Há 45 anos, na primeira semana de julho de 1979, era lançado o Fiat 147, o primeiro automóvel a etanol produzido em série no mundo que saiu do polo automotivo de Betim, em Minas Gerais. Na época, foi um pioneirismo para a indústria automotiva e um marco da engenharia automotiva brasileira. A entrada no mercado deste veículo ajudou a consolidar e popularizar o consumo de álcool combustível no País e beneficiou o Nordeste, tradicional fabricante deste produto.
Apelidado carinhosamente de “Cachacinha”, devido ao odor característico exalado pelo escapamento, o Fiat 147 foi o primeiro passo para a engenharia automotiva brasileira desenvolver tecnologias para veículos leves mais eficientes e menos poluentes. No Brasil, a gasolina que é vendida nos postos contém 27,5% de álcool anidro.
Segundo o vice-presidente da Marca Fiat para a América do Sul, Alexandre Aquino, o legado do Fiat 147 “se estende até hoje com a tecnologia dos motores flex, que está presente na maioria da frota brasileira de veículos leves e o etanol se consolidou como protagonista no processo de descarbonização no país por ser um combustível extremamente eficiente em emissões quando considerado o ciclo de vida completo do automóvel”.
A montadora iniciou as pesquisas e o desenvolvimento do motor para a produção do primeiro carro a alcool em 1976. A ideia de fazer um carro a alcool também tem ligação com a primeira crise do petróleo, deflagrada em 1973, na qual governos e fabricantes de automóveis de todo o mundo todo começaram a buscar soluções para reduzir o consumo de seus derivados, como a gasolina.
No caso do Brasil, o Governo Federal instituiu em 1975 o programa ProÁlcool (Programa Nacional do Álcool) com incentivos para a produção do etanol a partir da cana-de-açucar, contribuindo para o aumento da fabricação do combustível. “Este foi um momento fundamental para desenvolver o cluster de autopeças dos veículos a etanol”, lembra o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha.
A primeira participação oficial do veículo ocorreu no Salão do Automóvel de São Paulo em 1976, quando a montadora exibiu um protótipo do 147 movido a etanol com dezenas de milhares de quilômetros rodados. No ano seguinte, foi realizado o aprimoramento técnico do produto e a produção de novas unidades, que foram submetidas a diversos testes.
Em setembro de 1978, um Fiat 147 realizou o que seria o teste definitivo para a criação do primeiro motor brasileiro a etanol: uma viagem de 12 dias e 6,8 mil quilômetros pelo país, com média de mais de 500 km diários, três mil quilômetros por terra e variações climáticas superiores a 30 graus.
“A Fiat e o automóvel 147 a álcool foram indutores de todo um desenvolvimento sustentável que é reconhecido internacionalmente, que poupou muitas divisas ao País dimininuindo as importações”, comenta o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. Ele lembra também que o carro a etanol também fomentou, de forma decisiva, a descarbonização e a melhoria do meio ambiente no País. O etanol emite menos gases que contribuem para o aquecimento global, comparando com os combustíveis de origem fóssil.
A entrada no mercado do Fiat 147 também ajudou o País a implementar os carros flex, que podem ser abastecidos por etanol ou gasolina. O primeiro modelo de carro flex no Brasil foi lançado em 2003.
Nordeste, pioneiro no etanol combustível
O Nordeste foi pioneiro no uso do álcool combustível. A Usina Serra Grande, de Alagoas, lançou o Usga, um combustível que tinha 75% de etanol e 25% de éter etílico em 1927. Dois anos mais tarde, já existiam cerca de 500 automóveis usando o Usga e outros combustíveis a base de etanol no Nordeste. Segundo Moacir Medeiros de Santana, funcionavam no Nordeste, em 1933, as seguintes bombas de Usga: “três no Recife, uma em Caruaru, uma na Usina Serra Grande e uma em União dos Palmares, também em Alagoas”.
*Com informações da Stellantis, dona da marca Fiat
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