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Guerra dos bonés, a nova fronteira do embate político

Governistas produzem boné para provocar a oposição, que ostentava a peça de campanha de Donald Trump. O PL revidou com outra peça

Na semana que passou, uma disputa no mínimo curiosa, quase pueril, dominou o noticiário político e ajudou a  inflamar as torcidas que disputam o poder nacional desde 2018. A “guerra dos bonés” serviu para demarcar os espaços políticos e se transformou na nova modalidade de enfrentamento. De um lado, os bolsonaristas eufóricos com a vitória de Donald Trump nos EUA, com seus bonés vermelhos (cor do Partido Republicano) e a frase ““Make America Great Again (Faça a América Grande de Novo, na tradução em tradução livre). Em resposta, os lulistas passaram a circular com um mesmo adereço, na cor azul, com a frase “O Brasil é dos brasileiros”. Assim começou o primeiro dos confrontos das eleições presidenciais de 2026. 

A história dessa batalha dos bonés começou quando os políticos bolsonaristas, estimulados pela vitória Donald Trump, maior ícone da extrema-direita, passaram a usar os bonés que ficaram marcados pela campanha do republicano.  

Querendo fazer um contraponto à idolatria dos bolsonaristas ao presidente dos EUA, o novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o marqueteiro Sidônio Palmeira, pensou na frase que reforçava o nacionalismo, rebatendo o discurso da oposição de que são os verdadeiros patriotas. “Pedi para Sidônio pensar uma frase, Sidônio mandou a frase. Foi um sucesso”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na onda do boné.

Foram produzidas, inicialmente, 100 unidades,  distribuídas para os parlamentares da base governista no sábado (1º). No dia da reabertura dos trabalhos no Congresso Nacional, no dia 3, deputados do PSOL e do PT ampliaram o leque de cores e passaram a ostentar bonés nas cores verde e amarela bandeira brasileira.

A resposta da oposição

Se a intenção do Governo foi colocar a oposição contra a parede, atacando justamente o discurso do patriotismo, ele atingiu o objetivo. Depois de os governistas circularem com os bonés, a oposição  acusou o golpe e decidiu revidar.  

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O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), produziu 30 bonés em verde e amarelo com os dizeres: “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”. A provocação do líder foi maior. Também houve uma brincadeira com uma marca de café, chamada na peça de “Nemcafé” e uma foto de Bolsonaro em uma embalagem de carne com os dizeres: “Picanha Black”.

Nos dias que se seguiram  uma série de memes com bonés inundaram as redes sociais, fazendo referências pouco elogiosas ao presidente Lula e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Também lembraram de problemas da gestão Bolsonaro, como a fila para pegar ossos.

Mas nem todos os governistas ficaram entusiasmados com a estratégia da equipe de comunicação da presidência. Indagado sobre o que tinha achado da guerra dos bonés, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que serve para movimentar a militância. 

O cientista político e professor Hely Ferreira destaca que do ponto de vista de estratégia, a ação do Governo teve o objetivo alcançado, mas ele faz um alerta. “Embora a ideia, a proposta do governo, tenha sido proveitosa no que diz respeito a causar o impacto na oposição, isso mostra a pequenez que anda parte do Congresso Nacional. Você reduzir o governo ao uso de um adorno”, colocou o professor Hely.  

O cientista político aproveitou para fazer um paralelo com o pastoril. “Ao mesmo tempo, você tem bonés azuis e vermelhos, o que nos faz lembrar os folguedos antigos do Nordeste, que tem o cordão vermelho e o cordão azul do pastoril. Então seria um pastoril do governo da oposição”, Hely Ferreira.

Antes dos bonés, camisas, tintas e panelas

Nas últimas décadas, signos que vão além do discurso acabam servindo de mote para o embate político. Em 1983 e 84, as camisas estampavam uma ilustração do cartunista Henfil com a frase “Diretas Já”, quando um movimento varreu o Brasil em defesa do voto direto para a  presidente da República. A tese foi derrotada, mas estabeleceu as bases para que, em 1989, o voto direto se tornasse realidade. 

Em 2002, em meio a denúncias de corrupção no governo do primeiro presidente eleito pelo voto na Redemocratização, manifestações contra o então presidente Fernando Collor começavam a surgir pelo País. Em 16 de agosto, no entanto,  o presidente discursou pedindo para que a população saísse e apoiasse a manutenção do governo dele utilizando as cores da bandeira do Brasil. O tiro saiu pela culatra e a população foi às ruas de preto, com o rosto pintado de verde e amarelo. Collor renunciou para não sofrer o impeachment. Mas não adiantou. O processo já havia iniciado e ele foi cassado pelo Congresso Nacional em dezembro de 1992.

Anos mais tarde, em 2015, durante o segundo mandato da então presidente Dilma, as estrelas foram as panelas. Sempre que ela chamava cadeia nacional de Rádio e TV, panelaços podiam ser ouvidos em todos os estados brasileiros, pedindo a saída da gestora. O movimento cresceu tanto que o então deputado Bruno Araújo levou uma panela para o plenário da Câmara Federal e começou bater durante discurso na tribuna da Casa. Coincidentemente, foi Bruno Araújo que deu o voto que selou o destino de Dilma, aprovando o relatório que pedia o impeachment da gestora. Meses depois, a cassação foi oficializada pelo Senado.

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