O comércio exterior registrou o oitavo mês consecutivo de recuo na Bahia. Em outubro, as exportações do estado alcançaram US$ 861,7 milhões, queda de 23,4% no comparativo com o mesmo mês do ano passado. As informações constam de relatório divulgado nesta sexta-feira (10) pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia vinculada à Secretaria de Planejamento (Seplan).
O levantamento é realizado com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e confirma um cenário preocupante para os exportadores baianos. Depois de baterem recorde no ano passado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, as commodities recuaram este ano, com redução na demanda global fruto da desaceleração da economia mundial e das incertezas geradas pela fragmentação geoeconômica.
Esse panorama tem afetado regiões com perfil de exportação de commodities, como a Bahia. “Apesar da reação nas cotações do petróleo e de outros produtos em outubro, que fizeram com que os preços médios aumentassem 1,5% no comparativo interanual, os valores continuaram inferiores aos do mesmo mês do ano passado, exclusivamente por conta da redução no volume embarcado em 24,5%”, destaca a análise da SEI.
Comércio exterior em 2023 cai 23%
No acumulado de janeiro a outubro, as exportações da Bahia, segundo o estudo, alcançaram US$ 8,96 bilhões, bem abaixo dos US$ 11,74 bilhões registrados nos mesmos dez meses de 2022. A queda neste comparativo chega a 23,7%, nos valores e 11,1% no volume. De acordo com a SEI a retração na receita está relacionada em grande parte à a desvalorização dos produtos exportados pelo estado. O baque nos preços tem sido o maior vilão do comércio exterior local.
Soja reage mas não reverte queda
Em outubro, no setor agropecuário, a safra recorde de grãos – que já era prevista – incrementou o volume das exportações de algodão e milho. Já os embarques do setor líder da pauta local do agro (soja e derivados), apesar de terem melhorado no mês, continuaram 0,6% abaixo de outubro de 2022.
Do ponto de vista da receita, as exportações de soja – que, no período, representaram 58% do valor exportado pelo agro na Bahia – recuaram 9,5% no mês, em função de preços médios menores.
Considerando toda a agropecuária, houve redução de 1,64% do faturamento no comércio internacional, apesar da alta de 6,3% no volume embarcado. A retração da receita refletiu uma queda de 7,4% nos preços médios.
Além de soja e derivados, tiveram destaque nos embarques três produtos que, embora não tenham o mesmo peso na balança comercial, estiveram na contramão da queda na receita de exportações: algodão e seus subprodutos (crescimento de 1,8%), frutas (52,3%) e milho (37,1%).
Indústria tem desempenho crítico no comércio exterior
A indústria de transformação se confirma como o setor mais crítico da economia baiana no cenário atual. A receita das exportações da área fabril despencou 43,4% em outubro, enquanto o volume recuou 44,5%.
O preço médio dos bens industriais exportados pelo estado teve uma discreta variação positiva (1%), que não evitou um resultado drástico. As maiores contribuições vieram dos preços do refino de petróleo e da celulose.
Mesmo com essa melhora, as maiores baixas no faturamento ocorreram justamente no setor de derivados de petróleo (-60,3%), petroquímicos (-44%) e metalúrgicos (-49,7%). A crise econômica na Argentina, segundo principal destino das manufaturas baianas, foi decisiva para essa performance.
Na indústria extrativa, que engloba a exportação de minérios e metais preciosos, o volume exportado desabou 73,6%, gerando uma receita 10,8% menor e que só não foi pior devido à valorização de 4,1% nos preços médios.
Comércio exterior derruba produção industrial
O tombo do setor industrial baiano no comércio exterior vem impactando fortemente a produção física, como indica a pesquisa nesse âmbito divulgada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na passagem de agosto para setembro, o volume produzido pela área fabril local caiu 3%, consolidando uma sequência de taxas negativas. Em agosto, por exemplo, houve retração de 3,1% sobre julho.
Na pesquisa de Produção Industrial Mensal Regional (PIM Regional) de setembro, o estado apresentou queda em todos os indicadores. Na comparação entre setembro de 2023 e o mesmo mês de 2022, o recuo chegou a 9%. No acumulado de nove meses deste ano, a queda é de 4,5%. Na análise dos últimos 12 meses, o IBGE aponta recuo de 5,9%.
A Bahia também sofre, tanto na produção física, quanto nos embarques para fora do país, o impacto continuado do fechamento do complexo automotivo da Ford, em Camaçari, desativado em janeiro de 2021. O encerramento das atividades do polo automobilístico provocou um baque na indústria local – e na economia do estado como um todo – que só deverá começar a ser revertido com a entrada em operação da greentech BYD, em 2024.
Comércio exterior tem importações em baixa
A pesquisa mensal da SEI aponta um momento de baixa nas importações estaduais que, embora com intensidade menor que as exportações, vêm caindo. Em outubro, as compras internacionais totalizaram US$ 684,8 milhões, recuo de 8,6% no comparativo em relação ao mesmo mês do ano passado.
Houve aumento dos volumes desembarcados (27%), mas o forte recuo dos preços no período (-28,1%) puxou para baixo as despesas com produtos importados. Essa retração está relacionada à deflação global registrada em 2023, depois de fortes pressões para cima verificadas ao longo de 2022, especialmente no setor de matérias-primas. Os principais recuos, em valor importado, foram registrados no trigo (-12%), querosene (-28,4%) e borracha (-21,4%).
Leia mais sobre comércio exterior:
Indústria recua 12,8% em PE e 3,1% na BA
Carro elétrico no Brasil: BYD inicia produção em 2024 e reforça protagonismo do NE
Exportações de frutas por Pecém têm previsão de crescer 6% nesta temporada