Por Nilton José Batista Moreno Júnior*
O Brasil e o mundo refletem, nos dias de hoje, um perfil de atingimento de idade pelos seus cidadãos jamais visto em outras épocas. No nosso País, existem cerca de 55 milhões de pessoas com idade superior a 50 anos e de acordo com o último censo demográfico, os estados brasileiros com mais pessoas maduras são o Rio Grande do Sul (14,1%), Rio de Janeiro (13,1%) e Minas Gerais (12,4%).
Nesse contexto, o movimento denominado pró-aging celebra a maturidade, promove a inclusão e a valorização dos idosos no mercado de trabalho e traz consigo a diversidade etária e o reconhecimento das habilidades e competências adquiridas ao longo da vida (FIORI, 2023).
Ao mesmo tempo, observa-se, nos mercados de trabalho mundo afora, um perverso movimento de ageísmo, também conhecido por etarismo ou idadismo, ou seja, discriminação com base na idade, excluindo, com isso, as trocas intergeracionais, o aperfeiçoamento das culturas organizacionais e a diversidade.
Envelhecimento ou longevidade?
Álvaro Machado, da UNIFESP, desenvolve uma diferenciação entre a sociedade do envelhecimento e a da longevidade, permitindo que os inúmeros desafios do primeiro conceito sejam superados pelas dezenas de oportunidades que a longevidade pode proporcionar.
Os conceitos ESG (ambiental, social e governança) incluem os pilares de diversidade como verdadeiros norteadores das estratégias de inclusão mais assertivas, focando, neste artigo, as vertentes geracional e cultural.
No contexto corporativo, abranger profissionais de diferentes faixas etárias em um mesmo ambiente de trabalho gera pluralidade de perfis e contribui para a formação de ideias, bem como a junção de diferentes tradições, regionalismos, linguagens, crenças e posicionamentos, que reforça o entendimento entre gerações e culturas (VIVIANE MOREIRA, 2023).
A diversidade geracional pretende colocar, nos mesmos ambientes, representantes das gerações Z (nascidos entre 1995 e 2000), Y (entre 1980 e 1995), X (entre 1960 e 1980) e os chamados Baby Boomers (entre 1940 e 1960). ZENKLUB divulga que o cenário geracional nas empresas brasileiras se define com os seguintes percentuais de participação: 12% da geração Z, 33% pertencem à geração Y, 36% (entre 35 e 44 anos) e 16% (entre 45 e 54 anos) incluem-se na geração X e somente 3% estão inseridos nos Baby Boomers.
INFOJOBS ouviu cerca de 4.500 profissionais que relataram as dificuldades para a carreira de cidadãos maduros: 61% das pessoas, acima de 40 anos, têm dificuldades para encontrar empresas que ofereçam oportunidades e 78% dos entrevistados afirmaram que o mercado não oferece as mesmas oportunidades para as pessoas mais velhas.
Muito antes de ser objeto de estudo, em tempos de ESG, a historiografia mundial nos lega inúmeros exemplos de pessoas maduras, conduzindo países, empresas e empreendimentos de sucesso.
Shimon Peres foi um político israelense, primeiro ministro entre os anos de 1984 a 1986 e no período de 1995 e 1996; ministro das relações exteriores de 1986 a 1988; presidente de seu país de 2007 a 2014. Em 1994, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, por conduzir, com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, o processo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Assumiu a presidência com 84 anos e deixou o cargo com 91 anos.
O Brasil tem em Abilio Diniz um empresário e administrador de referência, exercendo, hoje, aos 87 anos, a presidência dos conselhos de administração da Península Participações e da BRF e membro dos conselhos do Grupo Carrefour e do Carrefour Brasil. Desde março de 2022, comanda o programa de entrevistas “Olhares Brasileiros”, na CNN Brasil.
Sem retoques
Em uma recente postagem, como capa da Revista Vogue Itália, a atriz Isabella Rosselini, no auge dos seus 71 anos, destacou seu ícone de autenticidade e de sua autoaceitação. A atriz fez questão de não retocar suas fotos, revelando uma postura de respeito a sua história e ao processo natural de envelhecimento. Lutar contra o anti-aging não é apenas sobre aceitar rugas e marcas de expressão, mas sobre reconhecer o valor e a sabedoria, que vem com a experiência e o amadurecimento (FIORI, 2023).
Pernambuco também se faz presente nas referências individuais de pessoas maduras de renome. Tânia Bacelar é uma economista, graduada em ciências sociais e econômicas e doutora em Economia Pública, Planejamento e Organização do Espaço pela Université de Paris. Exerceu inúmeros cargos de direção na iniciativa privada e pública, atuando na conhecida Consultoria Econômica e de Planejamento (CEPLAN) e prestando assessoria a diversos organismos internacionais.
Até mesmo o esporte tem se guiado nas melhores práticas de diversidade geracional. O exemplo recente do time carioca do Fluminense, campeão da Libertadores/ 2023, pode ser aqui citado. A lista de jogadores experientes como Fábio (43), Felipe Melo (40), Marcelo (35), Cano (35) interagiu com maestria com a safra de jovens como John Kennedy (21), Martinelli (22) e Alexsander (20), produzindo bom futebol e resultados.
O Exército Brasileiro se insere entre as Instituições do País que valorizam seus recursos humanos e aproveita a experiência, habilidade e capacidade laborativa de seus militares aposentados.
A ferramenta institucional utilizada é a Prestação de Tarefa por Tempo Certo (PTTC), que se define como a execução de atividades de natureza militar, atribuídas ao militar inativo, justificada pela necessidade do serviço, de caráter voluntário e por um período previamente especificado e limitado.
Para Aguiar (2021), o retorno à atividade laboral nessa modalidade permite que o veterano (como é chamado o militar da reserva) possa ter a sua experiência profissional aproveitada, seja no campo da educação, nos projetos estratégicos ou na vertente administrativa, sendo empregado nos diversos órgãos e setores da Instituição.
Sobre a importância do militar PTTC para o Exército Brasileiro, Lucena (2019) afirma que a Organização Militar (OM) tem um ganho significativo ao selecionar militares voluntários, motivados e com larga experiência profissional para ocupar cargos administrativos, liberando militares da ativa para atividades operacionais e logísticas.
O Diário do Comércio – Minas Gerais, na edição de 12 de novembro último, publicou extensa matéria de Mara Bianchetti, com o título “Contratação de Profissional Sênior ainda é desafio para Empresas”, na qual destacou que pesquisas no Brasil indicam que as próprias organizações se consideram etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores com mais de 50 anos de idade.
Na reportagem, Juliana Ramalho, CEO da Talento Sênior, avaliou que a contratação de pessoas com experiência e maturidade gera impacto econômico, já que a curva de aprendizagem é mais rápida do que a de pessoas jovens.
As pesquisas relacionadas pela reportagem ressaltam que a agregação de conhecimento, a melhoria nas relações interpessoais, a complementaridade de times e os ganhos no clima organizacional das empresas são as grandes vantagens nas práticas pró-aging.
Há um longo caminho pela frente no combate às práticas etaristas, sendo essencial que a vitalidade, a manutenção das atividades laborais, em face da nova realidade piramidal etária e a contribuição das pessoas maduras com suas competências e habilidades sejam o verdadeiro norte nas melhores práticas empresariais.
* Nilton José Batista Moreno Júnior – General de Brigada da Reserva Remunerada
**Os artigos não expressam necessariamente a opinião do Movimento Econômico.
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