Uma parte dos resíduos orgânicos – incluindo restos de comida, cascas de frutas, entre outros – de oito municípios no entorno do Recife, capital de Pernambuco, estão sendo transformados em energia elétrica. Isso ocorre na unidade da Orizon, em Jaboatão dos Guararapes, que recebe grande parte do lixo gerado no Recife e a totalidade do originado em Jaboatão dos Guararapes, localizado no Sul da região metropolitana recifense.
Esse case é tema será debatido no próximo dia 19 de julho, Recife, durante o Seminário Gás – O combustível da transição energética, uma realização do Movimento Econômico em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), que sediará o evento no auditório da Casa da Indústria. Até lá, o Movimento Econômico trará uma série de reportagem sobre o biogás, o biometano, o mercado do gás natural e os seus desafios. Confira os links no final desta matéria.
“Todos os aterros sanitários produzem biogás, mas nem todos geram energia elétrica e a maioria ainda não gera biometano”, explica o diretor de Engenharia da Orizon, Jorge Elias. O biogás surge da decomposição dos resíduos orgânicos. Aproveitar este biogás para gerar energia elétrica é ambientalmente mais correto, porque isso atenua os efeitos do aquecimento global. Primeiro, a empresa capta o biogás que depois é usado numa térmica para produzir energia elétrica. O outro gás natural usado nas térmicas é de origem fóssil.
A energia produzida a partir da decomposição dos resíduos na unidade de Jaboatão gera energia suficiente para abastecer perto de 230 mil pessoas com um consumo residencial médio. Na unidade que a empresa possui em João Pessoa, a geração de energia – também produzida a partir do biogás – é suficiente para abastecer aproximadamente 50 mil pessoas com um consumo residencial médio. Na capital paraíbana, são processadas cerca de 500 mil toneladas de resíduos sólidos por ano. Já na unidade pernambucana, o ecoparque da empresa recebe cerca de 1,3 milhão de toneladas anualmente, vindas do Recife e mais sete municípios.
“Na unidade de Jaboatão, a parcela orgânica é maior e também o projeto é mais adequado, conseguindo ter mais eficiência no processo de captação. Quanto mais material orgânico, mais biogás é gerado”, resume Jorge. Cerca de 250 pessoas trabalham na Orizon de Jaboatão. Lá, a parte dos resíduos que é orgânica e, consequentemente, se decompõe em biogás varia de 35% a 55% do total dos resíduos. “Estamos tentando recuperar o plástico e reintroduzi-lo na economia circular”, revela Jorge, explicando que na economia circular tudo é aproveitado e se deixa menos resíduos no meio ambiente.
Futuro mais sustentável
A Orizon, segundo Jorge Elias, mais adiante poderá gerar a molécula do biometano, que é equivalente a do gás natural. “É mais sustentável, mais bem vista e tem menor impacto ambiental”, afirma o executivo. Para isso, é necessário um investimento alto, porque é preciso instalar equipamentos para tratar e purificar o biogás e transformá-lo em biometano.
“Hoje, o mais importante é usar adequadamente o biogás, transformando-o em energia elétrica ou em biometano, evitando que saia debaixo da terra. O aterro transforma esse resíduo em algo útil para a sociedade”,diz Jorge. Segundo ele, o custo para produzir é quase igual ao preço da venda da energia, mas se consegue ganhar algum dinheiro para implantar melhorias no ecoparque, a unidade que recebe os resíduos.
A Orizon divulgou alguns números do seu balanço de 2021, ano em que a receita operacional líquida alcançou R$ 435,5 milhões. A parte de energia, biogás e créditos de carbono geraram uma receita de R$ 103,4 milhões, o que representou uma alta de 46,9% em relação ao ano anterior. Parte deste aumento foi no último trimestre de 2021, quando o preço da energia estava em alta por causa da crise hídrica.
Pernambuco só tem três aterros sanitários captando o biogás
Além da Orizon, Pernambuco só tem mais dois aterros sanitários que captam adequadamente o biogás: a CTR Igarassu e a CTR Candeias. “Nós temos metas para a recuperação do biogás e produção do biometano nos aterros sanitários e nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) para 2025, 2035 e 2050”, afirma a secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, Inamara Mélo, citando as metas do plano de descarbonização do Estado, concluído em março deste ano.
“Estamos caminhando para fazer uma norma em que todos os aterros gerem biometano ou biogás. Essas soluções virão com medidas que garantam a redução das emissões de carbono. E o biometano para fins energéticos é um dos instrumentos para isso”, adianta Inamara.
Pernambuco tem 19 aterros licenciados em operação e nove que estão em fase de licenciamento sob análise da Agência estadual de Meio Ambiente (CPRH). Dos 182 municípios pernambucanos, 159 estão destinando os resíduos de maneira adequada (nos aterros sanitários) e 23 estão com destinação inadequada. “Vamos estar livre dos lixões ainda este ano”, conclui Inamara. Nos lixões, não há a destinação correta dos resíduos sólidos.
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