Cosméticos veganos: conheça 3 indústrias de PE

Mercado de cosméticos veganos está uma beleza e pode atingir faturamento de US$ 21 bi até 2027. Em Pernambuco, três empresas adotam estratégias de olho em oportunidades neste setor que não para de crescer

Impulsionada principalmente pelos consumidores millenials, a indústria de cosméticos veganos já fatura em nível global US$ 15 bilhões/ano, receita que tem previsão de atingir US$ 21 bilhões até 2027, segundo pesquisa recente da empresa de business inteligence MarketGlass. De olho nesse potencial, três empresas de Pernambuco – Yes! Cosmetics, Rishon e a estreante Cooates – se movimentam para atender à demanda crescente e, claro, fazer bons negócios.

Fundada em 2000, a Yes! tem fábrica em São Paulo e sede no Recife. No final da década passada, a companhia se deparou com questionamentos cada vez mais frequentes dos consumidores sobre testes em seres vivos e uso de matérias-primas de origem animal. As perguntas vinham tanto por meio das lojas físicas, quanto dos canais digitais.

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Confrontada, a empresa realizou um trabalho de inteligência de mercado para entender esse movimento dos clientes (sobretudo os aspectos comportamentais e geracionais) e as transformações que estão acontecendo no setor em todo o mundo. Com base nos resultados, decidiu, em 2019, se reposicionar e se tornar uma marca 100% vegana.

“Tivemos que nos adaptar”, conta o CEO da companhia, Cândido Espinheira. “Nunca fizemos testes em animais. Mas, tínhamos alguns componentes que eram de origem animal e foram progressivamente substituídos. Este ano, atingimos a meta de 100% de uso de insumos de origem vegetal”, detalha. 

CEO Cândido Espinheira diz que objetivo da Yes! é liderar a indústria de cosméticos veganos no país
Sem medo da Natura: Cândido Espinheira afirma que a Yes! trabalha para liderar o setor de cosméticos veganos no Brasil/Foto: Léo Caldas (Yes!)

Yes! atinge meta de 100% de cosméticos veganos

Agora, todos os 300 produtos da empresa têm selo vegano e cruelty free – nesse segundo caso para reforçar, para o cliente, este valor que está no DNA da marca. Além disso, as formulações são livres de parabeno e triclosan, conservantes altamente agressivos e associados a casos de câncer.

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“Reconhecemos que uma parcela cada vez maior dos consumidores exige opções sustentáveis, saudáveis e que não utilizam animais na pesquisa e desenvolvimento ou qualquer etapa de produção. Buscamos atender a essas expectativas e criar uma conexão com esse cliente”, detalha o empresário, que comanda uma cadeia com 120 unidades franqueadas em todo o Brasil.

Sobre os planos para o futuro, Cândido Espinheira afirma, sem modéstia e sem medo da poderosa Natura, que a Yes! trabalha para estar no topo da indústria de cosméticos veganos no Brasil. “Não vamos medir esforços para sermos líderes nesse processo de transformação“, avisa.

Para Marcelle Sultanum (Rishon), maior desafio é atender às exigências de desempenho dos cosméticos veganos em relação aos tradicionais
Marcelle Sultanum revela desafios, no mercado brasileiro de cosméticos veganos, para conciliar exigências de sustentabilidade e desempenho/Foto: Rishon (Divulgação)

Rishon entrou no mercado de cosméticos veganos em 2017

Sediada no Recife, a Rishon está em operação desde 1986 e começou a exportar em 2011. Em 2017, impactada pelas discussões realizadas na Cosmoprof Bologna (Itália) – maior feira do setor no mundo – a companhia decidiu aproveitar as oportunidades no mercado promissor do veganismo.

“O movimento estava se consolidando de forma significativa na Europa, e decidimos aproveitar essa chance”, diz a presidente Marcelle Sultanum. A estratégia escolhida, no entanto, difere do reposicionamento da Yes!.

A Rishon optou por manter produtos de origem animal no mix, mas produzir em paralelo linhas com formulação 100% vegetal. Atualmente, há 22 produtos desse tipo no catálogo, incluindo itens para cabelos cacheados, crescimento capilar, alisamento e remoção de esmaltes.

Nesse encerramento de 2023, os cosméticos veganos devem representar 15% das vendas da Rishon e a empresa se esforça para incrementar essa participação nos próximos cinco anos.

“A tendência é que a consumidora brasileira, assim como vem acontecendo na União Europeia, migre cada vez mais para produtos orgânicos, veganos, cruelty free, enfim, sustentáveis em todos os aspectos. Porém, essa transição vem se mostrando desafiadora em nosso país, porque a clientela nacional também é muito exigente em relação à eficácia dos cosméticos”, analisa a empresária.

“Precisamos de cuidados redobrados para garantir a essa consumidora que os cosméticos veganos tenham a mesma performance que os de origem animal e isso requer muito empenho de nossa área de desenvolvimento”, acrescenta. “Mas estamos confiantes. Continuaremos a inovar para atender à mudança de padrões de comportamento e consumo”, garante.

Cosméticos veganos em modelo de cooperativa

A Cooperativa Agrícola de Assistência Técnica e Serviços (Cooates) tem 24 anos. Já nasceu com uma cultura ambientalmente correta – produzindo mel e própolis – e de desenvolvimento sustentável, ao integrar modelo cooperativado, impacto social e respeito à fauna e flora. Agora, expande a atuação ao entrar no mercado de biocosméticos e biomedicamentos.

O projeto contempla a construção de uma unidade fabril, localizada no município de Barreiros (Zona da Mata Norte) e instalada no cazarão principal da Usina Central Barreiros, desativada em 1996. Esse detalhe torna a iniciativa bastante simbólica das transformações que vêm ocorrendo na região canavieira do estado, seja pela modernização de empresas sucroenergéticas ou pelo surgimento de novas atividades.

Também é emblemático o fato de uma empresa vegana estar situada numa antiga unidade de produção do agronegócio.

O investimento inicial neste projeto é de R$ 1,3 milhão, sendo R$ 850 mil de capital próprio. Selecionada por meio de edital, a cooperativa obteve um financiamento de R$ 450 mil da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) para fechar a equação financeira.

O empreendimento avança agora nas tratativas para iniciar a produção em setembro de 2024 – o licenciamento pela Vigilância Sanitária nacional e estadual já foi concluído – e na aceleração das obras da planta, 70% concluída.

Concebida para reforçar o posicionamento da Cooates para um mercado atento a todos os aspectos de sustentabilidade, a unidade está sendo implementada com materiais e tecnologias sustentáveis. Foi escolhido o sistema de construção a seco (sem uso de água), baseado na substituição de cimento e tijolos por steel frame (estruturas metálicas e placas de gesso).

O presidente da Coates visitou a ministra Luciana Santos para apresentar a expansão da Cooates
José Cláudio da Silva em visita à ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) para apresentação do projeto de expansão da Cooates/Foto: Coates (Facebook)

Cooates terá marca própria de biocosméticos

Esse cuidado com os aspectos ambientais será transversal também em toda a cadeia e processo produtivo. Para garantir o controle máximo, a cooperativa vai atuar em todas as etapas de produção, desde a o plantio das mudas para cultivo e extração de bioinsumos. Num viveiro florestal, serão cultivadas 15 espécies oriundas dos biomas da Mata Atlântica e manguezal, entre elas aroeira pimenteira, junco, copaíba, mutamba e jatobá.

Os óleos essenciais extraídos serão destinados aos três negócios principais da Cooates. Um deles é a fabricação sob marca própria – a Vale do Una – de perfumes, cremes, maquiagens e outros itens de higiene pessoal e beleza. Todas as formulações serão veganas, sem uso de substâncias químicas agressivas e sem estabilizadores artificiais.

A outra fonte de receita será a venda de insumos para a indústria de cosméticos e farmacêutica. A Cooates mira não apenas o mercado interno, mas também a possibilidade de exportação, já que o Brasil é um fornecedor importante deste segmento. Além disso, a Cooates terá sua própria linha de biomedicamentos.

O presidente da cooperativa, José Cláudio da Silva, estima que esse mix de negócios vai gerar, até 2028, uma receita anual de R$ 1 milhão.

“O sucesso financeiro, no entanto está longe de ser nossa única motivação”, ressalta José Cláudio. “Claro que precisamos ser viáveis economicamente e remunerar nossos cooperativados. Mas temos um propósito, que é fortalecer a bioeconomia, por meio de um projeto ecologicamente correto”, detalha.

Segundo ele, um dos pilares organizacionais do grupo é contribuir para a preservação do rio Una, que corta a região e atravessas três biomas ricos e ameaçados: caatinga, mata e mangue. “Queremos dar um exemplo de geração de renda para a comunidade local e de atividade produtiva em que o homem, ao invés de explorar, está integrado ao meio ambiente”, conclui.

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