André Santos: “Quem se importa vence” – por que negócios imobiliários precisam adotar o ESG

A primeira vez que a abordagem “Environmental, Social and Governance” surgiu oficialmente foi em 2004, numa publicação intitulada Who care wins (numa tradução literal, “quem se importa vence”). Olhando em retrospectiva, o documento considerado o marco inicial desse novo paradigma foi um pedido do então secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Koffi Annan, […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

A primeira vez que a abordagem “Environmental, Social and Governance” surgiu oficialmente foi em 2004, numa publicação intitulada Who care wins (numa tradução literal, “quem se importa vence”). Olhando em retrospectiva, o documento considerado o marco inicial desse novo paradigma foi um pedido do então secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Koffi Annan, para que as instituições financeiras incorporassem princípios sociais, ambientais e de governança em suas análises de investimento.

André Santos, COO do Yolo Coliving – Foto: Divulgação

Onze anos depois, dois eventos fariam o tema da sustentabilidade ganhar mais tração no mercado financeiro: a Agenda 2030 da ONU – que estabelece os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável – e o Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissão de gases estufa.

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Atualmente, quando os esforços da sociedade estão concentrados no enfrentamento da pandemia e seus impactos em todas as áreas (incluindo comportamentais, urbanísticas e arquitetônicas), a mudança de mindset da cadeia da construção e mercado de imóveis se torna uma questão de sobrevivência e oportunidade.

O que a ESG tem a ver com mercado imobiliário? Para estar alinhada ao conceito de ESG, uma empresa precisa ter iniciativas para proteger os recursos naturais, reduzir a emissão de poluentes e impactar positivamente o meio ambiente. Também é necessário que seja engajada socialmente. O que engloba, desde política de diversidade, para o ambiente de trabalho, até projetos para a redução de desigualdades sociais.

Além disso, a organização deve cuidar da lisura dos processos corporativos, garantindo a independência do conselho de administração e investindo em medidas para impedir casos de discriminação, corrupção e assédios, que possam vir a quebrar seus valores e propósitos, universalmente defensáveis.

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No caso das construtoras e outros players do mercado, como as proptechs, é fundamental que tragam inovação e gerem soluções que ajudem a equacionar questões complexas como moradia, mudanças no modelo de trabalho, revitalização de áreas degradadas, mobilidade, transformação digital e a relação entre espaço urbano e identidade.

Porque incorporar o paradigma ESG?

As empresas da cadeia devem estar atentas ao contexto global e não apenas ao particular. E no panorama atual, ESG é um drive cada vez mais importante nos negócios. Investidores têm dado preferência aos fundos de investimentos que estão associados às práticas de ESG. O desempenho destes fundos também vem aumentando significativamente, com a adoção de práticas sustentáveis nas empresas.

Um relatório da PwC mostra que, até 2025, 57% dos ativos europeus estarão alocados em fundos que incorporam os valores ESG. Além disso, 77% dos investidores do continente pretendem parar de comprar produtos “não ESG”, nos próximos dois anos.

Nos aspectos mais diretamente relacionados ao setor é preciso considerar a tendência irreversível à urbanização: até 2050, mais de 70% da população vai morar nas cidades. O que traz, para a cadeia, um desafio, não de construir prédios, mas de criar novos modelos de moradia, instalações de trabalho, serviços e consumo.

Masde que forma alinhar as lideranças a fim de que as empresas do setor estejam conectadas a essa nova realidade?

A principal estratégia é engajar líderes em torno de uma visão comum: um negócio desse mercado que segue as práticas de ESG deve ter as pessoas no centro do modelo, conectar propósitos e visar a construção de uma comunidade com a qual compartilha valores.

Aliás, propósito e visão de comunidade não devem ser algo acessório à estratégia, e sim transversais à organização e seu posicionamento mercadológico. Essa cultura deve estar muito clara e ser constantemente reforçada junto às lideranças, para que seja cascateada em todos os níveis da empresa.

Um projeto de desenvolvimento imobiliário aderente às práticas sustentáveis de ESG tem o potencial de desbloquear barreiras relacionais e fortalecer a vida comunitária. Representa ainda um negócio que oferece soluções para a sociedade contemporânea, num momento em que a crise sanitária e econômica traz a necessidade de empreendimentos inovadores, criados por empresas dispostas a serem catalisadoras da mudança no espaço urbano.

Porém, é fundamental o alinhamento do produto à comunidade e ao cuidado com as pessoas e o meio ambiente, de forma a que a prática reflita com exatidão o discurso. É essencial, portanto, ter em mente que ESG não é uma chancela, um certificado ISO, nem estratégia de marketing. É geração de valor.

*André Santos é  engenheiro eletrônico, pós-graduado em C-Level e Gestão de Projetos pela Fundação Getulio Vargas (FGV), e Diretor de Operações (COO) do Yolo Coliving e da Fundamento Incorporações, com sede no Recife.

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