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Redes sociais entre o personalismo dos gestores e perfis oficiais insossos

Governadora Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos, apostam em redes sociais pessoais mais leves para potencializar imagem, ao invés das perfis oficiais sisudos
Raquel Lyra e João Campos são ativos nas redes sociais pessoais Fotos: Reprodução do Instagram

Márcio Didier

Esqueçam os santinhos estáticos, distribuídos em larga escala durante os eventos políticos, como caminhadas, e invariavelmente vão parar nas ruas e entupindo as galerias quando chove. A cada eleição, a política vem se tornando dependente da internet. A política moderna virou refém do marketing político, e os gestores viraram praticamente prisioneiros das redes sociais.

Não há fórmula pronta para conquistar destaque nos apps de relacionamento. Mas cada vez mais o personalismo tem sido o caminho escolhido pelos gestores para amplificar o trabalho da gestão, muitas vezes em detrimento dos perfis oficiais estáticos e sem muitos atrativos.

Possíveis adversários em 2026, a governadora Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos, têm se transformado praticamente em digitais influencers, na busca de cada vez mais humanizar as suas redes sociais. O objetivo, claro, é colher a simpatia do eleitor.

Com a reeleição para disputar em outubro, desde o início deste ano, o prefeito do Recife, João Campos, turbinou o seu perfil oficial.  Saiu de 1,1 milhão de seguidores no Instagram, em janeiro, para 2,4 milhões, atualmente. Uma ideia de “nevar” o cabelo foi ganhando corpo, aumentando a expectativa das pessoas, até que na quinta-feira que antecedeu o Carnaval, o prefeito colocou um vídeo em que aparece com os cabelos descoloridos.

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Crescimento rápido

Ganhou de cara 500 mil seguidores. Menos de uma semana depois, na Quarta-Feira de Cinzas, já ostentava o número de 2,1 milhões de seguidores. A estratégia foi certeira para o marketing pessoal de João Campos, mas acabou ofuscando a completamente a abertura do Carnaval do Recife, que tinha como atração principal um dos principais nomes da música brasileira: Gilberto Gil.

O perfil de João Campos é dinâmico. Praticamente todas as postagens são vídeos bem editados, que misturam uma ação do dia a dia, como tiradas bem-humoradas, dança do passinho, prática de esportes ou se alimentando com uma ação da prefeitura. Já o perfil oficial da Prefeitura do Recife, com 496 mil seguidores no Instagram, é bem estático, com fotos e cards na maioria dos posts.

Críticas nas redes

Essa forma mais descontraída de se apresentar nas redes às vezes também serve de munição para a oposição. Em um post na sua rede social, o deputado estadual Alberto Feitosa (PL) utiliza vários vídeos em que o prefeito aparece dançando o passinho do brega para criticar a sua gestão.

“Jornal do Comércio: Recife é a segunda capital mais desigual. O prefeito dança o Recife dança. CBN: Recife aparece como a segunda pior no mapa da desigualdade entre as capitais do Brasil. O prefeito dança, o recifense cansa…”, provoca um narrador com uma voz grave e por vezes debochada, e o vídeo é finalizado com a frase: “Chega da tanta incompetência”.

Raquel e a tapioca nos EUA

A governadora Raquel Lyra também é bem ativa nas redes oficiais. Perto de chegar ao seu primeiro milhão de seguidores (hoje tem 995 mil), ela tem apostando cada vez mais na forma espontânea de comunicação nas redes sociais. Uma rápida visita ao feed dela, é possível ver vários vídeos com a governadora comendo entre uma agenda e outra, apresentando os feitos da sua gestão ou em agendas institucionais.

Sempre buscando reforçar a sua relação com Pernambuco em suas redes, um episódio levou a governadora a ser criticada nos corredores da Assembleia. No último sábado (6), ao chegar em Boston (EUA) para participar do Brazil Conference, Raquel postou um vídeo em que pede uma tapioca no hotel americano.

Assim como a Prefeitura do Recife, o feed do Governo do Estado no Instagram, que conta com 418 mil seguidores, é estático, bem diferente da página da governadora.

Exigência dos tempos

Jornalista, sociólogo, mestre e doutor em Ciência Política, com pós-doutorado em Comunicação, o professor Juliano Domingues acompanha a movimentação nas redes sociais dos atores da política. Ele afirma que essa postura é natural, numa época cada vez mais conectada.

“É uma espécie de exigência dos tempos atuais na disputa pela atenção das pessoas. Isso porque políticos são, por essência, influenciadores – ou, ao menos, tentam ser. No ambiente digital, é esperado que eles também usem ferramentas dessa natureza para conquistar a atenção do público, como parte do plano de atingir seus objetivos, sobretudo, eleitorais”, destaca Juliano Domingues.

Ele acrescenta para grande parte dos políticos, que não têm acesso aos meios de comunicação, as redes sociais são a principal forma de mostrar o que está fazendo. “As redes sociais digitais representam, para muitos, o principal recurso de comunicação direta entre o político e seu eleitorado – ou potencial eleitorado – porque é lá onde está boa parte dos eleitores. A tentativa de virar influencer é parte, portanto, da estratégia para ampliar a capacidade de capturar essa atenção e, em momento posterior, de receber votos”, explica o professor.

Perfis oficiais ofuscados

Apesar de necessário, o uso das redes pessoais ofusca os canais oficiais de comunicação, na opinião de Domingues, mas ele acrescenta que isso não é sem motivo.

“Tende a ofuscar (a comunicação oficial), mas isso não ocorre por acaso. Um famoso teórico da comunicação escreveu que “o meio é a mensagem”. Isso vale para o contexto atual. No ambiente das redes sociais (o meio), a regra é a comunicação de viés pessoal (a mensagem). E essa superexposição tende a, predominantemente, se reverter em benefício ao indivíduo. A ideia de gestão, de coletivo, fica em segundo plano de maneira intencional – afinal, quem disputa voto, ganha e perde eleição é, mais do que nunca, o indivíduo”, avalia o doutor em comunicação.

Professor Juliano Domingues afirma que mesmo com críticas a superexposição é positiva Foto: Divulgação

Apesar de essa superexposição atrair críticas, Juliano Domingues avalia que as publicações acaba sendo positiva para a imagem dos gestores.

“(Atrai críticas) sim. Mas os potenciais benefícios costumam ser maiores do que eventuais riscos. Enveredar por esse caminho é algo sedutor”, avaliou o pós-doutor em comunicação.

Justiça eleitoral e as redes sociais

A questão de focar mais nas redes sociais do gestor do que na dos canais oficiais vai além de reverter em votos a popularidade do gestor. A legislação eleitoral vigente proíbe que todos os meios de comunicação oficiais utilizem a imagem do governante nos três meses que antecedem a eleição. E mais. Todas as imagens e vídeos do gestor existentes na página também precisam ser apagadas.

Especialista em direito eleitoral, o advogado Bruno Brennand afirma que no período eleitoral as redes pessoais não sofrem qualquer tipo de vedação e podem continuar sendo usadas sem qualquer problema.

“Pode ser o mesmo perfil pessoal e pode, inclusive, ser impulsionado, durante a campanha. Pode até usar fotos ou imagens feitas pela gestão que estão em domínio público, como Flickr, ou já publicadas em outros meios”, destaca Brennand.

No caso da governadora Raquel Lyra, que não vai disputar eleições este ano, ele explica que ela pode usar fotos dos políticos que apoia. Só há um porém em relação a um eventual impulsionamento do post: “Nesse caso, se o perfil dela fizer impulsionamento deve entrar como doação não estimável em dinheiro para o candidato que aparecer na postagem”, finaliza Bruno Brennand

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