Valéria Saturnino: Propostas à redução do endividamento das famílias brasileiras

Neste artigo, a Doutora em Finanças, Valéria Saturnino, faz sugestões para as famílias reduzirem o endividamento
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Um assunto muito importante como este não pode ser falado apenas uma vez: de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) divulgada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), referente ao mês de junho deste ano, 77,3% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo 86,6% destas com dívidas no cartão de crédito.

Valéria Saturnino, Doutora em Finanças

Em época de juros altos devido ao aumento regular da Selic para controle da inflação, permanecer com dívidas no cartão de crédito pode ser mais prejudicial do que renegociar toda a dívida. Segundo o Banco Central, no Brasil, as taxas de juros do rotativo do cartão de crédito dos principais bancos e instituições de pagamento digitais variam de 109% ao ano (Banco Inter) até 700% no mesmo período (Banco PAN).

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Já de acordo com a mesma instituição, as taxas de juros do empréstimo consignado público variam de 15% a 93% ao ano, sendo a máxima nesta modalidade um percentual menor que a mais baixa das taxas do rotativo do cartão de crédito. Até mesmo o cheque especial tem taxas de juros mais baratas que o cartão de crédito, variando de 18,73% ao ano até 171,15% no mesmo período.

Se os brasileiros estão precisando de crédito, por qual motivo continuam se endividando em uma das formas mais caras no nosso país? Provavelmente porque o cartão de crédito é uma das ferramentas de crédito mais acessíveis e difundidas no país, muitas vezes sendo ofertado pelas operadoras com um limite inicial baixo sem análise de crédito. Entretanto, com o passar do tempo e com os pagamentos em dia, os limites vão aumentando, na maioria das vezes de forma descoordenada e sem que o titular do cartão tenha condições de pagá-lo.

Então qual a solução possível? Uma proposta viável que sempre é apresentada em termos de educação financeira é a troca de dívidas mais caras por dívidas mais baratas em termos de juros. Sendo o crédito consignado e o empréstimo pessoal as ferramentas de crédito com as menores taxas de juros do país, é interessante analisar o valor global do endividamento da família e quitar todas as dívidas através de um crédito em uma dessas modalidades, restando a pagar apenas uma parcela fixa, que talvez possa ser descontada automaticamente do salário, tal como é feito com o consignado direto em folha.

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Primeiramente, é essencial fazer um levantamento global do endividamento da família, calculando todos os saldos de quitação, inclusive com os descontos aplicáveis pela antecipação de parcelas diversas. Depois, dentre as alternativas de crédito disponíveis, escolher aquela que tenha a menor taxa de juros, o maior prazo (para reduzir o valor da parcela) e que comporte a dívida global é um caminho interessante para trazer folga financeira ao orçamento, ficando com uma parcela única de todas as dívidas a pagar.

Por fim, o mais importante de tudo é procurar reduzir os gastos fixos, de forma a juntar dinheiro para antecipar a quitação desta dívida, juntamente com uso de rendas extras (férias, 13º salário) para saldar parte do saldo devedor, e obviamente não fazer novas dívidas. Se for necessário, quebre e cancele todos os cartões de crédito e passe a ter um limite de gastos a serem feitos à vista para contas diversas.

Famílias endividadas implicam em famílias que não poupam (no sentido de investir), reduzindo os fundos de recursos disponíveis no banco à expansão do setor empresarial e do consequentemente crescimento econômico. Está tudo interligado, cada um de nós somos responsáveis pela economia do nosso país. Vamos dar adeus às dívidas e investir cada vez mais.

Valéria Saturnino é Doutora em Finanças, Professora da UFPB e Consultora Associada da CEPLAN Consultoria Econômica e Planejamento

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