Como entender o crescimento da produção industrial do Nordeste (3,2%), em janeiro passado comparado a dezembro de 2023? O primeiro fator a considerar é que o movimento foi liderado pela Bahia, que apresentou alta de 2,1%, segundo a mais recente PIM-PF divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O resultado da região, assim como o do setor fabril baiano, foi na contramão do país, que registrou queda de 1,6% no período. Mas essa é uma tendência consolidada para 2024?
Antes de avançar na análise, vamos a um recorte mais amplo da produção industrial nordestina. Na região, além da Bahia, Pernambuco também teve desempenho positivo (0,5%) em janeiro sobre dezembro. Já o Ceará registrou recuo de 0,2% no período.
No entanto, quando se avalia o comparativo com janeiro de 2023, o Nordeste mostra uma performance no setor fabril bastante inferior à média nacional. Enquanto no Brasil, a produção industrial evoluiu 3,6%, nos estados nordestinos pesquisados o incremento ficou em 1,3%.
No período, as influências positivas neste comparativo vieram do Rio Grande do Norte (30,6%), Bahia – com 8% de variação positiva – Ceará (3,6%) e Pernambuco (1%). No Maranhão, porém, houve queda de 6,6%.
Na análise do acumultado dos últimos 12 meses, a produção industrial regional caiu 3% puxada pelo Maranhão (-6,2%), Ceará (-4,7%) e Bahia (-0,4). O Rio Grande do Norte (salto de 17%) não seguiu essa tendência. Pernambuco também mostrou uma reação de 2,3%.
Mas, considerando o panorama de três estados que estão entre os maiores PIBs do Nordeste – Bahia, Ceará e Maranhão – as perspectivas para a área fabril regional não são das mais promissoras, apesar da variação positiva na indústria pernambucana e potiguar.
Produção industrial passa por dificuldades na BA
Mesmo com uma contribuição de peso para a produção industrial regional no comparativo mês a mês e no acumulado janeiro 2024/janeiro 2023, a situação do setor fabril baiano é preocupante, como evidencia o resultado do acumulado de 12 meses.
O cenário já é conhecido. A demanda de derivados de petróleo – que estão entre os principais produtos da indústria de transformação – enfrenta oscilações no mercado internacional, com viés de baixa, o que tem afetado o segmento de refino no estado, na avaliação do governo da Bahia, por meio da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais.
Além disso, o efeito Ford – causado pela saída da montadora do Brasil em 2021 – se mantém, já que a unidade da montadora em Camaçari tinha participação decisiva no estado, tanto na produção industrial, quanto nas exportações. Não bastasse isso, a indústria de transformação passa por um momento difícil em todo o país.
Bahia: crescimento ocasional ou tendência?
No contexto atual, o crescimento da Bahia na PIM-PF – em dois indicadores de janeiro – está ligado a fatores ocasionais e não demonstra uma tendência. A queda de 20,5% nas exportações do estado em fevereiro passado, no comparativo com o mesmo período de 2023, reforça essa visão.
A indústria de transformação, aliás, foi a maior responsável pela queda, com uma desaceleração de 53,2% na receita dos embarques, número que deve se refletir na próxima PIM-PF.
“Não temos indicativos de um ano de boa performance da indústria da Bahia, embora haja uma previsão de leve recuperação do setor industrial nacional, devido à base de comparação baixa de 2023 e ao NIB [programa federal de estímulo à reindustrialização do país]”, afirma o coordenador de Acompanhamento Conjuntural da SEI, Arthur Cruz.
O economista acrescenta que o núcleo da pauta de exportações da indústria da Bahia é formado por refino, petroquímica, metalurgia e celulose e não há sinalização de crescimento da demanda ou melhoria dos preços internacionais nesses segmentos, panorama que certamente vai afetar a produção física.
PE: números da produção industrial animam setor
Em Pernambuco, o resultado mês a mês de janeiro é visto pela federação estadual do setor (Fiepe) como indicador de estabilidade no período. Para o economista Cézar Andrade, o aumento de estoques no final de 2023, seguido por desaceleração no primeiro mês do ano, contribuiu para o desempenho modesto da produção.
Sobre o comparativo de janeiro com o mesmo mês do ano passado, Cézar Andrade destaca que o estado não acompanhou o Brasil e ficou ligeiramente abaixo da média regional.
Já o recorte dos últimos 12 meses – que traz um horizonte mais amplo – anima o setor, pois a produção industrial estadual cresceu no estado bem acima do Brasil e descolou da queda registrada no Nordeste, Bahia, Ceará e Maranhão.
Qual a previsão para a indústria pernambucana em 2024?
O economista da Fiepe faz um prognóstico positivo para as indústrias instaladas no estado. “A tendência da produção física para 2024 é de crescimento, estimulada pela movimentação contínua da taxa Selic para baixo”, ressalta.
Outro fator que Cezar Andrade frisa é o momento promissor dos mercados de açúcar e etanol, que vem impactando a produção do setor sucroenergético pernambucano.
“A safra atual, que termina em abril, mostra bons resultados. É prevista uma situação semelhante na próxima moagem, que começa em setembro. Tudo isso vai se refletir na produção física do segmento, que tem um peso importante na área fabril do estado como um todo”, assinala.
Corroborando com essa previsão, o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) projeta, para a safra atual, o processamento de 14 milhões de toneladas.
Esse volume de cana deve resultar em 1,1 milhão de toneladas de açúcar e 340 milhões a 360 milhões de litros de etanol, repetindo os números da moagem 2022/2023, bastante comemorados pelas usinas pelo crescimento de 11% sobre a temporada anterior.
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