa se eleva para 4,4%. Em 2021, o IPCA computou um crescimento de 21,2% no preço da energia aos consumidores domésticos.

No caso da energia, como o de combustíveis, também um conjunto de fatores são considerados relevantes para o avanço substancial de preços repassados às famílias no período recente. Mas, enquanto no caso dos combustíveis eles estão mais diretamente relacionados à estrutura do mercado e à conjuntura internacional, os problemas no setor elétrico estão fortemente relacionados à combinação entre o clima (falta de chuvas) e a infraestrutura (matriz energética).

Em síntese, o alerta de colapso dos reservatórios das hidrelétricas em meados de 2020, por escassez de chuvas, levando à necessidade de aumento emergencial de produção via termelétricas, encareceu o custo da distribuição, acionando mudanças na bandeira tarifária de cobrança aos consumidores, além de medidas de socorro financeiro ao setor.

A má gestão da Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre o volume dos reservatórios versus acionamento tardio das hidrelétricas (amenizando o impacto abrupto no curto prazo), bem como a dependência da matriz energética brasileira, também entram na pauta dos recentes problemas no setor de geração de energia elétrica.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há um ano os reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) operavam em cerca de 42% do volume útil de águas, e chegaram a pouco mais de dois terços (66%) em fevereiro de 2022.

Entretanto, mesmo com a melhoria do volume útil de água nos reservatórios, a Aneel vê a possibilidade de ajustes de, no mínimo, dois dígitos este ano. Entre outros motivos, estão os preços de combustíveis utilizados nas usinas termelétricas e nucleares e o ajuste de contratos do setor pelo IGP-M, além da conta de socorro ao setor, que fechou em aproximadamente R$ 70 bilhões em 2021 e será repassada aos consumidores, em até cinco anos, embutidas nos encargos nas faturas mensais.

Nesse contexto, além dos combustíveis, a energia elétrica deve seguir pressionando a inflação esse ano, somando-se às diversas dificuldades já enfrentadas pelas famílias brasileiras, que esperavam ansiosas por melhores notícias em 2022.

Ademilson Saraiva é economista, sócio da Ceplan Consultoria Econômica e economista da Fecomércio-PE

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