Em mais um capítulo da queda de braço entre a gigante petroquímica Unigel e a Petrobras, o grupo industrial anunciou, nesta quarta-feira (14), a suspensão da demissão dos 384 empregados de sua fábrica de fertilizantes nitrogenados em Camaçari, na Bahia. A Unigel Agro, operada pela divisão Proquigel, é a antiga Fafen, fechada pela petroleira em 2018 e arrendada pela multinacional brasileira em 2020.
A Unigel comunicou o aviso-prévio a todos os funcionários da planta no início deste mês e sinalizou para o fechamento da unidade, como estratégia para pressionar a petroleira a reduzir o preço do gás natural, um dos seus principais insumos. Mas decidiu voltar atrás depois de negociações com a Petrobras e o Governo da Bahia.
Por meio de nota, o grupo informou que “a Unigel – uma das maiores empresas químicas da América Latina e maior fabricante de fertilizantes nitrogenados do país – anuncia que reverterá o instrumento de aviso prévio dos colaboradores da sua unidade de produção de fertilizantes no Polo Petroquímico de Camaçari”.
“A empresa continua em negociação para viabilizar a operação da Unigel Agro Bahia e segue confiante que chegará em uma boa solução para as partes”, complementa o posicionamento..
No documento, o CEO Roberto Noronha Santos afirma que a dispensa dos empregados na unidade, agora revertida, “se fez necessária devido aos desafios macroeconômicos de mercado”.
“Estamos atravessando a pior crise que o setor petroquímico já viveu em anos, paralelo a isso, as condições de competitividade com o mercado internacional tornam tudo ainda mais complexo, mesmo assim nunca desistimos e seguimos firmes no propósito de continuar produzindo fertilizantes nitrogenados, matéria-prima tão necessária ao país”, detalha o executivo.
Ele garante ainda que “os trabalhadores serão mantidos e retomaremos a produção em Camaçari assim que possível”.
Noronha defende, na nota, que essa retomada é uma prioridade nacional. “Convivemos com uma ampla dependência de fertilizantes nitrogenados vindo de outros países. Hoje 85% da demanda é atendida por importação. Consequentemente, ter uma produção no Brasil é essencial para garantir a redução da vulnerabilidade do país e a segurança dos nossos clientes”, argumenta.
Ainda segundo o documento, a Unigel “continua em tratativa com a Petrobras voltada para os projetos da companhia focados em energia renovável e fertilizantes, conforme comunicado veiculado em junho deste ano”.
Entenda a crise na Unigel
Impactado pelo cenário desafiador no mercado global de fertilizantes, o grupo Unigel acumula um passivo a reestruturar de R$ 3,1 bilhões, na conversão para moeda nacional. Para sobreviver a essa crise, a companhia quer vender ativos, renegociar as dívida e reduzir o custo do principal combustível usado em seus processos fabris na Unigel Agro, o gás natural.
O sindicato local dos petroquímicos reforça os argumentos da empresa sobre a necessidade de revisão da tarifa do insumo. Segundo a entidade, a planta está operando de forma deficitária desde o fim de 2022, “especialmente em razão do alto custo do gás natural fornecido pela Petrobras, que torna o preço final dos fertilizantes impraticável face aos preços praticados no mercado internacional”.
Já o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, que tem participado diretamente das articulações para evitar o fechamento da fábrica, ressalta a importância do negócio para o país e a Bahia.
“A retomada das atividades da Unigel na Bahia é crucial para a economia local e nacional. A empresa, referência na produção de fertilizantes, gera empregos diretos e indiretos, promove o desenvolvimento regional e impulsiona a agricultura”, ressalta.
Em plena operação, a Unigel Agro tem capacidade para processar, por ano, 475 mil toneladas de amônia e 475 mil toneladas de diversos tipos de ureia.
Sinais trocados na Unigel
A Unigel tem se posicionado de forma contraditória sobre o futuro de seus negócios na Bahia. Ao mesmo tempo em que ameaça desativar a unidade local de nitrogenados, também mostra apetite e capacidade financeira para investir numa fábrica de hidrogênio verde (H2V), cuja produção será voltada para amônia verde destinada justamente à produção de fertilizantes em Camaçari.
O grupo, aliás, tem destacado que sua operação local de fertilizantes dispõe de capacidade para absorver 100% de toda a amônia que vier a ser processada por seu novo braço de negócio, a Ecohydrogen Energy, criada em setembro passado.
A unidade da nova divisão, orçada em US$ 1,5 bilhão, já recebeu até os eletrolisadores, equipamentos mais caros na fabricação de hidrogênio verde e que foram desenvolvidos pela alemã ThyssenKrupp. Apenas nessa fase do projeto, o investimento chega a US$ 120 milhões. A planta de H2V tem previsão de ser inagurada já em 2024, com possibilidade de ser a primeira do gênero no Brasil.
O que diz a Petrobras sobre a Unigel?
No início de novembro, o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que teria “novidades sobre a área de fertilizantes no próximo plano estratégico da companhia 2024-2028”. O programa tem previsão de ser anunciado ainda neste mês. O presidente, no entanto, fez declarações genéricas, sem entrar em detalhes sobre a situação da Unigel Agro, que não foi citada em nenhum momento por ele. “Vamos fazer uma reconfiguração de tudo de fertilizantes”, desconversou.
Quem é a Unigel?
A Unigel foi fundada em São Paulo, em 1966, pelos engenheiros químicos Henri Slezynger e Edgardo Menghini. Ao longo de cinco décadas, se tornou um conglomerado de empresas nas áreas petroquímica e de plásticos, com unidades de produção no Brasil (Bahia, Sergipe e São Paulo) e no México (nos estados do México, San Luís Potosí e Veracruz). Os insumos são destinados aos setores de eletrodomésticos e eletrônicos, automotivo, tintas e revestimentos, construção civil, papel e celulose, embalagens, saúde e beleza, têxtil, mineração e agricultura.
O grupo tem posição de liderança em estirênicos, acrílicos e fertilizantes nitrogenados. É um dos maiores players do setor químico da América Latina e maior fabricante de fertilizantes nitrogenados do mercado nacional.
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