
A Embrapa Alimentos e Territórios, em parceria com o Movimento de Pequenos Agricultores de Alagoas (MPA) lançou um catálogo que reúne 47 espécies de sementes crioulas, que atualmente são cultivadas por 21 comunidades que ficam em municípios do semiárido alagoano. O material evidencia a riqueza agrobiodiversidade local e a importância das sementes tradicionais na segurança e soberania alimentar.
As variedades tradicionais locais ou crioulas são variedades adaptadas às condições do clima e do solo dos agroecossistemas onde são cultivadas ao longo de vários ciclos, assim como à realidade socioprodutiva e cultural das famílias agricultoras.
“Pela primeira vez tivemos as nossas sementes catalogadas e apresentadas em uma publicação. Era um sonho dos guardiões e guardiãs de sementes”, destaca Vera Lúcia, integrante do MPA e moradora da comunidade Serra Bonita, em Palmeira dos Índios (AL). Vera, como muitos outros agricultores familiares, desempenha um papel fundamental na preservação e propagação dessas sementes, que são adaptadas às condições climáticas e culturais da região.
O catálogo é fruto de um esforço coletivo entre agricultores familiares e a equipe técnica da Embrapa Alimentos e Territórios, com sede em Maceió (AL). Mais do que um registro técnico, a publicação reflete a diversidade cultural e gastronômica das variedades crioulas, oferecendo informações sobre suas principais características, formas de classificação e distribuição pelos territórios.

Sementes crioulas mostram tradição de agricultores alagoanos
O projeto teve início em 2021, no final da pandemia de Covid-19, quando foi realizada uma expedição técnica em unidades familiares localizadas nos municípios de Igaci, Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas e Craíbas. A visita teve a participação de pesquisadores da Embrapa Alimentos e Territórios, da coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e agricultores das comunidades locais. Nos anos de 2022 e 2023 diversas atividades técnicas, capacitações e colheitas das sementes crioulas foram realizadas para subsidiar o material e coleta de informações essenciais à pesquisa
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Aproximadamente 40 famílias camponesas, das 21 comunidades participantes estiveram diretamente envolvidas na elaboração deste documento que organizou informações detalhadas sobre 47 variedades crioulas de 11 diferentes espécies cultivadas.
Este conjunto de variedades recebem denominações específicas pelas famílias e este foi o critério principal utilizado na composição da diversidade aqui apresentada. Segundo a Embrapa, apesar da importância das sementes crioulas para a soberania das populações, têm sido expressivas as perdas dessas variedades, em decorrência da contaminação por variedades transgênicas e pelas adversidades climáticas em diversas regiões.

“O estudo, além de representar uma importante ferramenta para o manejo da agrobiodiversidade pelas famílias camponesas, pois contribui na identificação, localização, acesso e multiplicação das sementes nos territórios para os diversos usos, evidencia a importância da diversidade dos cultivos, aspecto primordial na garantia da soberania e segurança alimentar e nutricional dessas famílias”, destaca o chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios, João Flávio Veloso.
“Nosso objetivo com este trabalho é estimular processos de valorização da agrobiodiversidade e sociobiodiversidade neste e em outros territórios do país”, complementa o pesquisador Fernando Curado, da Embrapa Alimentos e Territórios. Ele ressalta que o catálogo não é apenas um documento informativo, mas também uma ferramenta de fortalecimento das práticas agroecológicas e de preservação das sementes crioulas como patrimônio genético e cultural.
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