Em um duro ataque ao Governo do Estado, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Álvaro Porto, atacou a política de segurança pública da gestão estadual em discurso na tribuna nesta terça-feira (13). Segundo o parlamentar, os dados apresentados pelo governo não refletem a realidade vivida pela população, e o uso das estatísticas seria direcionado “mais à propaganda institucional” do que ao enfrentamento da criminalidade. O discurso ocorre em um momento que a governadora encontrasse em Nova Iorque, buscando investimentos para o Estado.
De acordo com o presidente da Alepe, a insegurança “é crescente em todo o estado”, com impactos diretos na vida de famílias, empresários e trabalhadores. “O slogan da atual gestão de que o estado iria ‘avançar sem deixar ninguém pra trás’ é apenas isso: um slogan”, afirmou Porto.
Somente no último fim de semana, a imprensa local registrou 26 assassinatos. Um dos casos citados foi o de uma mãe assaltada com os filhos pequenos em Jaboatão dos Guararapes. “Há medo nas áreas rurais, nos bairros, nas casas, no Grande Recife e no interior. Há comunidades reféns de traficantes no Litoral, no Agreste e no Sertão”, declarou o parlamentar, que foi aparteado por quase todos os deputados de oposição presentes.
Álvaro Porto destacou que o número de feminicídios dobrou em relação a 2024. Entre janeiro e abril, 35 mulheres foram assassinadas por motivo de gênero no estado, mais do que o dobro do mesmo período do ano passado. Os dados foram apresentados durante audiência pública conjunta das comissões da Mulher e de Cidadania da Alepe. Segundo levantamento, Pernambuco conta com apenas 30 centros de atendimento e 15 delegacias especializadas — das quais apenas cinco funcionam 24 horas — para atender os 185 municípios do estado.
Álvaro Porto cita a violência contra jovens
Outro ponto de destaque no discurso foram os dados do Instituto Fogo Cruzado, que mostram que 52 crianças e adolescentes foram baleadas em 2025 na Região Metropolitana do Recife. No Cabo de Santo Agostinho, 12 adolescentes foram vítimas de tiros só neste ano, alertou o presidente da Casa. Álvaro Porto lembrou que o prefeito do município, Lula Cabral, pedirá oficialmente à governadora Raquel Lyra o envio da Força Nacional de Segurança Pública, alegando que o policiamento estadual não é suficiente para conter os crimes.
“O 18º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo Cabo e por Ipojuca, tem hoje apenas 320 policiais para uma população de mais de 300 mil pessoas. A média é de um policial para cada mil habitantes, índice considerado insuficiente pelo gestor municipal”, colocou Álvaro Porto, exemplificando como uma evidência da negligência do governo estadual.
Desgaste das forças policiais e falhas estruturais
A precariedade das condições de trabalho da polícia também foi criticada pelo parlamentar. “O Hospital da PM, que atende policiais e bombeiros, apresenta mofo, desabamentos no teto e estrutura comprometida, segundo relatório divulgado em março pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE)”, elencou Porto.
Além disso, uma pesquisa divulgada pela Associação dos Delegados e Delegadas de Pernambuco (Adeppe) revelou que 41% dos profissionais estão emocionalmente esgotados e 79% apresentam dificuldades de concentração, em decorrência do excesso de trabalho. O estado tem atualmente um déficit superior a 220 delegados, o que leva ao acúmulo de funções e sobrecarga.
Líder do Governo rebate Porto
Em aparte ao presidente da Alepe, a líder do Governo na Casa, Socorro Pimentel (União), rebateu as críticas de Álvaro e lembrou quando militavam juntos, criticando a gestão do PSB. Ela relembrou o cenário encontrado em anos anteriores. “Visitamos batalhões em que viaturas eram empurradas por falta de combustível e policiais revezavam coletes por não haver equipamento suficiente. Era um estado sem compromisso com a segurança pública”, declarou, lembrando a parceria com Álvaro.
Ela destacou os avanços na segurança pública durante a gestão da governadora Raquel Lyra. A parlamentar afirmou que, em 2024, o estado registrou queda de 5,4% na violência e que, em abril de 2025, houve redução de 22,5% nos crimes violentos letais intencionais, segundo dados oficiais.
“Hoje os policiais têm armamento para confrontar os delinquentes, e mais de 9 mil coletes foram entregues. Toda a frota de veículos foi renovada”, afirmou a deputada, acrescentando que há previsão de convocação de mais de 7 mil profissionais de segurança até 2026.
Pimentel concluiu dizendo que os investimentos em estrutura, armamento e formação profissional são respostas concretas do atual governo, inclusive com a aprovação, pela Alepe, da paridade para aposentados da Polícia Civil, proposta encaminhada pelo Executivo. “Não se trata de viver em bolha. Trata-se de reconhecer que há um esforço concreto para mudar uma realidade que se arrastava há muitos anos.”
Transferência de batalhão e uso político de decisões
Ao retomar a falar, Porto disse que felizmente abriu os olhos e pediu desculpas aos eleitores por apoiar Raquel Lyra. Ele também também mencionou a intenção do governo estadual de transferir o 20º Batalhão da Polícia Militar de São Lourenço da Mata para Camaragibe, decisão considerada “política’ e sem consulta prévia à gestão municipal. Segundo o deputado, a medida “pode enfraquecer o policiamento local e representa um desrespeito à população e às lideranças do município”.
Em abril, a Secretaria de Defesa Social registrou 251 homicídios no estado. Para o presidente da Alepe, apresentar esse número como indicativo de melhora é “desrespeitar o luto das famílias”. Dados do Atlas da Violência, publicado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que, em 2023, primeiro ano da atual gestão, a taxa de homicídios em Pernambuco cresceu 8%, enquanto o índice nacional caiu 2,3%.
Com esse resultado, o estado passou a figurar entre os três mais violentos do país, atrás apenas do Amapá e do Rio de Janeiro.
Porto encerrou o discurso afirmando que o governo estadual “segue sem cumprir o que prometeu”, e que a escolha por destacar números maquiados em detrimento de ações concretas compromete a credibilidade e a eficácia das políticas públicas. “O que se tem concreto mesmo nesta área é um governo que desvaloriza o luto e a dor dos familiares dos mortos”, concluiu.
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