Levantamento divulgado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) aponta que o Nordeste possui dois terços do total de projetos em Hidrogênio Verde no país. O estado do Ceará é o que mais vai receber investimentos para o desenvolvimento de projetos desta temática no país. Os principais investimentos de H2V na região, localizados no Ceará, Pernambuco e Piauí, somam mais de R$ 150 bilhões.
De acordo com o estudo da CNI, o Ceará será o que mais receberá investimentos, estimados em R$ 110,6 bilhões. O estado, segundo o levantamento, possui 34 memorandos assinados desde seu lançamento, em fevereiro de 2021, que evoluíram para quatro pré-contratos com empresas nacionais e internacionais.
A Confederação também destaca os investimentos previstos para os portos de Parnaíba (PI) com R$ 20,4 bilhões; Suape (PE) com R$ 19,6 bilhões; e Açu (RJ) com R$ 16,5 bilhões. O entusiasmo com a exportação de hidrogênio e seus derivados está associado à disponibilidade e baixo custo de produção da energia elétrica renovável no país e pelo interesse europeu de importação desses produtos.
Também é do Nordeste o projeto com maior capacidade de eletrólise, localizado no Porto de Parnaíba, no Piauí, com 10 GW de potência. Essa energia seria suficiente para abastecer cerca de 15 milhões de pessoas – número superior à quantidade de habitantes da cidade de São Paulo.
Quando se olha para os estados, no entanto, o Ceará é que o tem a maior capacidade instalada com cerca de 15,9 GW, enquanto o Piauí possui 15,6 GW. O terceiro estado brasileiro com maior capacidade de eletrólise é o Rio de Janeiro, com 2,1 GW.
Alagoas de fora dos investimentos em H2V
Conforme os dados apresentados pela CNI, Alagoas é um dos estados nordestinos que ainda não possui projetos voltados para a produção de H2V. Recentemente, o estado sancionou Lei de incentivo ao uso de energia solar, buscando assim aumentar a participação da energia renovável na matriz energética alagoana.
A lei estabelece que terão preferência na adoção de sistema de aquecimento solar e fotovoltaico as construções de prédios públicos estaduais e unidades habitacionais com recursos financeiros do Estado, além de projetos financiados pelo Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (Fecoep) e empreendimento cujos terrenos foram desapropriados pelo Estado com o intuito de construir habitação popular, bem como os investimentos beneficiados pelo Programa de Desenvolvimento Integrado do Estado de Alagoas (Prodesin).
Com relação a projetos sobre Hidrogênio Verde, o estado vem realizando um levantamento para identificar fontes de energia limpa e assim tentar captar investimentos no setor.
Empresários se unem para produzir H2V em Sergipe
O projeto da Touro Energia Verde foi apresentado ao governo do estado no início de junho e prevê um investimento total de R$ 2 bilhões, segundo informou o Governo de Sergipe, para a construção da unidade no município de Barra dos Coqueiros, localizado na região Metropolitana de Aracaju.
Com previsão de início das operações em 2025, a fábrica pretende gerar 300 empregos diretos e 500 indiretos, contribuindo para o desenvolvimento da região. O diferencial da unidade será a total sustentabilidade, com a empresa Touro Energia Verde comprometida em desenvolver as tecnologias necessárias e capacitar a mão de obra local para atender às demandas do projeto.
H2V no processo de descarbonização
O hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis ou de fontes fósseis associadas à captura e estocagem do dióxido de carbono (CO2) tem sido visto como uma estratégia para a descarbonização dos segmentos “hard to abate”. É o caso dos setores industriais que precisam de calor em alta temperatura, indústrias como aço, vidro, química, alumínio e a de fertilizantes.
Diversos portos brasileiros estão desenvolvendo projetos para se posicionar como hubs de hidrogênio de baixo carbono – centros geográficos que envolvem uma cadeia de atividades de produção, transporte, entrega e uso final dessa fonte de energia.
O entusiasmo com a exportação de hidrogênio e seus derivados está associado à disponibilidade e baixo custo de produção da energia elétrica renovável no país e pelo interesse europeu de importação desses produtos.
Recentemente, a Alemanha organizou um leilão internacional para compra de amônia verde – produzida a partir do hidrogênio de baixo carbono. A amônia é o produto químico com maior demanda industrial de hidrogênio. Em 2021, foram produzidas, globalmente, 190 megatoneladas de amônia, que consumiram aproximadamente 34 megatoneladas de hidrogênio, conforme dados da Agência Internacional de Energia (IEA). No Brasil, a produção de amônia consome cerca de 145 mil toneladas de hidrogênio por ano.
Esse composto químico tem um papel crucial na agropecuária e, consequentemente, na garantia da segurança alimentar mundial, já que 70% de sua produção é direcionada para produção de fertilizantes nitrogenados. Como o Brasil ainda importa quantidades significativas de fertilizantes nitrogenados, o desenvolvimento da produção interna de amônia, a partir do fomento do mercado de hidrogênio de baixo carbono, pode ser uma oportunidade de o país gerenciar a balança comercial da commodity, e para alinhar-se com as metas do Plano Nacional de Fertilizantes 2050.
Um acordo de dois anos entre Vale e Petrobras, que contempla o desenvolvimento de projetos de baixo carbono, elencou a amônia como uma alternativa para as atividades logísticas. A companhia de mineração tem uma frota marítima robusta, e desde 2021, junto a outros agentes, estuda a possibilidade de incorporar amônia verde como combustível marítimo.
Desafios do H2V no país
Apesar as políticas implantadas para incentivar o uso de energias renováveis e a aposta no Hidrogênio, a CNI aponta em seu relatório desafios que precisam ser superados, sendo o principal deles a falta de um ecossistema maduro de fornecedores de equipamentos, parceiros tecnológicos, investidores e off-takers, que possam suportar a tomada de decisão de novos investimentos.
Outro ponto refere-se a falta de subsídios do governo brasileiro para diminuir os custos com a produção de hidrogênio de baixo carbono, assim como já ocorre na Europa e Estados Unidos. “No Brasil, ainda não existem incentivos fiscais governamentais para apoiar o nascimento do mercado, como aconteceu com os mercados de energia eólica e solar. Por esta razão, projetos de hidrogênio verde no Brasil voltados à exportação para a Europa vão concorrer com projetos subsidiados naquele continente. Mesmo que o governo brasileiro venha a criar incentivos fiscais, dificilmente poderá disputar com os Estados Unidos e a Europa neste quesito. Assim, a exportação de produtos derivados do hidrogênio sustentável pelo Brasil vai depender de modelos de negócios capazes de aproveitar todas as vantagens comparativas de custo que o país oferece”, diz trecho do estudo da CNI.
No caso do Hidrogênio Verde, a CNI pontua que a concorrência de várias aplicações industriais para o uso de energia elétrica limpa pode ser um desafio. A eletrificação direta nos setores de transporte e indústria representa um dos principais vetores para a transição energética. Assim, o uso de energia renovável para a produção de H2 verde vai concorrer com outros usos de energia renovável, potencialmente mais lucrativos, para a venda no mercado livre de energia, por exemplo.
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