A primeira cooperativa de créditos de carbono do Brasil acaba de ser criada na Caatinga. A Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga está sendo implantada no entorno do cânion do Rio São Francisco e reúne pessoas que atuam nas fronteiras de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco.
A iniciativa é pioneira e surge com o conceito de economia regenerativa. A inovação é criar cadeias produtivas que recomponham o ambiente natural enquanto criam um sistema de proteção não só para o bioma, mas para as pessoas que dependem dele.
“A ideia não é só entrar no mercado de carbono, mas reduzir as desigualdades sociais”, explica Sérgio Xavier, articulador do Centro Brasil no Clima – CBC e ex-secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, uma das entidades envolvidas na criação da cooperativa.
Como se faz isso? Criando processos econômicos que gerem condições para recuperar a Caatinga. “Assim, ela passa a ser mais valiosa viva do que desmatada”, reflete Xavier.
A cooperativa, portanto, nasce com um modelo de negócio que diminui a desigualdade através da redução da emissão de carbono. E se volta para um bioma que está esquecido.
A ideia é reflorestar para gerar mais créditos de carbono. “Faremos isso em várias frentes. No turismo, por exemplo, queremos estimular os turistas a plantarem mudas, gerando renda para a recuperação da mata. Isso vai na direção contrária da economia tradicional que gera pressão e degradação”.
A iniciativa reuniu muitos agricultores dos quatro estados. São pessoas que estão preservando a área e não ganham nada com isso. Agora, com a cooperativa, vão receber créditos de carbono e ficarão mais fortalecidos.
Segundo Xavier, além dos créditos de carbono estão sendo discutidas outras frentes de negócios, como a geração solar, por exemplo. “Queremos que a cooperativa gere sua própria energia e tenha outra fonte de renda”, diz.
À iniciativa da cooperativa se conecta quatro pilares: o da academia, que traz o conhecimento; das comunidades, com a cidadania sendo protagonista; das empresas privadas e dos governos.
A associação é composta por pessoas que possuem áreas preservadas no bioma Caatinga e também técnicos comprometidos com o desenvolvimento de projetos de Crédito de Carbono Social. “Estamos incorporando o conceito de justiça climática e abrangendo mecanismos de redução de desigualdades, economia regenerativa, mercado de carbono, serviços ambientais, recuperação de ecossistemas e proteção da biodiversidade”, resume o consultor.
A articulação iniciou-se há um ano com Sérgio Xavier, Pedro Soares Neto, que é proprietário de áreas preservadas; Haroldo Oséias de Almeida (ambientalista) e Nilson Lopes Alves (engenheiro ambiental), Fabiana Couto (Diretora de Mudanças Climáticas da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas) e residentes da Caatinga para discutir formas de desenvolver modelos de participação de pequenos produtores rurais no emergente mercado de carbono global.
“Após discussões, reuniões e oficinas, com participação de dezenas de lideranças locais e especialistas de diversas áreas, ficou definida a criação da inovadora cooperativa, que pode ser replicada em outros biomas do Brasil”, diz Xavier.