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José Carlos Cavalcanti: intermediação financeira, uma atividade central na economia

O autor fala sobre o papel dos bancos e porque o Nobel de Economia contemplou três economistas que pesquisam sobre isso.
José Carlos Cavalncanti
O economista José Carlos Cavalcanti fala sobre o papel dos bancos e porque o Nobel de Economia contemplou três economistas que pesquisam sobre isso.

Por José Carlos Cavalcanti*

No dia 10 de outubro do corrente ano The Royal Swedish Academy of Sciences anunciou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2022. E os nominados foram os economistas Ben S. Bernanke, Douglas W. Diamond, e Philip H. Dybvig, por suas pesquisas sobre bancos e crises financeiras. A pergunta que não quer calar é a seguinte: quais foram as justificativas da Academia Sueca de Ciências para conceder tal premiação?

Para a Academia (em documento que alicerça a decisão de premiação, que aqui traduzimos de forma simplificada), intermediários financeiros, tais como bancos tradicionais e outras instituições semelhantes, facilitam empréstimos entre emprestadores e tomadores, e, portanto, desempenham um papel chave na alocação de capital.  Eles possibilitam famílias adquirirem uma hipoteca para comprarem uma casa, fazendas adquirirem empréstimos para a compra de maquinário, e empresas para tomarem um empréstimo para construírem uma nova fábrica.

No entanto, intermediários financeiros também desempenham um papel chave durante tempos de significativo estresse econômico.  Por exemplo, durante a Grande Depressão nos anos 1930, muitos bancos fracassaram e o suprimento de crédito contraiu significativamente, aprofundando e prolongando ainda mais a recessão. Outro exemplo foi a Crise Financeira Global de 2007-09, a qual se iniciou no setor financeiro, e os intermediários financeiros estiveram no centro à medida que a crise se revelava.  Esta crise levou a uma longa recessão, algumas vezes chamada de Grande Recessão. O fato de que bancos e outros intermediários financeiros desempenham importantes funções, e ao mesmo tempo, podem ser associados com crises devastadoras coloca um desafio crítico para os policymakers (fazedores de políticas).

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Como ressaltado pela Academia, dois projetos de pesquisa paralelos que se originaram no início dos anos 1980, ambos motivados pela experiência do setor bancário durante a Grande Depressão, avançaram significativamente nosso entendimento do papel que os bancos desempenham na economia.  Douglas Diamond e Philip Dybvig desenvolveram modelos teóricos para explorar o papel que os bancos desempenham na economia, e porque eles são vulneráveis a “corridas aos bancos”. Especificamente, eles apresentaram uma teoria de transformação da maturidade, e mostraram que uma instituição usando demanda de depósitos para financiar projetos de longo prazo é o arranjo mais eficiente, mas que, ao mesmo tempo, esse arranjo tem uma vulnerabilidade inerente: “corridas ao banco” podem surgir.

Diamond desenvolveu uma teoria da provisão de banco de serviços de monitoria delegada, e mostrou que bancos podem assegurar que projetos com altos (mas arriscados) retornos de longo prazo obtêm fundos ao monitorar tomadores de empréstimos em nome dos emprestadores.  Isto foi um enfoque inteiramente novo para entender bancos; antes os pesquisadores assumiam as funções dos bancos como dadas, e não tinham atentado para explicar seu papel fundamental na sociedade.

A pesquisa empírica de Ben Bernanke endereçou as mesmas questões.  Seu estudo objeto foi a Grande Depressão: a mais profunda e mais longa desaceleração registrada na história, uma que começou nos EUA, mas também se tornou global. Motivado por uma combinação de argumentos teóricos, ele ofereceu evidência histórica documental e dados empíricos para cobrir a importância do canal de crédito para a propagação da depressão.

Bernanke mostrou, em particular, que a desaceleração se tornou tão profunda e tão prolongada em larga medida porque o fracasso dos bancos destruiu relacionamentos bancários valiosos, e a resultante contração da oferta de crédito deixou significativas cicatrizes na economia real.  Esses eram novos insights; historiadores econômicos anteriormente tinham visto o fracasso dos bancos meramente como uma consequência da desaceleração, ou importando para o resto da economia somente ao contrair a oferta de moeda, mais do que diretamente prejudicando os investimentos através dos arranjos cortados de crédito.  Logo, o trabalho dele foi não somente relevante para entender a Grande Depressão, mas também por prover evidência sobre o crítico papel dos bancos na economia.

Em resumo, como apontado pela Academia, os achados teóricos e empíricos de Bernanke, Diamond e Dybvig reforçam uns aos outros. Juntos eles oferecem importantes insights sobre o papel benéfico que os bancos desempenham na economia, mas também como suas vulnerabilidades podem levar a crises financeiras devastadoras.

Devemos acrescentar que a decisão da Academia da premiação em 2022, como em algumas outras oportunidades ao longo da existência do prêmio (desde 1969), não foi recebida com um amplo consenso pela comunidade de especialistas em economia ou correlatos, como aqueles que labutam no sistema financeiro internacional.  Adicione-se a esse conjunto aqueles profissionais que contribuíram para a existência de um sistema financeiro alternativo ao sistema estudado pelos premiados, e que emergiu no seio da Crise Financeira Global de 2007-09, com a criação da moeda criptografada denominada Bitcoin, e que possibilitou a emergência do que se conhece hoje como o “mundo DeFi”, ou da “Decentralized Finance – Finanças Decentralizadas”.

Apesar de tudo, não podemos negar que as pesquisas realizadas pelos economistas premiados trouxeram novos e valiosíssimos entendimentos para uma questão central da economia, e ainda muito pouco entendida pela grande maioria das pessoas, como é a intermediação financeira e o papel da atividade bancária!

*José Carlos Cavalcanti é professor de Economia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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