Centro de Artesanato completa 10 anos como vitrine para economia criativa

Neste domingo, o Centro de Artesanato de Pernambuco, situado no Marco Zero, completa 10 anos com atividades para o público. Mas quem comemora mesmo é o artesão.
Centro de Artesanato
No Centro de Artesanato, 1.800 artistas colocam suas peças à venda/Foto: Reprodução

Há dez anos, os artesãos pernambucanos ganharam uma vitrine que transformou a realidade econômica deles: o Centro de Artesanato de Pernambuco, que neste domingo comemora aniversário. O local reúne trabalhos de 1.800 artistas de todas as regiões pernambucanas e agora prepara-se para lançar seu e-commerce. Até outubro, a loja virtual estará no ar com cerca de 300 peças à venda. Para isso, um centro de distribuição já foi montado na área central do Recife.

Situado no Armazém 11 da região portuária da capital pernambucana, no histórico Bairro do Recife, o Centro Artesanato completa sua primeira década como espaço de referência para a economia criativa pernambucana. Sua localização privilegiada, no Marco Zero da capital, contribui para que seja destino natural dos turistas, fazendo deles os maiores consumidores da arte comercializada ali.

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Um dos fatores tornam o local diferenciado é que o artesão que mora em regiões distantes, como sítios nas zonas rurais do Agreste ou mesmo em cidades do Sertão, contam com apoio logístico para a entrega de suas mercadorias.

Márcia Souto, diretora geral de Promoção da Economia Criativa da Adepe: Foto divulgação

“Pelo menos uma vez por mês, um caminhão vai nas diferentes regiões do estado buscar as peças para serem expostas aqui. Sem esse apoio, seria inviável para um artesão que vive no Sertão viajar até a capital para vender um artesanato que custa R$ 20,00, R$ 30,00, por exemplo”, comenta Marcia Souto, diretora geral de Promoção da Economia Criativa, da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe), órgão responsável pela gestão desse e de outros espaços voltados à venda de artesanato.

Além disso, as peças recebem etiquetas com nome, telefone e localidade do artesão. Esse diferencial permite que os artistas possam ser contatados diretamente pelos clientes para novas encomendas.

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“Eu sempre vendo algo, independentemente do tamanho. E sempre estou repondo o estoque”, disse o artesão e cordelista David Teixeira, de Bezerros. Flagrado pela reportagem quando estava entregando novas peças para venda, ele contou que o Centro de Artesanato mudou sua vida. “Antes, o artista vivia pelas calçadas, com seu artesanato pelo chão ou tendo que chaleirar os lojistas dos mercados públicos para que eles colocassem as peças à venda”, recorda. “Uma peça que valia R$ 120,00, o lojista só queria pagar R$ 20,00. Era uma desvalorização da nossa arte”.

Agora, artistas como David podem definir os seus preços. “A convivência com os outros artesãos ajuda o artista a entender melhor seu próprio negócio, porque ele pode observar preços praticados por outros profissionais que usam materiais semelhantes. Às vezes, colocam preços altos e não conseguem vender. Aí, chamamos eles para que reflitam com base nos trabalhos concorrentes que usam material semelhante e assim eles podem repensar seu produto”, explica Marcia Souto.

O artesão David Teixeira (esquerda) repondo o estoque de sua arte: Foto: Audrey Lucas

Segundo a diretora, também são dadas duas recomendações sobre os preços: que eles sejam semelhantes ao que o artista pratica em seu próprio ateliê e que só promovam aumentos duas vezes ao ano. Esses são detalhes importantes para que não se crie a percepção de que no Centro de Artesanato os produtos são mais caros.

“Não visamos lucro”

“Na verdade, não visamos lucros aqui. Toda venda, descontados os impostos que precisam ser aplicados por lei, se reverte para o artista”, explica Márcia. O faturamento mensal gira em torno de R$ 250 mil. Mas o custo anual para manter a promoção da economia criativa em todas as unidades e ações coordenadas pela Adepe é de R$ 18 milhões. Em outras palavras, é o estado quem subsidia todas as estruturas e isso faz parte de uma bem-sucedida política pública que começou há mais de duas décadas e tem sido abraçada por diferentes governos, sempre tendo a Adepe na condução das ações.

Essa política teve início no ano 2000, com a primeira edição da Fenearte, considerada hoje a maior feira do artesanato da América Latina. Depois, ela ganhou outro importante elemento: o primeiro Centro de Artesanato de Pernambuco, localizado em Bezerros, no Agreste, inaugurado em 2003. Um pouco diferente, ele tem configuração de museu, embora também promova vendas. Dez anos depois, foi a vez do Recife receber unidade semelhante, mas desta vez com foco total em vendas, o que deu ainda mais visibilidade ao trabalho de milhares de artistas do estado.

Centro de Artesanato de Bezerros, pioneiro/Foto: reprodução

O fato é que, com a exposições de produtos nos centros de artesanato de Recife e Bezerros e nas lojas mantidas pela Adepe em shopping centers e no aeroporto, os artistas passaram a contar com vendas perenes e encomendas constantes. Somando tudo que está à venda simultaneamente em todos esses espaços mantidos pela Adepe, são mais de 35 mil peças.

Espaço Mape, destinado à moda conceitual de Pernambuco/Foto: Audrey lucas

Esse esforço para tornar o produto pernambucano conhecido, e sobretudo valioso, chegou à moda. Há pouco mais de um ano, o Centro de Artesanato do Recife incorporou uma loja de moda, a MAPE, com peças de 89 estilistas da terra. Extremamente conceitual, o espaço atrai mais turistas que o cidadão nativo. “É engraçado ver que muitos turistas já saem daqui vestidos com as peças adquiridas”, comenta a diretora.

No local, cada estilista tem um nicho próprio e só paga aluguel quando as vendas mensais alcançam uma determinada meta e, ainda assim, o valor é subsidiado. O maior preço é R$ 360 reais. “Em lugar nenhum isso acontece. Não conheço nada parecido em qualquer outro estado”, assegura Márcia Souto. “Nesse espaço vendemos mais que o produto, vendemos a marca”, ressalta a diretora.

Há duas semanas, outro espaço foi aberto, desta vez para as bebidas pernambucanas, boa parte artesanal. A loja reúne mais de 170 rótulos de cervejas, vinhos, vodca, gim, licores e cafés. “A Loja de Bebidas de Pernambuco chega como forma de reconhecimento para os produtores locais. Ao ampliarmos o canal de vendas em um ponto estratégico como o Armazém 11, nós damos oportunidade para esses pequenos empreendimentos. Segundo levantamento da Adepe, hoje o estado reúne 173 produtores artesanais de bebidas, entre cultivo de café e subprodutos, fabricantes de aguardente de cana e bebidas destiladas, cervejas, chopes e malte”, afirma o presidente da Adepe, Roberto Abreu e Lima. Em breve, a Adepe vai realizar novo edital para incluir novos produtores na loja.

Loja de bebidas integrada ao ambiente da moda e do artesanato/Foto: Audrey Lucas

Ao dar oportunidade de negócios para o artista e ao criativo, o estado tem ajudado a girar a máquina da economia. A Fenearte, por exemplo, é outra importante vitrine para os artistas pernambucanos. A cada ano, mais de 300 mil pessoas visitam a feira, que reúne mais de cinco mil expositores locais, nacionais e internacionais. O investimento na última edição da feira, foi de R$ 7 milhões. Mas a receita gerada alcançou R$ 48 milhões considerando apenas o que foi vendido via cartões de crédito nos 12 dias do evento. “Não entram nessa conta as vendas em dinheiro e via Pix, já que não temos como contabilizar”, explica Márcia. Nem as encomendas que acabam sendo feitas. Há artistas que conseguem encomendas para o ano todo.

Ter um espaço como o Centro de Artesanato é algo muito importante para o artista. “Essas ações que o estado tem feito ajudam o pequeno, o artista, e hoje, quando meu filho se refere a mim, ele diz ‘meu pai é um artista’. Mais do que dinheiro, essa política do governo me deu prestígio. Porque as pessoas comentam que viram minha peça no shopping, no aeroporto”, diz o artesão David Teixeira.

Comemoração

E para celebrar de maneira bem pernambucana os 10ª nos do Centro de Artesanato, durante a manhã deste domingo, a partir das 9h, o local vai ter demonstração de confecção de artesanato com Lourenço (palha) e Tapeçaria Timbo (fios). Quem quiser pode ocupar um lugar para aprender a confeccionar peças com os artistas. E tudo isso ao som de orquestra de frevo, cavalo marinho e maracatu.

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