Uma comitiva de presidentes de portos brasileiros está em missão no Reino Unido, a convite do governo Britânico, para conhecer os avanços na produção e uso do hidrogênio verde (H2V) em algumas cidades da Inglaterra e da Escócia. Os europeus andam cada vez mais interessados neste combustível limpo, uma vez que a União Europeia decidiu encerrar até 2050 a era dos combustíveis fósseis no bloco. Para que o velho continente alcance sua meta, vai precisar importar o produto, já que não tem condições de suprir sua própria demanda.
Do lado de cá do Atlântico, vários estados brasileiros avançam no caminho da produção de H2V, com destaque, no Nordeste, para Ceará e Pernambuco. Os gestores dos principais portos desses estados – Pecém (CE) e Suape (PE) – integram a comitiva. Também foram convidados os gestores do Porto de Açu (RJ) e do Porto do Rio Grande (RS).
Todos esses terminais abrigam complexos industriais e estão alinhados com processos de transição energética. Pecém está em estágio mais avançado que os demais portos. A EDP Brasil, uma das empresas instaladas na área industrial do Complexo do Pecém, foi a responsável pela produção da primeira molécula de H2V no Brasil, em dezembro passado. O combustível vem sendo usado na própria termelétrica da empresa. A produção da molécula é a primeira etapa estratégica do desenvolvimento do Projeto Piloto de H2 no Complexo Termelétrico do Pecém (UTE Pecém), que conta com investimento de R$ 42 milhões.
A missão ao Reino Unidos conta ainda com participação do Senai Brasil, com equipes que atuam nas áreas portuária e de inovação da Bahia e de Pernambuco, através do Senai de Inovação (ISI) e do Senai Cimatec.
A comitiva está conhecendo portos, universidades e empresas que de alguma forma lidam com o hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. Na manhã desta quinta-feira (9), a delegação brasileira participou do Hydrogen Opportunities in Brazil, evento ocorrido em Londres, que contou com mais de 60 representantes da economia britânica.
Além do contato com potenciais investidores, os gestores portuários estão tendo oportunidade de conferir o que há de mais avançado na produção H2V e apresentar seus projetos. Em conversa por telefone com o Movimento Econômico, os presidentes dos portos do Nordeste relataram a experiência que estão vivenciando.
“O que estamos vendo aqui vai reorientar nossa estratégia para atração de investimentos e produção de hidrogênio verde em Suape”, disse o presidente de Suape, Márcio Guiot, acrescentando que será preciso mapear as oportunidades em toda cadeia de valor do H2V e estabelecer parcerias com centros de pesquisa de energias renováveis, como os das cidades de Aberdeen (Escócia) e Sheffield (Inglaterra).
Porto de Aberdeen
Aberdeen foi um dos pontos que mais impactou a comitiva brasileira. Essa cidade portuária fica no Nordeste da Escócia e tem um porto fundado em 1136. Desde a década de 70, com a descoberta de reservas de petróleo no Mar do Norte,o terminal portuário operava fortemente com gás e petróleo. Recentemente, porém, o terminal deu início a um processo de transição energética e passou a contar com instalações que produzem o hidrogênio verde.
Na cidade de Aberdeen os visitantes conheceram ainda estações de carregamento de hidrogênio verde para mobilidade leve e pesada. “Toda a economia de Aberdeen está se voltando para o hidrogênio verde e estamos tendo acesso a processos muito inovadores que podem ser replicados no Brasil com grande potencial de êxito”, disse diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Carlos Cavalcanti, que participa da missão.
Pecém
Para o presidente de Pecém, Hugo Figueiredo, a experiência está mostrando que os portos regionais podem somar forças. “Estamos percebendo que nossos portos podem atuar de forma conjunta, cooperando em temas comuns, como inovação e regulação, e que é possível avançar muito nisso e mais especificamente ter uma agenda comum no Consórcio Nordeste e aproveitar as oportunidades colocadas no mercado”, disse.
“Em Pecém, já tivemos a 1ª molécula produzida em escala acima de 1 MW, pela EDP Brasil. Mas o porto tem um conjunto de projetos para decisões de investimentos a partir do ano que vem e início de produção prevista para 2026, voltados à exportação”, explica Figueiredo. Ele acrescenta que, uma vez com a base instalada, Pecém vai poder não só exportar a molécula, mas fomentar o mercado interno.
“Estamos trocando informações e vamos ver como conseguimos evoluir. O Brasil está diante de uma grande oportunidade, mas, dentro do contexto da energia, tanto para portos como para o estado brasileiro, precisamos de estratégia e regulação nacionais”, reforça Guiot.
Consulado Britânico
A missão foi liderada pelo Governo Britânico através do time de Energia do Department for Business and Trade e do seu consulado em Recife e contou com uma agenda centrada em transição energética, com ênfase no Hidrogênio de Baixo Carbono, e troca de expertise.
“A Missão Técnica de Hidrogênio de Baixo Carbono ao Reino Unido teve por objetivo fomentar a relação entre instituições brasileiras (empresas e portos) e instituições britânicas (empresas, portos e instituições governamentais) voltadas para Hidrogênio de Baixo Carbono”, informou o Consulado Britânico.
Na missão, a delegação brasileira pôde experienciar e aprender sobre como o setor tem se desenvolvido no Reino Unido, além de promover networking e compartilhar as atividades desenvolvidas no Brasil pela delegação, durante evento na Embaixada do Brasil em Londres.
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