Consumo de café especial cresce após período de isolamento social

Por Juliana Albuquerque O Brasil é o segundo maior consumidor de cafés do mundo, mas apenas 10% desse consumo é voltado aos cafés especiais. Mas esse tipo de grão vem ganhando espaço no paladar nacional. Dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) mostram que o consumo de cafés especiais tem crescido 15% ao ano […]
Consumo do café especial cresce 15% ao ano no Brasil e é fruto da educação sensorial dos consumidores nas cafeterias especializadas na oferta do grão. Fotos: Eudes Santana

Por Juliana Albuquerque

O Brasil é o segundo maior consumidor de cafés do mundo, mas apenas 10% desse consumo é voltado aos cafés especiais. Mas esse tipo de grão vem ganhando espaço no paladar nacional. Dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) mostram que o consumo de cafés especiais tem crescido 15% ao ano no País, principalmente após a pandemia.

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Eudes Santana está junto com Lidiane Santos à frente da Kaffe Torrefação e Treinamento. Foto: Lidiane Santos

Com mais pessoas dentro de casa, devido ao isolamento social, se passou a consumir mais café de qualidade, do tipo especial. “Para se ter uma ideia do aumento desse consumo, até o começo do ano passado, a gente vendia pacotes de 150g e 250g do café especial. Hoje, só se encontram pacotes de 250g e de 1kg, porque o de 150 g saiu do mercado”, revela o empresário Eudes Santana, da Kaffe Torrefação e Treinamento, empresa que compra, torra e comercializa uma marca própria – a Kaffe -, e também promover treinamentos para empreendedores, baristas e amantes de café.

A Kaffe comercializa para mais de 50 cafeterias no Nordeste, além de Manaus, no Norte do País. “Temos observado um crescimento do consumo do grão especial cada vez maior no interior, não apenas nas capitais. Isso reforça a mudança no consumo do café na região”, destaca Eudes Santana.

De acordo com ele, que também atua como consultor no setor, essa busca pelo café especial vem ocorrendo ao longo dos últimos quatro anos em Pernambuco, fruto de um trabalho da educação sensorial que os consumidores têm tido ao frequentarem as cafeterias.

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Atualmente, no Estado, o café especial é produzido no Agreste e no Sertão pernambucanos, em cidades como Taquaritinga do Norte e Triunfo, maiores produtores do arábica devido à altitude e clima ameno.

O trabalho de capacitação desses produtores envolve a participação do Sebrae, Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, Emprego e Qualificação, e prefeituras das cidades onde o café especial é produzido.

Leia mais: Quebra da safra e exportações devem elevar preço do café em até 40%

Segundo Eudes, para dar conta do aumento do consumo do café especial é necessário não só ampliar a produção do café especial, mas fazer um trabalho de conscientização junto aos produtores do grão. “O café especial tem sabores e características diferentes, porque seu processo de cultivo dele se dá de forma totalmente natural, feito à sombra, e totalmente artesanal ne seleção do grão, fermentação e armazenagem. Isso lhe confere um alto valor agregado”, afirma Santana.

Segundo a analista do Sebrae, Amanda Ferreira, que integra o programa de qualificação dos produtores do café de Taquaritinga do Norte, a produção do café arábica ainda é pequena devido às áreas limitadas para o cultivo. Mas o trabalho de qualificação realizado na região junto à associação dos produtores, que durou cerca de seis meses, ajudou a orientá-los sobre como agregar valor à produção. “Partimos do pressuposto de que a produção da planta é pequena, mesmo para quem tem uma área grande de plantio. Então, uma vez que esses produtores não vendem um café normal, ele tem um preço maior porque é produzido para um público apreciador com gosto refinado e que vai pagar a mais pelo que está consumindo”, diz.

Processo de seleção do café especial é todo artesanal, se adição de qualquer tipo de maquinário. Foto: Eudes Santana

É de Taquaritinga do Norte que vem um dos melhores cafés especiais do país – o Yaguara, que é cultivado e produzido em uma área privilegiada pela geografia, que mesmo com períodos de estiagem consegue manter a alta qualidade do grão. A qualidade do café Yaguara é fruto de um rigoroso processo que vai do cultivo até a xícara do consumidor final. É que por lá, não se planta os pés de cafés em fileira, como acontece no Sudeste do País. Na fazenda, elas são plantadas juntas de árvores frutíferas, cerca de 20 mil mudas por ano, que crescem à sombra e sem a ação de pesticidas. Além de abastecer as principais cafeterias e restaurantes de Pernambuco e outros estados brasileiros, a Yaguara exporta para o Japão, há mais de 15 anos.

Em Triunfo, outra cidade que ganha destaque na produção, o acompanhamento do aumento da produção de café tem sido feito pelo Sebrae, desde 2018, quando foi implantado pela Secretaria do Trabalho, Emprego e Qualificação o projeto Café Especial PE. “O plantio de café é um processo longo, que dura cerca de três anos entre plantar e colher. Como temos cerca de 20 produtores associados ao Sebrae nessas capacitações, podemos afirmar que nesse tempo a produção dobrou a quantidade de pés plantados, assim como o nível de pureza do grão produzido. Recentemente, por exemplo, conseguimos da Associação Brasileira de Cafés Especiais, 84 de pontuação do café produzido na região – para ser considerado especial é acima de 80”, revela Raquel Silva, analista do Sebrae em Triunfo.

Segundo ela, preço de uma saca do grão não sai por menos de R$ 1,2 mil. “O nosso treinamento e qualificação visa orientar esse produtor a precificar o café com base na qualidade do que ele comercializa, porque é café considerado especial”, destaca.

Ao contrário do café gourmet que pode ser encontrado facilmente em supermercados, o café especial está à venda em empórios e cafeterias. As embalagens de 250g custam entre R$ 27 e R$ 37 em média, e as de 1Kg, entre R$ 80 e R$ 110. Depois de aberto, o café especial deve ser consumido em até três semanas no máximo, porque após esse prazo, pode oxidar.

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