Fiagro voltado ao crédito de carbono precisa de mais estudo, por André Ito

Fiagros são Fundos de Investimento no Agronegócio, que abrangem investimentos em créditos de carbono do mercado voluntário.
André Ito
Por André Ito, CEO da MAV Capital

Por André Ito* 

Até o final do ano os investidores que priorizam ativos sustentáveis terão a opção de adquirir cotas de Fiagros (Fundos de Investimento no Agronegócio) que abrangem investimentos em créditos de carbono do mercado voluntário. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem estudado a criação de uma regulamentação definitiva para tornar isso realidade. A ideia é muito boa, mas é bem complexa e exige cautela para que os fundos não caiam em descrédito no futuro.

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O mercado de comercialização de crédito de carbono é relativamente novo e ainda um tanto confuso. Na prática, ele funciona como uma forma de compensação. Uma empresa define metas para redução de emissões de carbono. Se ela não consegue cumprir a meta no período estipulado pode comprar crédito oriundo, por exemplo, de algum projeto de reflorestamento de uma área desmatada da floresta amazônica. 

É verdade que, por não atingir a meta, esta companhia continua a poluir mais do que deveria. Porém, o entendimento é que ao ajudar no reflorestamento ela faz uma compensação, pois as árvores plantadas fazem a captação do carbono lançado na atmosfera. Claro que é feito um cálculo para que seja comprado uma quantidade de créditos equivalente ao CO2 lançado na atmosfera. Ou seja, se a empresa lança uma tonelada de carbono, o crédito comprado deve equivaler à quantidade de árvores capazes de absorver a mesma quantidade. Grosso modo, essa é a lógica do processo.

Bom, o que a CVM quer é criar possibilidades de investimentos que apoiem a redução de emissões. Os Fiagros em geral têm o objetivo de apoiar a cadeia produtiva do agronegócio. Mas os ativos escolhidos para a montagem dos fundos não têm obrigatoriamente que atender a conceitos ESG. É importante, claro, que sejam sólidos e muito bem avaliados quanto ao potencial de lucratividade e de retorno aos investidores. E só isso. Então, aqueles investidores que buscam apenas ativos sustentáveis, podem não se interessar muito por Fiagros.

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A CVM faz muito bem em trabalhar na criação de normas para esse mercado. Pois, além de mais opções para os investidores, cria-se uma forma de financiar projetos sustentáveis dentro do próprio agro. Os recursos desses Fiagros voltados ao crédito de carbono poderão financiar a conversão de pastagens e de terras degradadas e até mesmo em logística, contribuindo para práticas produtivas muito mais eficientes no que tange à preservação do meio ambiente e mitigação de riscos.

O problema é como fazer isso de forma segura e transparente. De acordo com representantes da CVM, ainda existem muitas dúvidas. Entre elas o próprio conceito de governança. Para os Fiagros voltados a investimentos em títulos de crédito, a regulamentação talvez use a mesma governança adotada nos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). Já os Fiagros com investimentos em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e em propriedades rurais talvez possam seguir a governança dos fundos imobiliários (FIIs). Enfim, são possibilidades que a CVM estuda.

E quem poderia investir nesses Fiagros? Faz sentido disponibilizá-lo ao mercado de varejo ou é melhor restringir ao institucional? Outra questão é com relação à integridade dos créditos. Em outros setores é comum a prática do green washing, que nada mais é do que o marketing de algumas companhias para convencer a sociedade de que ela atua dentro de conceitos ESG, quando na verdade ela mal se preocupa com o tema. Para que não seja ofertados falsos Fiagros de crédito de carbono é preciso definir como controlar tudo isso e se adiciona ou não responsabilidades aos gestores. 

A questão dos gestores é muito importante. Devido ao seu potencial de crescimento, o Fiagro tem atraído muitos oportunistas. Gente que mal conhece a cadeia do agronegócio, mas que oferece produtos de qualidade duvidosa aos investidores. A CVM atua para criar as melhores regras possíveis, mas parte do trabalho tem de ser feito pelos investidores, fiscalizando e buscando conhecer minuciosamente quem são os gestores de cada fundo existente. E, claro, escolher aqueles sob responsabilidade dos verdadeiros especialistas. Como eu já disse, a ideia de autorizar Fiagros voltados à investimentos em crédito de carbono é ótima, mas os cuidados na hora de investir em um ativo sustentável deve ser redobrado.

*André Ito é CEO da MAV Capital

Leita também:

Desafios regulatórios do mercado de créditos de carbono, por André Bodowski

**Os artigos não expressam necessariamente a opinião do Movimento Econômico.

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