A infraestrutura digital avança no Nordeste, especialmente em Fortaleza, depois de solucionado o impasse em torno da usina do apagão da internet (Praia do Futuro). Coincidência ou não, a Scala lança, nessa terça-feira (25), a pedra fundamental do seu data center na capital cearense. O evento acontece 15 dias após o governador Elmano de Freitas alterar a localização da planta de dessalinização. O investimento no centro de processamento é de R$ 1 bilhão e o número de empregos que serão gerados na obra também chama a atenção: 700.
Outro player que se movimenta nesse mercado é a Angola Cables, sediada em Luanda. Com o fim da polêmica sobre a usina de tratamento de água que supostamente iria desconectar o Brasil dos cabos submarinos da web, a multinacional promete acelerar as obras de implantação do seu segundo data center em Fortaleza.
Mas não é só no Ceará que a infraestrutura digital vem crescendo. Em Recife, que tem um dos maiores polos de inovação do país – o Porto Digital – a Um Telecom acaba de divulgar que nesse 2º semestre começa a construção do seu primeiro data center comercial, no bairro do Curado.
O presidente da Associação Brasileira de Data Centers, Gustavo Moraes, acompanha com otimismo a descentralização desse segmento da infraestrutura digital no país.
“O crescimento do setor no Norte e Nordeste é uma condição essencial para o mercado cresça no Brasil”, avalia. “Essa é uma indústria que vai fazer bastante diferença nessas regiões. Hoje, ainda está muito concentrada no Sudeste”, ressalta.
Infraestrutura de TI: o que é o projeto da Scala?
A planta em Fortaleza da Scala Data Centers é o primeiro empreendimento da companhia no Nordeste. Fica localizada na Praia do Futuro e vai se chamar SFORPF01. O início da construção terá a presença do CEO e cofundador, Marcos Peigo, e do vice-presidente sênior de Desenvolvimento Corporativo, Luciano Fialho, além do prefeito José Sarto.
O projeto prevê implantação de dois edifícios e uma subestação de energia. O primeiro terá uma área de 9,7 mil metros quadrados e o segundo, de 10 mil m². Esses prédios vão abrigar data halls, salas elétricas, áreas técnicas e de apoio.
Para garantir o funcionamento ininterrupto exigido de um centro de processamento de dados, o complexo – que vai empregar 60 profissionais na operação – irá contar com uma subestação própria (675 m²) e geradores de energia.
Scala programa investir US$ 3,5 bi na América Latina
O investimento da Scala no Ceará integra um plano de US$ 3,5 bilhões até 2027 na América Latina, dos quais a maior parte no Brasil. O programa ambicioso visa tornar a companhia o maior player do setor nos países latino-americanos.
A empresa surgiu da venda da UOL Diveo – braço do ecossistema de conteúdo UOL – para o fundo norte-americano Digital Colony, em 2020.
Quatro anos depois da transação, a Scala – sediada em Barueri (SP) – já detém nove data centers em funcionamento no país e um no Chile.
Angola Cables acelera projeto de infraestrutura digital
A segunda planta de infraestrutura digital da Angola Cables no Ceará, localizada na Praia do Futuro, está com as obras a todo vapor, segundo declaração recente de Guilherme Vieira, líder comercial da TelCables Brasil, empresa que representa a empresa africana no Brasil.
O comentário foi divulgado poucos dias depois de Elmano de Freitas transferir pela segunda vez a unidade de dessalinização da discórdia com o setor de telecom. O empreendimento foi relocado para um terreno a 1 km da área anteriormente planejada.
O data center da Angola Cables, com investimento estimado em US$ 50 milhões, tem conclusão prevista para o primeiro semestre de 2026. Mas uma das etapas do empreendimento deve entrar em operação já em 2025. De acordo com Guilherme Vieira, a unidade será a maior da companhia, que passará a ter cinco centros de processamento de dados.
Os clientes na mira da empresa com esse data center são os do nicho OTT (over the top), plataformas que distribuem conteúdo diretamente para o usuário final, como Netflix, Globoplay, HBO Go, Hulu, Disney+, HBO Max e PlayPlus, da Record.
Um Telecom amplia negócios na infraestrutura digital
A pernambucana Um Telecom já está consolidada na área de infraestrutura digital, no segmento de redes de fibra ótica de alta velocidade. A companhia presta serviços para as maiores operadoras de telecom em todo o Brasil e vem expandindo a atuação no setor público, graças ao crescimento das soluções de e-gov.
Esse mercado, no entanto, ficou pequeno para o CEO Rui Gomes, que decidiu ampliar o negócio e entrar no setor de data centers.
O empresário está de olho, claro, na demanda por armazenamento de dados que será gerada, no segmento corporativo, devido ao uso crescente da inteligência artificial generativa.
Diante dessa oportunidade de bilhões, em 2022, Rui Gomes anunciou o data center próprio da Um Telecom, orçado em R$ 40 milhões na 1ª fase e R$ 150 milhões totais.
Rui deu mais um passo semana passada, quando revelou o prazo para entrada em operação do empreendimento, localizado no Parque Tecnológico de Recife (Parqtel): dezembro de 2025.
Também marcou um golaço com a captação de um financiamento, de R$ 41 milhões, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A operação foi divulgada pelo próprio presidente do BNDES, Aloísio Mercadante.
Rui Gomes detalha que o empreendimento será planejado e executado com certificação internacional Tier 3. A classificação é concedida exclusivamente pelo Uptime Institute, sediado em Nova York.
Essa chancela atesta que o data center oferece, em nível máximo, tempo de disponibilidade, redundância (back up de equipamentos) e segurança, seguindo padrões internacionais.
Sem modéstia, Rui Gomes diz ainda que seu objetivo é “transformar Pernambuco em hub de dados”. Com isso, o CEO promete uma disputa com seus concorrentes do Ceará, já que Fortaleza abriga hoje o maior cluster do segmento no Nordeste. Essa briga promete.
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