Defasagem da gasolina é elefante na sala que não precisava estar lá, por André Perfeito

Agora está tudo bem, inflação em queda e melhora qualitativa dos índices, mas não precisa saber de econometria para entender que isso não vai durar para sempre.
André Perfeito, economista
André Perfeito/Foto: divulgação

Já alertei em comentários anteriores que a defasagem da gasolina poderia criar ruídos desnecessários na condução da política monetária e apesar do mercado ter jogado a racionalidade para debaixo do tapete (antes do corte de 50 pontos na Selic o mercado falava em 25 e agora apostam em 75 sem ao menos ruborizar a face) a persistência em não termos um direcionamento mais claro da política de preços da Petrobras pode ter um custo desnecessário.

Como argumentei a “batalha pelo curto prazo” está ganha; o Banco Central do Brasil (BCB) tem sinal verde do mercado para continuar cortando a Selic, mas a questão na mesa é o longo prazo e quando falo longo prazo me refiro as expectativas de inflação em horizontes mais longos. Estas estacionaram em 3,5%, acima do centro da meta de 3%, mas dentro do intervalo de confiança do regime de metas.

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Pois bem, o BCB disse textualmente que irá manter a taxa de juros em campo contracionista até ver as expectativas em horizontes mais longos recuarem e por isso insisto em 10,75% ao final do ciclo de cortes. Contudo, caso a Petrobras diminua a defasagem, por mais que gere mais inflação no curto prazo, isso iria ajudar a ancorar ainda mais as expectativas criando espaço para aí sim o BCB cortar mais que 10,75% ao final do ciclo.

A defasagem está hoje nos polos Petrobras segundo a ABICOM em 25% para a gasolina e 28% para o diesel. Não quero sugerir de forma alguma que se deva voltar ao regime antigo de paridade internacional que criou tanta volatilidade no mercado, mas ausência de uma comunicação mais direta cria uma “conta erro” que se traduz em aumento do prêmio de risco.

Agora está tudo bem, inflação em queda e melhora qualitativa dos índices, mas não precisa saber de econometria para entender que isso não vai durar para sempre. Nem que seja por estratégia política valeria a pena repassar parte das altas agora na gasolina: melhor subir agora que em 2024, ano de eleições municipais.

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*André Perfeito é economista chefe da corretora Necton

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