Fortaleza é atualmente um dos maiores hubs de conectividade do mundo e um dos polos mais importantes de data centers do país. O potencial do Nordeste em infraestrutura de TI, no entanto, é muito maior. O avanço da IA generativa, por exemplo, vai aumentar em nível exponencial a demanda por armazenamento de dados no mercado nacional. Esse movimento já está gerando mais investimentos na região. No Ceará, a Scala inicia, este ano, a implantação de um projeto de R$ 1 bilhão. Já em Pernambuco, a Surfix vai aportar R$ 520 milhões num plano de expansão nacional, enquanto a Um Telecom prevê destinar R$ 150 milhões a sua base no Recife.
No caso da Scala, o empreendimento será localizado na Praia do Futuro. O projeto contempla um centro de processamento de dados com dois prédios. Está prevista também a construção de uma subestação própria de energia.
Data centers: Scala quer dominar a América Latina
O investimento da Scala no Ceará integra um plano de US$ 3,5 bilhões até 2027 na América Latina, dos quais a maior parte no Brasil. O programa ambicioso visa tornar a companhia o maior player do setor nos países latino-americanos.
A empresa surgiu da venda da UOL Diveo – braço do ecossistema de conteúdo UOL – para o fundo norte-americano Digital Colony, em 2020.
Quatro anos depois da transação, a Scala já detém nove data centers em funcionamento no país. São quatro em Barueri (SP) – onde fica a sede global do negócio – e os demais localizados em São Paulo, Campinas, São João do Merity (RJ) e Porto Alegre (RS). A unidade gaúcha, a mais recente, foi inagurada em dezembro passado. No Chile, a companhia conta com um empreendimento em Cuauma.
“Presenciamos um rendimento notável da indústria de data centers nos países sul-americanos. O mercado experimentou um crescimento significativo impulsionado pela demanda crescente de serviços em nuvem, transformação digital e inteligência artificial [generativa]”, afirma o VP de Desenvolvimento de Negócios e Experiência do Cliente, Cleber Braz.
“A região se converteu em foco estratégico para investimentos em infraestrutura de TI, refletindo a busca de soluções tecnológicas eficientes e escaláveis”, acrescenta.
Sobre a necessidade de um incremento sem precedentes no armazenamento de dados, decorrente do uso cada vez maior de soluções com aplicação de inteligência artificial de segunda geração, o executivo destaca que “essa tendência se apresenta com desafios e também oportunidades”.
Praia do Futuro muito além do sol e mar
O interesse da Scala pela Praia do Futuro se insere num contexto estratégico bem mais amplo do balneário e do Nordeste, considerando a localização. Dezessete cabos submarinos, com seis mil quilômetros de extensão e responsáveis por 99% do tráfego de dados dos brasileiros, chegam à localidade a partir da União Europeia, num ponto geográfico que é o mais próximo entre o Brasil e o continente europeu. Oito gigantes do setor são donos dessa infraestrutura.
Para se ter ideia da dimensão atual desse cluster, o hub de conectividade do Ceará é o segundo maior do mundo, atrás apenas de Fujeira, nos Emirados Árabes Unidos.
Com isso, alguns dos maiores data centers do país também estão instalados nessa área. Entre os players com unidades no balneário estão Ascenty, Angola Cables, Telxius e V.tal e todos confirmam estudar a possibilidade de novos investimentos para ampliação de suas bases em Fortaleza.
Data centers: tem espaço para empresas regionais?
Apesar do setor de tecnologia ser cada vez mais oligopolizado, no ramo de data centers tem espaço para empresas regionais e não apenas para gigantes como a Scala. Essa é a visão da Surfix, sedidada no Recife e que está há 20 anos nesse mercado. De olho no boom de IA e internet das coisas (IoT), o negócio lançou um plano de expansão nacional.
O primeiro passo foi um reposicionamento da base localizada no Recife. Trata-se do único data center corporativo instalado no estado. Foram investidos R$ 5 milhões para que a planta recebesse a certificação internacional Tier III. A chancela reconhece a segurança da central de processamento de dados em conformidade com padrões globais e avaliza que o equipamento oferece disponibilidade máxima (o tempo máximo de indisponibilidade tolerado é de 1,6 hora por ano).
Mas, o plano estratégico da empresa mira algo bem maior. A Surfix quer implantar data centers nas capitais não apenas do Nordeste, mas de todo o país, num prazo de 10 anos. O funding está em fase de estruturação e inclui desde uma parceria com uma multinacional do setor – mantida sob reserva – até um financiamento via bancos de fomento que atuem na área de tecnologia.
O diretor de Relações Institucionais e Marketing, Dárcio Macêdo Filho, ressalta que o modelo a ser adotado na expansão visa instalar uma rede de data centers de médio porte, localizados próximos dos mercados consumidores, ao invés de concentrar os serviços numa base de grandes dimensões, porém distante dos clientes.
O objetivo é permitir o menor tempo de latência, requisito de eficiência fundamental para IA e IoT. Isso, porque quanto maior a distância física entre o data center e o cliente, mais tempo (latência) é necessário para que um dado seja transferido de um ponto a outro de uma conexão.
Recife nos planos da HostDime e Um Telecom
Além da Surfix, a HostDime é outro player que já está presente no mercado nordestino de data centers e quer expandir as atividades para outras cidades da região. Sediada na Flórida, a companhia tem negócios em sete países e bases em Orlando (EUA), São Paulo e João Pessoa (PB), onde fica sua principal operação no Brasil. O próximo passo em estudo, na região, é a abertura de uma filial no Recife.
Outra companhia que colocou a capital pernambucana nos seus planos é a operadora nacional Um Telecom. A empresa tem um projeto – em fase de licenciamento – para construir um data center Tier III próximo ao limite da cidade com Olinda, numa área conhecida como Parque Tecnológico de Eletroeletrônicos e Tecnologias Associadas de Pernambuco. Estão programados aportes de R$150 milhões em três fases, a serem implementadas ao longo de 10 anos.
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