A Lasa Linhares Agroindustrial – empresa que pertence ao grupo pernambucano JB – estima que vai perder nesta safra mais de R$ 2 milhões por causa da queimada no plantio da cana-de-açúcar nos canaviais da companhia no Espírito Santo. Lá, o fenômeno climático La Niña está deixando o clima mais seco e as temperaturas mais altas. E este é um dos fatores que está contribuindo para os incêndios na área de plantio, segundo o superintendente executivo da unidade capixaba do grupo, Rafael Soares Raso.
De maio a agosto deste ano, foi o pior período seco dos últimos 44 anos em 16 Estados, incluindo grandes produtores de cana-de-açúcar como São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além do Espírito Santo, de acordo com um levantamento feito pelo Centro Nacional de Monitoramento de Defesas Naturais (Cemaden).
“É um inverno considerado mais quente do que o normal. São mais de 60 dias sem cair chuva e com bastante calor”, explica Rafael, acrescentando que com a estiagem a palha da cana-de-açúcar fica mais seca. Isso ajuda a planta a queimar mais depressa. Ele também cita a “irresponsabilidade de algumas pessoas” que jogam um resto de cigarro ou fazem uma fogueira perto de um lago, ou levam um botijão – para assar um peixe na área rural – , o que é “suficiente para tocar fogo numa palha e começar um incêndio”. E complementa: “as canas ficam uma ao lado das outras, o que contribui para o fogo se espalhar rapidamente. Até o vento ajuda a espalhar o fogo”.
Outro motivo que provoca o incêndio são atos criminosos. “O criminoso sabe da condição climática que ajuda o canavial a pegar fogo. Então, coloca o fogo em vários pontos e ele se espalha mais rápido”, conta Rafael.
Este ano, a Lasa Linhares Agroindustrial teve 600 hectares de cana-de-açúcar queimados. Somente um incêndio atingiu 400 hectares de canaviais. O incêndio não é o único transtorno provocado pela queimada. “Quando se queima a cana-de-açúcar, perdemos uma parte da biomassa que gera energia elétrica numa caldeira de alta pressão”, fala Rafael.
As usinas têm plantios em áreas extensas e as queimadas também alteram o planejamento das máquinas para realizar a colheita. A Lasa Linhares Agroindustrial cultiva a cana-de-açúcar em cerca de 10 mil hectares. “A cana queimada deve ser colhida e moída em até 48 horas depois da queimada para a planta não perder os seus nutrientes e nem diminuir o açúcar”, afirma Rafael.
Ou seja, depois de um incêndio o planejamento da colheita é alterado para dar prioridade à cana-de-açúcar queimada. “Usamos máquinas pesadas que consomem muito diesel e isso prejudica toda a nossa logística. Nesta situação, tem que colher a cana fora do momento, não aproveita a cana toda”, comenta Rafael.
O clima seco também aumenta o estresse da planta, que passa a crescer menos, o que significa menos matéria-prima. Há dois anos, a usina teve cerca de 400 hectares de canavial queimados. “Na época, isso trouxe uma perda superior a R$ 2 milhões. Provavelmente, essa perda vai ser maior este ano”, afirma Rafael. Uma parte do plantio da empresa é irrigada.
A Lasa Linhares Agroindustrial está instalada na cidade de Linhares, no norte do Espírito Santo. O Grupo JB implantou a sua primeira usina, a Companhia Alcoolquímica Nacional em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana. O grupo gera cerca de 5 mil empregos diretos e atua há 60 anos no setor sucroalcooleiro.
Incêndios dos canaviais em São Paulo
Maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, o Estado de São Paulo já estava com os canaviais sentindo os efeitos da estiagem durante a safra que começou em abril último. Na última semana, ocorreram incêndios que atingiram 80 mil hectares de canavias em São Paulo, provocando a perda de aproximadamente 6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, segundo uma estimativa feita pela Organização de Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (Orplana). A entidade estimou um prejuízo de cerca de R$ 500 milhões devido aos incêndios.
Ainda em São Paulo, a proximidade dos locais dos focos de incêndio levantou suspeitas de atos criminosos e seis acusados foram presos. De acordo com a Orplana, os incêndios, da última semana de agosto, alcançaram também canaviais em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
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