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Agrotechs: NE tem apenas 5% dessas startups

Agrotechs tiveram salto exponencial de 825%, pulando de 184, em 2017, para 1.703 em 2022, mas apenas 89 são do Nordeste. Rede integrada por instituições de ensino, apoio ao setor produtivo e Sudene quer reverter esse quadro
Agrotechs: rede para estimular inovação no Vale do São Francisco foi lançada com presença de Danilo Cabral (Sudene)
Lançada com a presença de Danilo Cabrail (Sudene), rede quer estimular agrotechs e cultura da inovação entre empresas de agricultura familiar do Vale do São Francisco/Foto: Sudene (Divulgação)

As agrotechs (startups voltadas para soluções no agronegócio) vêm crescendo num ritmo acelerado no país, impulsionadas pela manutenção das commodities como carro-chefe da economia nacional. Essa transformação digital, no entanto, se dá a passos lentos no Nordeste, que detém apenas 5,2% dessas empresas. Reverter esse quadro, na região do Vale do São Francisco (Pernambuco e Bahia), é o objetivo do Fruit Tech, rede integrada por instituições de ensino e pesquisa, Senai, Senar, Sebrae e Sudene.

De acordo com os dados mais recentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o número de agrotechs no mercado brasileiro pulou de 184, em 2017, para 1.703 em 2022, salto exponencial de 825%. Mas, apenas 89 dessas empresas de inovação são de estados nordestinos.

A situação contrasta com a força tradicional da agropecuária na região, onde está localizada, por exemplo, boa parte da nova fronteira agrícola do país (Matopiba, que reúne terras do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o Cerrado Baiano (consolidado na produção de soja), a zona da mata de Pernambuco e Alagoas (com vocação sucroenergética) e um dos maiores polos de fruticultura do Brasil: o Vale do São Francisco, líder nas exportações brasileiras de manga e uva.

Alavancado pela irrigação, a partir dos anos 1970, o Vale se tornou um oásis no sertão. Os municípios baianos e pernambucanos que compõe a região chegam a colher 272,5 mil toneladas de manga por safra, sem falar da uva e da produção de vinhos finos.

O panorama das agrotechs é um paradoxo não apenas com este quadro, mas também levando em consideração a localização, no Nordeste, de alguns dos centros de inovação mais importantes do país, como os do Recife (PE), Fortaleza (CE), Campina Grande (PB) e, mais recentemente, Salvador (BA).

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Agrotechs: oportunidade passa despercebida

Para o professor da Univasf Valdner Ramos – doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Évora (Portugal) e coordenador do Fruit Tech – os clusters de tecnologia do Nordeste se especializaram em soluções para outras áreas de negócio, enquanto o campo foi esquecido.

Ele ressalta ainda que a inovação no setor agrícola nordestino acabou ficando concentrada em grandes empresas que, na falta de players regionais dedicados ao segmento, vêm optando por importar produtos de empresas do Sudeste e Sul, onde 12 cidades concentram 50% de todas as agrotechs do Brasil.

“Estamos avaliando uma outra hipótese que é a de que esses negócios, sediados em São Paulo, Curitiba e Piracicaba, entre outras cidades, tenham se estabelecido no Nordeste, diante do baixo interesse dos empreendedores digitais nordestinos em ocupar esse espaço”, acrescenta.

Agrotechs: Fruit Tech vai dar prioridade à agricultura familiar, segmento que é maioria no Vale, mas tem baixa agregação de tecnologia
Diante da concentração da inovação nas grande empresas, Fruit Tech vai dar prioridade à agricultura familiar/Foto: Raquel Torres (MST.org/Site)

Quem faz parte do esforço para alavancar agrotechs?

Esse contexto de baixa agregação de tecnologia à produção agropecuária e agroindustrial, especialmente nas empresas familiares – que são a maioria na região – levou um grupo de pesquisadores a reagir.

Formado por profissionais de instituições como Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Petrolina (Facape) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), foi criado o Agrolabs, no início de 2023.

O movimento evoluiu rapidamente e chegou ao final do ano com oito parceiros, entre eles o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), e já reformatado para Fruit Tech, definido pelas entidades participantes como uma “trilha tecnológica”.

Nesse começo de 2024, é a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) que chega para reforçar a rede com financiamento para aquisição de equipamentos, entre eles drones de pulverização e registro de imagens.

À frente da Sudene, o superintendente Danilo Cabral, participou, nesta segunda-feira (19), do lançamento oficial da rede.

Fruit Tech vai atuar na formação de empreendedores de agrotechs, programa de mentorias, incubação e aceleração de negócios
Fruit Tech terá quatro linhas de atuação: formação de empreendedores digitais, mentorias, incubação e aceleração de negócios/Foto: MAPA (Divulgação)

Quais os objetivos do Fruit Tech?

A trilha tem quatro linhas de ação principais, voltadas para formação de empreendedores digitais, mentorias, incubação e aceleração de negócios. “Vamos atuar em diversas frentes, para a construção de uma cultura inovadora no Vale, com foco nas empresas familiares”, explica Valdner Ramos.

As metas do programas, para os próximos dois anos, são ambiciosas: formar 210 profissionais de nível superior e médio, promover dois hackatons, realizar oito programas de mentoria, apoiar 60 ideias inovadoras, incubar 40 negócios e acelerar 20 startups.

“Com esses resultados, esperamos não apenas uma aceleração no desenvolvimento de tecnologias e negócios, mas também criar uma conexão do Vale com outros hubs e ecossistemas de inovação do país, para que o processo se consolide e se retroalimente”, ressalta o coordenador.

Segundo ele, um dos target para busca de sinergias é o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que integra o ranking de melhores centros de ensino e pesquisa em computação do país.

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