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Falta de energia gera prejuízos e multas a empresas em Pernambuco

Em Porto de Galinhas, gerente de restaurante jogou 80 kg de peixe no lixo após apagão nos últimos dias. No Porto Digital, entidades se mobilizam contra Neoenergia
serviço de energia
Serviço de energia é alvo de críticas/Foto: Neoenergia / Divulgação

As constantes quedas no fornecimento de energia estão gerando problemas em polos econômicos importantes de Pernambuco. Do Litoral ao Sertão, são muitas as queixas e relatos de prejuízos. Num dos principais centros de negócios do Estado, o ecossistema de tecnologia do Porto Digital, os prejuízos se acumulam, assim como no polo turístico de Porto de Galinhas, onde as reclamações se avolumam.

“A situação está ficando insustentável”, reclama Gerino Xavier, presidente do Seprope, o Sindicato das Empresas de Processamento de Dados do Estado de Pernambuco. A gota d’água foi o último apagão ocorrido no Bairro do Recife, na terça-feira (16), que deixou as empresas sem energia por várias horas. Os Museus Paço do Frevo e Caixa Cultural, sediados no bairro, comunicaram em suas redes sociais que estariam fechados devido à instabilidade no serviço.

Naquele dia, os representantes das associações Softex, Assespro e Seprope se reuniram para decidir como agir diante das falhas da Neoenergia. Isso porque os danos não envolvem apenas equipamentos, eles atingem o faturamento das empresas, que estão se vendo obrigadas a pagar multas pela suspensão no fornecimento dos serviços que prestam aos clientes. “Essa deficiência põe em risco os próprios contratos”, ressalta Xavier.

Gerino Xavier
Gerino Xavier, presidente do Seporpe/Foto: divulgação

Diante da situação, as entidades pediram aos associados que apontem seus prejuízos. “O ecossistema tem diversas empresas com prestação de serviço 7 a 24 (sete dias por 24 horas) e qualquer queda de energia gera interrupção no atendimento”, reclama.

“É um absurdo que o maior e melhor ecossistema de inovação do país viva numa ambiência dessa, com falhas constantes no fornecimento de energia”, reclama o empresário, Ítalo Nogueira, CEO da Mexx, sediada no Porto Digital.  

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“Se a conversa com a Neoenergia não trouxer solução para as falhas no fornecimento de energia, vamos oficializar o problema junto a Aneel” diz Xavier, sem descartar judicializar a questão.

Peixe vai pro lixo

Em Porto de Galinhas, o problema também tem sido recorrente, segundo empresários. No último domingo, na área central da cidade, a energia caiu por volta de 01h00 da manhã e só voltou quase 24 horas depois.  Na última terça-feira (16), nova interrupção no serviço. O gerente do restaurante Manguetown, Danilo Freitas, chegou a gravar um vídeo jogando fora 80 kg de peixe estragado.

Beto Kelner
Beto Kelner: sem energia e sem acesso à sua galeria/Foto: divulgação

“Nós ligamos para a Neoenergia e não conseguimos falar devido à alta demanda por solicitações de reparos”, reclama Danilo. Ele perdeu peixes, sorvetes, freezer e teve sua câmara de maturação danificada com a perda de uma placa queimada. “Só com peixes o prejuízo foi de quase R$ 10 mil, sem falar no que deixei de faturar por não abrir a casa no domingo e na terça”, reclama.

Com uma galaria no centro de Porto de Galinhas, o artista plástico e designer Beto Kelner disse que teve perdas estimadas e R$ 10 mil com a falta de energia no domingo. “Quando chegamos para abrir às 14h, não havia energia. A porta é elétrica e não conseguimos entrar. Fiquei com meus funcionários na rua, até anoitecer, esperando resolver. A energia só voltou após 18h. “O problema é recorrente. Na semana passada, faltou na área em que moro. Perdi um ar condicionado”, reclama Marcos Kelner, sócio na galeria Gatos de Ruas.

Gerente do restaurante Manguetown, Danilo Freitas, se desfaz dos peixes

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABHI), Eduardo Cavalcanti, diz que o setor hoteleiro de Porto de Galinhas não sentiu os efeitos do problema porque tem gerador. Mas os hotéis têm sido impactados pelos constantes protestos dos moradores de Nossa Senhora do Ó, que bloqueiam a via de acesso ao balneário reclamando de falhas no serviço, segundo Cavalcanti.

 O problema se repete por todo estado e levaram a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) a criar um grupo de trabalho para cobrar o cumprimento de indicadores de qualidade previstos no contrato da Neoenergia, após audiência pública sobre o tema realizada no dia 9 de abril.

Neoenergia nega problema estrutural

Na ocasião, a Neoenergia reconheceu que teve “um primeiro trimestre ruim”, com 39% a mais de ocorrências de quedas de energia em relação ao mesmo período de 2023. A razão decorre do aumento de 200% no número de descargas atmosféricas e de 52% no volume de chuvas, além da má qualidade da rede que compõe os ativos da empresa, que tem pouca proteção.

A empresa assegura que a falta de energia não é uma questão estrutural, mas episódios isolados. Leonardo Moura, superintendente de operações da empresa, assegura que no Porto Digital só houve dois episódios recentes: um no dia 13 de abril e outro dia 16. Ele afirma, porém, que na área podem haver oscilações de tensão devido à transferência de carga no sistema, assim como ocorrem episódios menores, isolados, em instalações de clientes. Segundo ele, o orçamento para combater os sinistros este ano supera os R$ 800 milhões do ano passado. A verba será destinada a substituições de condutores, ampliação do potencial de subestações, instalação de equipamentos automatizados para recompor o sistema, entre outros.

A crise é ampla

O problema não se restringe a Pernambuco. Em São Paulo, em meio a uma crise de imagem decorrente das inúmeras interrupções no sistema, a Enel anunciou na última terça-feira (16) um plano para investir R$ 6,2 bilhões visando reforçar o serviço prestado em São Paulo.

No Rio Grande do Sul, a crise pegou a concessionária CEEE Equatorial no começo do mês. Após a tempestade do dia 21 de março, a falta de energia elétrica foi de quase duas semanas em municípios na Região Sul do estado, atingido 1,3 mil clientes.

O que está acontecendo?

A percepção do consumidor pernambucano que está faltando mais energia está alinhada com o que está acontecendo no País inteiro, segundo o conselheiro da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Fernando Teixeirense. Ele afirma que a entidade está pedindo uma revisão dos índices que indicam a qualidade do serviço elétrico elaborados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Os principais índices que indicam a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras são o DEC – que mede a duração da interrupção –  e o FEC, que mostra a frequência em que ocorreu a interrupção do serviço. “Há um consenso que o DEC e o FEC precisam ser revistos. Eles não contam quando a queda de energia é menor do que três minutos”, comenta Fernando, acrescentando que três minutos sem o serviço pode não impactar o funcionamento de uma casa, mas traz muitos prejuízos às indústrias e aos prestadores de serviços de TI, por exemplo.

Fernando lembra também que o governo federal e as agências devem cobrar investimentos do setor para que o serviço melhore. “A energia é um serviço complexo e tomamos conhecimento de que a Aneel tem um déficit de 40% de funcionários, o que nos surpreendeu”, conta. A agência é quem fiscaliza todos os investimentos de todas as distribuidoras que atuam no País.

Ele diz também que as oscilações do sistema elétrico – que às vezes resultam em falta de energia – ocorrem também porque está entrando muita energia gerada por empreendimentos eólicos e solares. “Isso tem trazido dificuldades operacionais ao sistema elétrico brasileiro, acostumado a operar com mais energia sendo produzida pelas hidrelétricas e térmicas. O sistema não pode ter mais ou menos energia. Tem que ter a quantidade exata que está sendo consumida”, argumenta.

*Colaborou Ângela Fernanda Belfort

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