O grupo pernambucano JB encontrou uma forma de reduzir suas emissões de dióxido de carbono e ainda gerar receita, com a criação da Carbo Gás, empresa de CO2 puro grau alimentício. O produto é oriundo da operação de suas usinas sucreoenergéticas em Pernambuco e Espírito Santo. A empresa, que começou a funcionar em 2003, já detém 12% do mercado brasileiro, num negócio que, em todo o mundo, é dominado por quatro multinacionais.
Quando no começo dos anos 2000, executivos do grupo apresentaram à corporação um projeto para criar uma empresa voltada para a produção de CO2 puro grau alimentício, a ideia foi considerada “loucura”. Duas décadas depois, a Carbo Gás está consolidada e com capacidade para continuar crescendo.
O Grupo JB, com 60 anos de atuação no setor sucroalcooleiro e outras áreas, teve uma reação inicial ao projeto proporcional ao desafio de entrar num setor altamente oligopolizado.
Mas, os responsáveis pela proposta não se deram por vencidos. Com base em quatro argumentos, conseguiram dobrar as resistências, destacando especialmente os diferenciais da futura Carbo Gás em relação à concorrência.
O primeiro ponto a favor era a disponibilidade de matéria-prima própria: o dióxido de carbono gerado nas usinas sucroenergéticas e destilarias do grupo.
O segundo era a oportunidade do aproveitamento de um insumo próprio para gerar receita nova, evitando que o CO2 bruto – principal vilão do aquecimento climático – fosse lançado no meio ambiente. Para reforçar este raciocínio, os executivos destacavam que a redução dessas emissões era um dos pilares do planejamento estratégico do grupo.
O terceiro motivo defendido pelos executivos para que o grupo entrasse no jogo era o know-how da JB nas áreas de indústria, comercialização, distribuição e logística e que seria replicado na Carbo Gás.
Por último, vinha a cereja do bolo: a carteira de clientes já estava na mão. O grupo tinha um relacionamento de décadas com grandes e médias indústrias na área de refrigerantes, fornecendo açúcar, e que são as mesmas empresas que estão entre as maiores consumidoras de CO2 em seus processos.
História da Carbo Gás começou tímida
Obtido o sinal verde do grupo, em 2004 foi implantada a primeira unidade da nova área de negócios. Nascia a Carbo Gás, sediada em Vitória de Santo Antão (PE), e que começou com uma capacidade de produção inicial tímida: 24 toneladas por dia de CO2 liquefeito. O equivalente ao máximo que podia ser transportado pela geração de carretas que era utilizada à época.
A operação deu resultado e veio a primeira expansão, com a instalação de uma segunda unidade, em Linhares (ES), com capacidade para 48 t/dia.
Capacidade atual de CO2 puro chega a 552 toneladas/dia
À medida que a Carbo Gás ia conquistando mais espaço no mercado, novos investimentos iam sendo feitos, tanto em Pernambuco como no Espírito Santo. Atualmente, são cinco fábricas, que totalizam uma capacidade de 552 t/dia. Duas unidades estão localizadas em Vitória de Santo Antão, cada uma de com capacidade para 144 t/dia. Outras três unidades ficam em Linhares, com capacidade para 144 t/dia, 78 t/dia e 48 t/dia.
Além da produção, outro ponto forte da Carbo Gás é a capacidade de estocagem que alcança seis mil toneladas, nos dois sites. A companhia conta ainda com o maior tanque de estocagem de CO2 do mundo, uma esfera com capacidade para 1,5 mil toneladas.
Verticalização para controle de todo o processo
Diferente dos concorrentes, a Carbo Gás não terceiriza os serviços de transporte e conta com motoristas-operadores e frota própria de carretas especiais para o transporte do CO2 puro.
“Esse não é um segmento para amadores. É fundamental ter pessoas altamente capacitadas e infraestrutura robusta. Além disso, os investimentos são muito elevados”, afirma o diretor executivo Fernando Mota.
Em 2023, como parte da estratégia de verticalização dos negócios de CO2, o Grupo JB criou duas novas empresas, 100% controladas pela corporação, para incrementar sua atuação nas duas maiores regiões em que atua. A Lastro Gases Industriais Exportação e Importação S.A. concentra suas operações no Sudeste. Já a Pirapama Bioenergia e Gás Ltda. cuida do relacionamento com as empresas do Nordeste.
400 Clientes de CO2 puro em vários segmentos de mercado
O nível de infraestrutura e governança do Grupo JB no CO2 puro se reflete em vendas que estão hoje no patamar de 60% da capacidade de produção instalada. A carteira soma 400 clientes ativos, distribuídos em todo o Brasil.
Como a capacidade de produção foi projetada com folga para acompanhar eventuais crescimentos do mercado, a Carbo Gás tem fôlego para suportar um incremento da demanda de até 40% em relação aos níveis atuais, sem que precise de ampliações.
Know how como diferencial competitivo
Fernando Mota diz que o sucesso da Carbo Gás não é resultado apenas de um parque industrial moderno, logística e atuação comercial agressiva e, que tanto o grupo como a companhia têm outros diferenciais competitivos importantes.
“Decidimos que a Carbo Gás não seria uma empresa de gases industriais. O CO2 puro é o nosso negócio. Esse foco nos permite saber quais são as necessidades dos clientes que envolvam a utilização do insumo”, explica o executivo.
“Temos um conhecimento profundo do produto, com pessoas e tecnologia de primeira linha. Por meio de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, trabalhamos para melhorar os processos produtivos dos clientes, reduzindo custos e atendendo aos requisitos de proteção meio ambiente”, detalha.
Mota pontua ainda que a qualidade, a segurança e as certificações exigidas no setor são fundamentais para quem quer atuar com um produto “food grade” (grau alimentício), como é o caso da Carbo Gás, que atende a indústrias de bebidas carbonatadas e cervejarias.
CO2 puro tem mil e uma utilidades
A carbonatação de bebidas não é a única aplicação do produto. O CO2 puro liquefeito é muito utilizado na indústria farmacêutica, na produção de bicarbonato de sódio e no tratamento de efluentes industriais. Além disso, é usado em extintores de incêndio e tem aplicações na área medicinal.
Outra destinação é a comercialização em estado sólido, na forma popularmente conhecida como gelo seco, com diversas aplicações industriais. Uma delas é a limpeza de peças e componentes em montadoras de automóveis, termoelétricas, usinas sucroenergéticas, refinarias de petróleo e fábricas de alimentos, por meio do método de jateamento.
O gelo seco substitui, nesse processo, produtos tradicionais como granalha e solventes, com ganhos de produtividade e, principalmente ambientais, pois não deixa resíduos. Já no setor de eventos, o gelo seco faz a festa de um público variado, incluindo artistas, produtores de espetáculos e, claro, a plateia.
Leia mais sobre CO2:
Produção de CO2 biogênico pode gerar receita extra às destilarias de etanol
Petrobras já reinjetou em reservatórios 35 milhões de toneladas de CO2