Descarbonização: Brasil pode atrair US$ 7 trilhões em H2V, a maior parte no NE

Abihv quer aprovar o marco regulatório do hidrogênio verde ainda neste semestre, já que muitas decisões de investimento das empresas em descarbonização vão acontecer em 2024 e a Unigel prevê começar a produzir H2V até dezembro, na Bahia.
Nordeste tem grande oportunidade da descarbonização devido a ZPEs e energias renováveis, destaca Fernanda Delgado
Descarbonização: Fernanda Delgado destaca vantagens competitivas do Nordeste no H2V, como ZPEs e energia limpa/Foto: Abihv (Divulgação)

A descarbonização global da economia traz a oportunidade para o Brasil atrair, até 2050, US$ 7 trilhões em investimentos no combustível que será fundamental para a transição energética: o H2V. A maior parte desse capital deverá ser direcionada ao Nordeste. A projeção é da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde, que vem cumprindo agenda exaustiva de articulações nos setores privado e público para a aprovação do marco regulatório do setor ainda neste semestre.

Em 2024, essa é a principal meta da associação. A tramitação e aprovação do marco legal são consideradas essenciais para que as dezenas de memorandos e protocolos de intenções já assinados para implantação de projetos de H2V no Brasil se tornem de fato decisões de investimento no curto e médio prazos.

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O arcabouço do setor, sintetizado no projeto de lei 5.816/2023, foi aprovado em dezembro passado, pela Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde do Senado. O PL também cria o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC). Faltam ainda a aprovação final da matéria e a sanção do presidente Lula.

Investidores à espera da regulação

“Temos muitos associados da Abihv que formalizaram o interesse na implantação de projetos de H2V em vários estados e que vão tomar a decisão final sobre a implementação dessas unidades este ano”, adverte a diretora-executiva da entidade, Fernanda Delgado.

“Além disso, há unidades que já estão em construção, como é o caso da Ecohydrogen Energy, em Camaçari, com previsão de início da produção até dezembro”, frisa.

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“Então, trabalhamos para que, no máximo, na primeira metade do ano, sejam aprovados, no Congresso Nacional, os instrumentos legais que vão nortear essa indústria e garantir segurança jurídica a esses negócios”, complementa.

A regulação também é fundamental para que, no longo prazo, o país atinja o patamar visado pela Abihv: ser a principal plataforma de desenvolvimento, produção e comercialização de H2V em todo o mundo, aproveitando o potencial para a geração de energia limpa, fundamental para viabilizar a indústria do hidrogênio verde.

É nesse esforço em que estão empenhados os associados da Abihv, que reúne pesos-pesado como Siemens Energy, Thyssenkrupp, Voltalia, Fortescue, Eletrobras, Comerc Energia, European Energy, Air Products, Messer e Yara, entre outros gigantes de diversos segmentos da área energética.

NE tem condições de protagonizar descarbonização?

Embora haja memorandos e protocolos de intenção de H2V firmados em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, o Nordeste é a região mais agressiva e com vantagens competitivas que a habilitam a captar a maior parte dos investimentos no setor, como reconhece a Abihv.

Fernanda Delgado destaca que “o Nordeste reúne condições muito boas e muito importantes na indústria do H2V por causa, entre outros fatores, das ZPEs [zonas de processamento de exportações], da oferta de energia limpa, particulamente solar e eólica, e da localização estratégica em relação à Europa“.

“Tudo isso contribui para que maioria dos projetos anunciados ou em estudo estejam localizados nos estados nordestinos”, frisa.

Consideradas zonas primárias para realização do controle aduaneiro, as ZPEs terão papel de destaque na integração da futura cadeia de H2V do país com o mercado internacional, pois são áreas de livre comércio com o exterior, destinadas à instalação de empresas que produzem bens voltados à exportação.

No Nordeste, já estão em operação as ZPEs do Pecém (CE), Ilhéus (BA) e Parnaíba (PI). Pernambuco tem uma ZPE aprovada, desde 2011, em Jaboatão dos Guararapes (Grande Recife), na área de influência do Porto de Suape. Foi a primeira criada no país, mas não entrou em funcionamento até agora. Esse cenário deve mudar com a flexibilização da legislação no segmento.

Com a mudança, que aconteceu em 2021, foi derrubada a exigência de que 80% da produção das indústrias instaladas nesse tipo de zona fossem destinados à exportação. Com isso, as empresas localizadas em ZPEs puderam passar a produzir livremente tanto para exportação (com suspensão de impostos) como para o mercado interno (com tributação).

Outro fator que deve contribuir para destravar a ZPE Suape é exatamente o cenário promissor da descarbonização, já que o Porto de Suape quer abrigar um dos maiores hubs de H2V do Brasil e a zona de processamento de exportação pernambucana teria nesse panorama uma grande oportunidade.

Descarbonização: Porto do Pecém é o mais agressivo no Nordeste na articulação de projetos de H2V
Pecém, com localização estratégica em relação à Europa, é uma das principais armas do Ceará na guerra por investimentos da descarbonização/Foto: Complexo do Pecém (Divulgação)

Energia limpa como diferencial na descarbonização

Os investimentos em energias renováveis garantem um diferencial para colocar o Nordeste em posição privilegiada para atração de negócios de H2V, pois o hidrogênio só pode ser classificado como verde se utilizar geração 100% limpa.

A região responde atualmente por 90% de toda a geração eólica e solar do país. Para se ter uma ideia do ritmo de crescimento do setor no Nordeste, a Bahia ativou, apenas em 2023, 74 novos empreendimentos solares e eólicos, que totalizam potência outorgada de 2,5 gigawatts (GW) e aportes de US$ 2,6 bilhões.

Até 2029, a capacidade outorgada total no estado tem previsão de atingir 17,8 GW, com a implantação de novos complexos, orçados em R$ 71,4 bilhões, segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico. Já o Rio Grande do Norte, líder nacional do setor, acrescentou 2,2 GW a sua capacidade eólica no ano passado.

A energia limpa na região deve ganhar ainda mais tração caso saia do papel o projeto da Petrobras para implantar 10 usinas eólicas offshore no país, das quais sete no Nordeste. Estão em fase de licenciamento no Ibama três áreas no Rio Grande do Norte, três no Ceará e uma no Maranhão.

Rnest terá papel central na estratégia de descarbonização da Petrobras
Lula e Prates querem protagonismo da Rnest na descarbonização da Petrobras/Foto: Ricardo Stuckert (Presidência)

Rnest será estratégica para descarbonização da Petrobras

Há poucas semanas, o Nordeste ganhou um reforço na guerra do H2V que não era esperado. Os presidentes da República, Luís Inácio Lula da Silva, e da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmaram, na retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima (PE), que a unidade, localizada em Suape, terá papel central na descarbonização da companhia e vai produzir H2V.

Não foram informados detalhes sobre investimento nesse projeto, capacidade ou prazos. Mas Lula chegou a dizer que a Petrobras será a maior produtora e consumidora de hidrogênio verde do Brasil.

“O que o presidente Lula diz faz todo o sentido, pois a Petrobras consome 500 mil toneladas de hidrogênio cinza apenas para os processos de limpeza do óleo”, contextualiza Fernanda Delgado.

“É uma escala muito grande e qualquer indução de demanda de H2V, para substituir o hidrogênio cinza, que venha da petroleira já alavanca boa parte da indústria de H2V”, avalia.

A executiva, no entanto, pondera, que entre as falas entusiasmadas de Lula e a decisão de investimento da Petrobras existe um longo caminho e espera para ver se, de fato, a companhia vai entrar na cadeia do H2V no médio prazo quando isso estiver formalizado em seu plano estratégico.

Cenário para o H2V no Brasil (até 2050)/Fonte: Abihv

  • US$ 7 trilhões em investimentos
  • R$ 693 bilhões em impostos
  • 52 projetos já anunciados

Principais projetos já divulgados

Hub do H2V

  • Empreendedores: bp, Fortescue,  Energyx Energy, AES Brasil, Fortescue, Linde, Qair, Voltalia, TransHydrogen Aliance, Eren do Brasil, Casa dos Ventos, Engie, EDP Renováveis, White Martins, Mitsui, entre outros
  • Investimento: US$ 30 bi
  • Localização: Porto do Pecém (CE)/ZPE Ceará

Cluster de H2V e amônia verde

  • Empreendedores: Solatio e Green Energy Park, entre outros
  • Investimento: US$ 20 bi
  • Localização:  Porto de Luís Correia/ZPE Parnaíba (PI)

Hub de H2V do Açu

  • Empreendedores: Siemens Energy, bp, Fortescue, Prumo, Neoenergia, entre outros
  • Investimento: US$ 3 bi
  • Localização: Porto de Açu (RJ)

Ecohydrogen Energy

  • Empreendedor: Unigel
  • Investimento: US$ 1,5 bi
  • Localização: Camaçari (BA)

Rnest

  • Empreendedor: Petrobras
  • Investimento: Não revelado
  • Localização: Porto de Suape (PE)

TecHub Hidrogênio Verde

  • Parceiros: CTG Brasil, Senai, Governo de Pernambuco
  • Investimentos: US$ 19 mi
  • Localização: Porto de Suape (PE)

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