Por Vanessa Siqueira, de Alagoas
Alagoas ainda caminha na contramão do Nordeste quando o assunto é produção de energia eólica. Mas uma das maiores empresas de produção de energias renováveis, a Casa dos Ventos, protocolou um pedido para implantar um parque eólico no município de Mata Grande, localizado no Alto Sertão do estado.
De acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), o processo de licença prévia ainda será analisado por uma comissão do Conselho Estadual de Proteção Ambiental (Cepram) e passará por todo o trâmite necessário até que seja concedida ou não a licença para operação em Alagoas.
O processo ainda envolve Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), onde também está previsto a realização de audiência pública para ouvir a população a respeito da instalação do empreendimento na cidade de Mata Grande.
Ainda de acordo com o IMA, o pedido da Casa dos Ventos é para a instalação do Complexo Eólico Mata Grande, composto por 40 aerogeradores com potência de 264 megawatts (mW).
Mata Grande fica localizado a 86 quilômetros de Paulo Afonso, na Bahia, e está distante cerca de 290 quilômetros da capital alagoana.
Pela cidade, a notícia da instalação de um parque eólico ainda é novidade. Algumas pessoas não acreditam que haja de fato tal instalação, mas o servidor público Charles Caboclo acredita em desenvolvimento e geração de emprego e renda para famílias locais.
“Acredito que seria um avanço para nossa cidade, com geração de empregos e renda para algumas pessoas na cidade. Vai ser uma grande revolução para nossa região, já que é produção de energia renovável, limpa, gerada através do vento”, disse.
Casa dos Ventos e suas operações no Nordeste
O Balanço Energético Nacional 2023, produzido pelo Ministério de Minas e Energia, aponta que os estados da Bahia e Rio Grande do Norte são os líderes regionais de capacidade instalada de energia eólica no país, com uma produção na casa dos 6.800 mW no ano de 2022.
Dentre os complexos em operação na região, a Casa dos Ventos possui quatro em operação, sendo dois na Bahia, nos municípios de Campo Formoso – que possui capacidade instalada de 151 mW, e nos municípios de Morro do Chapéu e de Várzea Nova, com capacidade de 360 mW.
Os demais complexos estão situados no Rio Grande do Norte. O de Umari, que compreende os municípios de Monte das Gameleiras, São José do Campestre e Serra de São Bento possui capacidade instalada de 202,5 mW.
O complexo Rio do Vento compreende os municípios São Tomé, Lajes, Caiçara do Rio do Vento, Riachuelo, Ruy Barbosa e Bento Fernandes e possui capacidade de operação de 1.038 mW.
Governo Lula vai investir R$ 3 bi em Alagoas e Sergipe
Durante a assinatura da Medida Provisória (MP) no dia 9 abril, que garantirá investimentos em energias renováveis, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Padilha, falou que o presidente Lula pretende investir R$ 165 bilhões para construção de empreendimentos de energia renováveis no país.
Sem detalhar valores exatos, o ministro disse que serão destinados aos estados de Alagoas e Sergipe a quantia de R$ 3 bilhões e que a estimativa é que cinco mil empregos sejam gerados.
“Em Pernambuco, a governadora Raquel Lyra me apresentou investimentos já aprovados em torno de R$ 9 bilhões e mais de 20 mil empregos em energia eólica e solar. A energia limpa e renovável no Brasil não vai faltar. O futuro é verde e o Brasil já vestiu a camisa. Estamos liderando as políticas de transição energética, tanto no vetor da sustentabilidade como na nova economia, assim como o estímulo ao etanol, que trabalhou para descarbonizar a matriz de transportes e fortalecer a agricultura familiar e a produção agrícola do país”, afirmou o ministro Alexandre Silveira.
Para a secretária de Estado do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços de Alagoas (Sedics) Alice Beltrão, a medida fortalece as ações coordenadas pela Sedics. “Alagoas tem ampla rede de distribuição de energia elétrica. Somos líder Norte-Nordeste e 6° nacional em produção de biomassa de cana-de-açúcar. A gente tem um potencial muito grande”, afirmou.
Ainda segundo a secretária, a Sedics tem articulado junto à iniciativa privada apoio em projetos para descarbonização de Alagoas. “Estamos buscando atrair investimentos para energia solar, eólica, o uso do gás natural e biomassa, impulsionados pelos incentivos do Prodesin, buscando, cada vez mais, o desenvolvimento sustentável alagoano”, explica Alice.
Apesar da grande corrida e de recentes anúncios de investimentos para produção de hidrogênio verde no Rio Grande do Norte, Alagoas ainda não captou empresas interessadas em produzir o combustível no estado.
Hidrogênio verde fora da pauta
Tanto o Ministério de Minas e Energia quanto o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas informaram que ainda não há perspectiva para a produção deste tipo de energia em Alagoas.
Estudos apontam que o Nordeste já tem potencial de 107 gigawatts para produção, o que transformaria a região em um polo mundial dessa fonte de energia. Por exemplo, o bioma da Caatinga tem um dos papéis mais relevantes para o desenvolvimento da economia verde, tanto no processo de descarbonização, quanto para o desenvolvimento de uma nova cadeia de valor.
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