Saiba por que Hemobras, com 2 blocos inaugurados por Lula em 2024, seguirá inacabada

Idealizada como âncora de um polo farmacêutico e de biotecnologia em Pernambuco, Hemobrás tem histórico de descumprimento de prazos e chuva de dinheiro
Hemobras: Lula virá a Pernambuco duas vezes em 2024 para inauguração de áreas do complexo fabril
Projeto do Governo Lula 1, a Hemobrás terá grande impacto econômico e tecnológico para Pernambuco, mas enfrenta problemas como atrasos e corrupção/Foto: Ricardo Stuckert (PR)

Catorze anos após o início da construção, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), localizada em Goiana (Grande Recife), finalmente terá uma de suas principais etapas inauguradas na tarde desta quinta-feira (4). A fita do Bloco 7, destinado à fabricação de biotecnológicos como o Fator VIII Recombinante, será cortada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que criou a estatal em 2005, no seu primeiro mandato.

Ainda em 2024, o presidente pretende retornar à planta industrial para a ativação de uma outra área da empresa, voltada à produção de hemoderivados. Quem anuncia o prazo é a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que participou de entrevista coletiva nesta quarta-feira (3), no Recife, para detalhar a evolução do empreendimento.

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Orçado em R$ 1,4 bilhão na concepção da Hemobrás, o projeto tinha consumido R$ 1,1 bilhão até 2023, mas seguirá inacabado mesmo com duas inaugurações em sequência. Isso porque o planejamento atual prevê a conclusão das obras apenas em 2025, se não houver novo ajuste no cronograma.

A implantação do parque sofreu atrasos sucessivos desde o princípio. O canteiro acabou paralisado em 2016, quando os trabalhos foram suspensos, em virtude do cancelamento do contrato de construção, pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O órgão de fiscalização comprovou irregularidades que vinham sendo investigadas pela Polícia Federal desde 2015. Em meio a esse escândalo, o então presidente Rômulo Maciel Filho – que morreu em 2028 – protagonizou um dos episódios mais surreais da História do Brasil.

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Com a chegada dos agentes da PF ao prédio onde morava, no centro do Recife, o executivo entrou em desespero e jogou, da sua janela, centenas de maços de dinheiro de corrupção. A “chuva de dinheiro” atraiu uma multidão às ruas próximas, numa disputa insana pela cédulas, que viralizou em escala global.

Hemobrás começa internalização do Fator VIII

Quanto ao Bloco 7, a unidade deverá suprir, até 2026, toda a demanda nacional do Fator VIII Recombinante, medicamento fundamental para o tratamento de portadores de hemofilia do tipo A, pois auxilia na coagulação sanguínea, proporcionando qualidade de vida a esse público.

Obtido a partir de engenharia genética, o produto atualmente é importado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A demanda é de 1,2 bilhão de unidades/ano para atendimento a 12 milhões de pessoas no país.

A internalização, em fase de autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vai barater o preço médio que o SUS paga pela substância em 30% e gerar receita para a Hemobrás.

A transferência de tecnologia se dará por meio de uma parceria público-privada com a multinacional japonesa Takeda, uma das líderes mundiais do setor farmacêutico. A nacionalização vai acontecer de forma escalonada, com a substituição progressiva de insumos importados até o nível de 100% entre 2025 e 2026.

A ministra da Saúde estima para os próximos meses o sinal verde da Anvisa para a fase inicial do processo. Essa previsão, se concretizada, vai permitir que as primeiras remessas de Fator VIII fabricado parcialmente no Brasil saiam da Hemobrás até setembro.

Os planos do ministério para o longo prazo são mais ambiciosos. Nísia Trindade quer transformar o país de importador em exportador do medicamento. “Certamente, no futuro, a gente poderá estar beneficiando pessoas com o mesmo problema em outros países, dentro da linha de cooperação que o Brasil faz em termos de uma saúde global”, afirma.

Hemobrás: diante do histórico conturbado da empresa, Nísia Trindade defende o caráter estratégico do empreendimento para o país e o Nordeste
Nísia Trindade defende a Hemobrás como o maior projeto de biotecnologia em implantação no Nordeste/Foto: Júlia Prado (Ministério da Saúde)

Bloco 7 da Hemobrás não é só Fator VIII

Além do Hemo-8R – sigla técnica do Fator VIII – serão produzidos nessa mesma área da Hemobras outros biotecnológicos. A nacionalização dessas substâncias faz parte de uma iniciativa do Ministério da Saúde, o Projeto Buriti, cujo quartel-general vai funcionar no Bloco 7, batizado como Fábrica de Recombinantes.

A biotecnologia, um dos braços de atuação da estatal, é uma área do conhecimento que utiliza sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos, visando uma utilização específica, em escala industrial.

A outra divisão da empresa é voltada para hemoderivados – substâncias geradas a partir do fracionamento do plasma de seres humanos. Fazem parte dessa categoria a albumina e as imunoglobulinas, entre outros medicamentos.

Ministra defende caráter estratégico da Hemobrás

Idealizado para tornar o Brasil autossuficiente em hemoderivados e para ser âncora de um polo farmacêutico em Pernambuco, a Hemobrás tem seu caráter estratégico para o país e o Nordeste defendido por Nísia Trindrade.

“Nós não podemos ser dependentes de produtos que são tão especiais em várias situações de problemas de saúde, desde doenças raras, como é o caso da hemofilia, até problemas de queimaduras”, sustenta.

“Do ponto de vista econômico, [a nacionalização] significa autonomia frente a medicamentos essenciais, domínio de uma tecnologia e capacidade de expansão [desse know how] até para novas aplicações, além da redução de custos”, acrescenta.

A economia estimada para o país com a substituição de importações que será viabilizada pela estatal é calculada, pelo Governo Federal, em US$ 200 milhões por ano.

No aspecto regional, a ministra frisa que “esse é o maior empreendimento de biotecnologia no Nordeste brasileiro“, ressaltando que a escolha de Goiana para abrigar o complexo fabril teve impactos como a transformação “de uma área predominantemente canavieira [no passado] em um espaço de produção de conhecimento”.

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