Inflação estoura teto em 2022 e Boletim Focus eleva estimativa do IPCA para 2023

Caso a projeção se confirme, o Brasil terá três anos seguidos de estouro da meta da inflação
Alimentos e bebidas foram alguns dos que mais pressionaram a inflação em 2022. Foto: Freepik

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), nesta terça-feira (10), que registrou alta acumulada de 5,79% ao longo do ano passado, ultrapassando a meta – que era de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5%) ou para baixo (2%) – e as expectativas do mercado, mensuradas a partir do Boletim Focus, do Banco Central.

O índice desacelerou se comparado a 2021, quando houve alta de 10,06%, devido à redução do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre os combustíveis. Mas não foi o suficiente para que o patamar dos preços deixasse de pressionar o bolso do consumidor.  

- Publicidade -

Segurar a carestia, portanto, será um desafio para o governo que se inicia neste ano pretendendo restabelecer programas de distribuição de renda, visto que a alta prevista pelo boletim Focus para o acumulado de 2023 subiu de 5,31% para 5,36%.

Vilões da inflação

A cebola é um dos subitens que mais puxou a inflação para cima. Foto: Pixabay

De acordo com André Morais, presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco (Corecon – PE), muito dessa alta nos preços ainda se deve à retomada do setor de serviços, bastante afetado na pandemia. Ele aponta, por exemplo, as passagens aéreas, com alta de 23,53%, e hospedagem, que subiu 18,21%”. 

Ele explica que alguns grupos com peso maior no cálculo do IPCA ajudaram a puxar a inflação acima da meta. “Alimentos e bebidas, por exemplo, teve alta de 11,64%; saúde e cuidados pessoais, alta de 11,43%; e vestuário acumulou alta de 18,02%, respectivamente. Por outro lado, o segundo grupo que mais pesa no cálculo, o de transportes, teve uma queda de -1,29%”. 

- Publicidade -

A alimentação fora de casa teve uma elevação acentuada devido ao forte aumento nos preços de alimentos considerados básicos, como cebola (130,52%); inhame (62,96%), batata inglesa (51,92%); farinha de mandioca (38,56%); e o feijão-carioca (27,77%). Já no grupo dos transportes, tivemos uma alta de 32,02% no seguro de automóvel e 22,59% nos emplacamentos e licenças.    

O cenário, para Morais, é de incertezas. “Dois destaques que ainda preocupam e que deverão ser o centro das atenções, é em relação ao aumento dos gastos do governo e como ficará a questão da desoneração dos combustíveis”, diz o presidente do Corecon.

Cézar Andrade, economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), também aponta a escassez de matéria-prima, detectada pela Sondagem Industrial realizada pela FIEPE, como a maior desafio enfrentado pelos empresários da indústria. 

“A dificuldade em encontrar os insumos e as matérias-primas encarece os fatores de produção e o peso desse preço cai no produto final. Outro fator foi o choque de alta no preço das commodities, agravada pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia, que pressionou o IPCA para cima. Nesse período, foi visto um aumento no preço do petróleo e, consequentemente, também dos combustíveis. Como nosso modal é praticamente todo rodoviário, o preço do frete subiu e isso também encarece o produto final. Temos também a escassez de fertilizantes, escassez de trigo, produzidos nos países em conflito, que afetou também os preços dos alimentos no Brasil”, explicou Cézar, que avalia o cenário como “preocupante”.

De olho no futuro

O economista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Sandro Prado, explica que em 2022 a inflação só não foi ainda maior porque o Banco Central “calibrou, de forma até exagerada, a taxa de juros Selic para 13,75% ao ano, o que contribuiu para a que a taxa não superasse os dois dígitos, como aconteceu em 2021”. 

O professor lembra que nos quatro anos do governo Bolsonaro, a inflação superou o teto da meta e em 2022, além dos alimentos e bebidas, a saúde e o vestuário também tiveram fortes aumentos. Ele afirma que, para 2023, a previsão é que, com políticas “mais sólidas” do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, as safras de produtos focados no mercado interno tenham um aumento da oferta, “culminando com um aumento um pouco mais brando deste grupo”. 

“As políticas econômicas de combate à inflação prometidas pelos novos gestores da economia tentarão minimizar a inflação de 2022. No entanto, não devem ser suficientes ainda para evitar que seja estourado o centro da meta da inflação em 2023”, disse Sandro. Um dos entraves à redução da inflação é a preocupação de agentes do mercado com o equilíbrio fiscal, devido aos planos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de restabelecer programas sociais. 

O professor avalia que este temor do mercado é precipitado. “Apesar do governo apontar claramente que precisa de mais recursos, muitos ‘especuladores’ aproveitam o momento de instabilidade e mudanças de rumos nas políticas de desestatização e concessão para obterem lucros com a forte instabilidade no preço das ações”, argumenta o economista. 

Na visão de Sandro, a nova política fiscal prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o primeiro semestre de 2023, poderá amenizar o temor do mercado, uma vez que “o orçamento herdado de Bolsonaro é insuficiente para a retomada de políticas públicas”, e “ter dinheiro extra será essencial para o sucesso de diversos ministérios em 2023. É uma árdua tarefa para se negociar com o Congresso e o Senado”. 

O professor também espera uma melhora na relação do Governo Federal com o Congresso, a partir de fevereiro, e o controle da situação de segurança pública em Brasília, fatores que “serão determinantes para a melhoria dos índices econômicos como o PIB, A SELIC e o IPCA”.

Já André Morais, presidente do Corecon-PE, afirma que desequilíbrio fiscal poderia gerar ainda mais pressão na inflação e na dívida pública. “Com inflação alta, o Banco Central pode continuar segurando a taxa de juras em patamares altos, e isso não é bom para o país. Desaquece a economia, aumenta o custo da dívida, desestimula investimentos na economia real e deixa o crédito mais caro”.

Ele enxerga o mercado “um pouco ansioso com o que vem pela frente e, de certa maneira, com razão”, devido à pressão inflacionária que tornará este um ano desafiador. “Alguns agentes conhecem o jeito do PT de governar, o próprio governo sinaliza que pretende aumentar os gastos públicos, porém, precisamos lembrar que o cenário é bem distinto daquele dos governos Lula I e II. Inflação no mundo, vai precisar agir para reequilibrar as contas, gerar empregos, porém com bastante cautela na questão fiscal”, diz o presidente do Corecon.

Por outro lado, ele reconhece a necessidade de rever gastos em área consideradas prioritárias, como saúde e educação, que sofreram com grandes cortes de verbas no governo Bolsonaro, enquanto os programas sociais continuam sendo de extrema importância para o combater a fome e a desigualdade social. 

“É preciso encontrar caminhos para unir essas frentes”, diz o economista, que enxerga uma “excelente oportunidade” para colocar em pauta, mais uma vez, a reforma tributária, alegando que ela “pode nos ajudar a reequilibrar a desigualdade e, ao mesmo tempo, ajudar as empresas com menos complexidade tributária”.

Valdeci Monteiro, economista da Consultoria Econômica e Planejamento, afirma que no período que se inicia com um novo governo a principal preocupação é a pressão que a dívida acumulada e os gastos públicos necessários para o orçamento do primeiro ano do novo governo podem trazer sobre a inflação, refletindo sobre o nível de juros e, consequentemente, sobre o potencial de investimentos e crescimento da economia. 

“Essa perspectiva crescimento é importante, porque gera arrecadação e disponibilidade para os investimentos tão necessários nos programas sociais e serviços públicos que o governo planeja. É importante, portanto, assumir um compromisso social, mas também um arcabouço fiscal transparente, que os assegure, mas que passe confiança para o mercado”.

Mercado acompanha possíveis sequelas na economia dos ataques em Brasília

Entidades do setor econômico repudiam invasões criminosas aos prédios dos poderes em Brasília

Chega a 1,2 mil o número de presos removidos da frente do QG do Exército em Brasília

Moraes afasta governador do Distrito Federal por 90 dias

Governadores do NE mobilizam suas tropas para reforçar segurança em Brasília

Em nota, presidentes dos Três Poderes chamam atos de “golpistas”

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -