O presidente eleito da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, defende que, para atrair mais empresas que diversifiquem a base industrial do Estado, é preciso melhorar a infraestrutura e usar a inteligência, usando dados. Ele assume a presidência da instituição no próximo dia 17 de junho por quatro anos, sucedendo o empresário Ricardo Essinger que esteve à frente da instituição por dois mandatos consecutivos.
Segundo Bruno, é preciso usar a inteligência para estimular as empresas a diversificarem a sua base produtiva baseada na prospecção de mercado, identificando as potencialidades que podem atender localmente, na América do Sul, Europa e Estados Unidos. “É olhar para o mundo e entender o potencial de mercado que pode buscar”, comenta Bruno.
Uma das “ferramentas” que podem ser usadas pelo setor pra fazer isso é o Observatório da Indústria, de acordo com Bruno. “Todas as bases de dados estão lá instaladas. Os dados em si não falam muita coisa, mas quando trabalhados, se descobrem várias potencialidades”, explica. Ele argumenta que a Fiepe também quer estimular empresas que já estão aqui a descobrirem novos produtos que tenham uma interação com o que já está sendo fabricado localmente, diversificando a base industrial local.
“Não se conhece um país desenvolvido com uma indústria fraca. A indústria impulsiona o desenvolvimento”, afirma Bruno. Esta diversificação também chegaria às exportações.”O Brasil continua exportando produtos básicos. Exporta grãos de café e importa a capsula do café. Exporta o minério de ferro e importa o aço. É muito diferente o preço de um produto básico para um produto de maior valor agregado. É necessário exportar produtos com maior valor agregado”, comenta.
Fiepe e a infraestrutura
Bruno considera fundamental as melhorias em infraestrutura para o Estado ficar mais competitivo, mantendo as empresas que fabriquem produto de maior valor agregado em Pernambuco, principalmente quando a reforma tributária entrar em vigor. A reforma vai acabar com a política de incentivos fiscais. “Como vai manter em Pernambuco as empresas de base nacional sem incentivo fiscal ? Para atrair e manter investimentos, tem que criar um bom ambiente para as empresas se instalarem. É preciso dar condições. Senão, vai reter só as empresas de base local”, argumenta Bruno. Nessa classificação dada por ele, as empresas de base local são as que fabricam produtos de baixo valor agregado para Pernambuco, chegando no máximo, aos Estados vizinhos.
As condições mais importantes citadas por Bruno são a infraestrutura de transporte – melhorias nas estradas e implantação do trecho pernambucano da Transnordestina – , abastecimento de água, energia elétrica e internet. “Há coisas que só acontecem depois que se dá uma primeira condição. A duplicação da BR-232, que ocorreu há alguns anos, trouxe muitas indústrias que se instalaram ao longo da estrada. Vitória de Santo Antão é outra depois disso. O mercado entendeu que poderia se instalar lá, produzir e escoar a produção. Caso não ocorra a ligação entre Suape e o trecho pernambucano da Ferrovia Transnordestina muitas empresas não vão se instalar em Pernambuco”, resume.
Bruno cita uma máxima que “não há porto importante no mundo sem uma ferrovia que chegue nele. O trecho pernambucano da Ferrovia Transnordestina é fundamental para Suape. Não ter um terminal ferroviário chegando em Suape é limitar a atuação do atracadouro”.
“Faltam cerca de 300 km para a Transnordestina chegar em Suape. Não é nada impossível, mas custa em torno de R$ 5 bilhões. Colocaram no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) cerca de R$ 500 milhões, que são 10% deste total”, argumenta Bruno. A conta do empresário é de que se vier R$ 500 milhões a cada ano serão necessários 10 anos para concluir o empreendimento. E alfineta: “A gente pode esperar ? Ainda estamos discutindo a licitação do projeto executivo”. A licitação para o projeto executivo desta obra tem a abertura das propostas marcada para a próxima segunda-feira (20), quase 18 anos depois de iniciadas as primeiras obras no Sertão de Pernambuco.
Segundo Bruno, a conclusão da ferrovia traria grandes volumes de carga para Suape como as frutas do Vale do São Francisco, o gesso do Araripe e os minérios do Sul Piauí, viabilizando – também – os fretes marítimos desses produtos.
Diálogo com poder público
Bruno diz que uma das suas missões à frente da Fiepe será continuar tendo uma postura de diálogo, se aproximando dos gestores que estão à frente do Executivo estadual e municipal e do Legislativo para conversar sobre um melhor ambiente de negócios. “Temos dificuldades com as estradas que não estão boas. A nossa intenção é mostrar as dores da indústria, mostrar as potencialidades e tentando trazer empreendimentos novos”, fala. Neste debate, o setor também quer induzir o setor público a gastar com empreendimentos que tenham retorno.
Eleito na quinta-feira (09), Bruno é engenheiro civil, tem 65 anos e é sócio de uma indústria de concreto chamada Goiana Pré-moldados, fundada por ele em 1998. Há 15 anos, o empresário chegou à Fiepe depois de ter se associado ao Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento de Pernambuco (Sinprocim-PE), antigo Sindocal, o qual ocupou a presidência por dois mandatos. Também respondeu pelas diretorias administrativa e financeira durante os mandatos de Jorge Côrte Real e Ricardo Essinger. Juntamente com Bruno Veloso, Ricardo Essinger segue como delegado representante no Conselho da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
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