Com montadora da Stellantis, economia de Pernambuco é alçada a outro patamar

Leia a 1ª matéria da série "Montadora Jeep: o Salto na Economia de Pernambuco", onde mostramos a razão de a montadora da Jeep ser considerada a maior conquista do estado em 50 anos.
Montadora Jeep, começou a operar em Goiana em 2015, na Mata Norte de Pernambuco/ foto: Divulgação/Stellantis

Durante muitos anos, Pernambuco lutou para ter uma refinaria de petróleo. Em 2014, finalmente, o estado viu entrar em operação a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), no Complexo Portuário de Suape, no Litoral Sul. Este desejo coletivo estava atrelado à crença de que uma refinaria seria capaz de mudar a realidade econômica pernambucana, mas isso não aconteceu. O investimento que foi capaz de promover essa transformação aconteceu quase na mesma época e foi direcionado ao outro extremo do estado: o complexo automotivo estruturado pela Stellantis. É o que revela o estudo Principais Impactos dos Setores Automotivo e Autopeças no Estado de Pernambuco, realizado pela Ceplan Consultoria.

A montadora da Jeep começou a operar em 2015, na Mata Norte, especificamente no município de Goiana, atraindo outras indústrias sistemistas e criando uma cadeia produtiva de alto valor agregado. Desde então, segundo o estudo da Ceplan, vem gerando empregos mais qualificados, elevando o padrão de renda da população local e arredores. A circulação de mais dinheiro na economia impulsionou a arrecadação de impostos e ajudou a melhorar os serviços básicos do município.

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Os reflexos do investimento foram amplos, ultrapassando Goiana. A Jeep mudou a pauta de exportação pernambucana. Os produtos do complexo automotivo se destacaram até mesmo em relação a itens tradicionais da pauta. “Até 2015, açúcares e produtos de confeitaria lideravam as vendas para o exterior, como acontecia há muito. Em 2016, a produção de veículos ganhou forte protagonismo e a partir de 2017, exportando R$ 736,5 milhões, passou a liderar as exportações estaduais ou a disputar a liderança com a venda de combustíveis minerais”, diz o levantamento realizado pelos economistas Ademilson Saraiva, Jorge Jatobá, Osmil Galindo, Paulo Guimarães e Tania Bacelar, todos da Ceplan Consultoria.

O polo automotivo gera 5 mil empregos diretos, e 9,8 mil indiretos, somando quase 15 mil pessoas em atividade/Foto: divulgação

Chama atenção o dinamismo dos empregos gerados pelo polo automotivo. Com crescimento médio de 5,6% ao ano, o total de vagas diretas e indiretas relacionadas à operação da Stellantis se destacou frente à dinâmica apresentada por Pernambuco e pela Região Metropolitana do Recife (RMR).

O estudo da Ceplan mostra que nos primeiros quatro anos de operação, “salvo o estoque já significativo de trabalhadores alocados na rede de fornecedores, a ampliação do emprego se deu principalmente através da expansão das instalações da fábrica do grupo, à época denominada FCA”. Nos últimos anos, porém, a ampliação foi puxada pela cadeia de fornecimento. Hoje o polo automotivo gera 5 mil empregos diretos, e 9,8 mil indiretos, somando quase 15 mil pessoas em atividade.

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Outro ponto relevante que a pesquisa aponta são os ganhos que o município-sede do polo automotivo vem apresentando anualmente em sua participação na economia de Pernambuco. “Goiana saiu da 13ª posição, em 2010, com 0,93% (R$ 901,5 milhões) do PIB estadual, para a 4ª posição em 2019, chegando a 5,17% do PIB pernambucano, quando alcançou R$ 10,2 bilhões”.

Economista fecomércio-PE
O economista Ademilson Saraiva é um dos autores do estudo que mostra o impacto da fábrica da Stellantis em Penrambuco/Foto: Maker Mídia

O economista Ademilson Saraiva lembra que a indústria de transformação passa por um momento diferenciado no Brasil como um todo. Em 2017, ela correspondia a 16,5% do PIB. Agora, em decorrência de mudanças estruturais, caiu para 12%. “A economia nacional está cada vez mais voltada para os serviços, mas em Pernambuco tem sido diferente. Entre 2014 e 2015, com a contribuição da Jeep, vimos a indústria crescer”, analisa.

Maior conquista de Pernambuco

Um aspecto importante a se ressaltar é que a montadora encontrou em Pernambuco uma base tecnológica que alicerçou seu desenvolvimento: o parque fabril das baterias Moura, fundado em 1957 no município de Belo Jardim, no Agreste do estado.

“Nascida em um momento no qual o mercado de automóveis ainda era incipiente no país, a Moura tornou-se pioneira no processo de desconcentração do eixo Sul e Sudeste da produção de componentes automotivos, movimento que se consolidou e se expandiu ainda mais com a instalação do polo automotivo da Stellantis”, diz o estudo. E a união dessas duas empresas mudou a configuração do setor industrial pernambucano.

Roberto de Abreu: montadora foi a maior conquista do Estado em 50 anos/Foto: divulgação

“No setor automotivo, o que se vislumbra, se realiza”, diz o presidente da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe), Roberto de Abreu e Lima. Ele ressalta que o amplo alcance positivo da montadora atinge até a Paraíba, porque muitos funcionários da Jeep moram em João Pessoa e arredores e essa empregabilidade vem ajudando também a movimentar a economia paraibana. “A vinda da Jeep foi a maior conquista dos últimos 50 anos para Pernambuco”, afirma, acrescentando que a montadora tem atraído investimentos até para regiões distantes de Goiana, como é o caso da Yazaki, fabricante de chicotes elétricos instalada no município de Bonito, no Agreste do Estado, a cerca de 200 km do polo automotivo. “Esse foi um fator importante para gerar empregos mais qualificados em outras regiões do estado”, reflete Roberto de Abreu. Hoje, o total de pessoas empregadas na Yazaki corresponde a mais de um terço dos empregos locais, segundo a Ceplan.

ICMS

Os economistas da Ceplan ressaltam que uma importante evidência da contribuição do polo automotivo para o estado está na evolução da arrecadação do ICMS, especialmente ao longo dos últimos quatro anos de operação. Dados da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco revelam que, entre 2015 e 2021, houve um aumento substancial, de 28,4%, no valor da arrecadação do ICMS oriundo do segmento de fabricação automotiva, saltando de R$ 204 milhões para R$ 917 milhões.

“No mesmo período, a arrecadação total de ICMS pelo estado sofreu retração de 1,2% ao ano. Com esse movimento, a parcela de arrecadação relacionada ao polo automotivo, partindo de 0,8% em 2015, alcançou o patamar de participação de 3,8% no total arrecadado por Pernambuco em 2021. Outros segmentos com peso tão ou mais relevante, por outro lado, apresentaram recuo ou relativa estagnação no período”, diz o levantamento.

Desafio

O desafio dos próximos governantes será dotar o estado de infraestrutura para ativar ainda mais essa indústria de transformação. Com boas estradas, novos investimentos que chegam atraídos pelo polo automotivo podem se instalar em outras regiões, pulverizando empregos e dinamizando economias locais.

E a mão de obra não parece ser um problema. “Antes de se instalar, a Jeep, que na época era Fiat, observou as condições de formação técnica profissional. O Senai foi um grande agente no processo de qualificação da mão de obra, assim como a UFPE colaborou com seus cursos de mecatrônica e engenharia da computação, entre outros. Temos ainda outro grande agente local, que é o Porto Digital”, diz Ademilson Saraiva. Situado no Recife, esse ecossistema tecnológico conta com 350 empresas e mobiliza cerca de 15 mil empregados.

Conclusão

O estudo conclui que os resultados alcançados reafirmam a importância de políticas públicas de estímulo a iniciativas estruturantes e de potencial transformador das realidades regionais e locais. Os economistas ressaltam como um diferencial, no caso da presença do grupo Stellantis e do grupo Moura, que eles atuam, hoje, no Nordeste e em especial em Pernambuco, como agentes estratégicos de inovação. “Este é um papel que tende a se firmar e a se ampliar no futuro próximo, visto que Pernambuco tem ativos relevantes para contribuir para o enfrentamento do desafio necessário e urgente de reposicionamento brasileiro na economia mundial do século 21”.

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