De Teresina – O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), afirmou que, até a próxima semana, devem ser apresentadas soluções para o curtailment — prática que já reduziu em até 60% a geração de energia de empresas instaladas no Nordeste. Segundo Fonteles, as demandas encaminhadas por grandes companhias do setor de renováveis já foram levadas à Presidência da República, ao Ministério de Minas e Energia e a grupos de trabalho dedicados ao tema.
“Acredito que teremos medidas concretas sendo executadas para, se não eliminar o problema do curtailment, ao menos reduzir esse gargalo que está impedindo novos investimentos”, declarou o governador durante a Brazil Energy Conference, realizada em Teresina.
Segundo ele, a limitação da geração de energia eólica e solar, mesmo com plena capacidade disponível, tem comprometido a expansão de projetos no estado e dificultado a atração de novos aportes no setor de renováveis.
Durante coletiva, o presidente da Investe Piauí, Victor Hugo, afirmou que a expectativa é de que os cortes na geração sejam reduzidos dos atuais 23% para cerca de 10% — patamar mais próximo do que se observa internacionalmente.
Transmissão é o principal entrave para redução do curtailment
Para Fonteles, o maior obstáculo à transição energética no Piauí é a deficiência na infraestrutura de transmissão. Apesar do excedente de geração no Nordeste, a energia não consegue ser escoada até os grandes centros consumidores por limitações técnicas da rede, o que trava a chegada de grandes consumidores e inibe o avanço da industrialização local.
“O Brasil precisa acelerar a expansão do sistema de transmissão, sob risco de perder oportunidades de investimento e prejudicar empresas já instaladas com os prejuízos do curtailment. Temos que responder com velocidade para colocar o país como protagonista ainda maior do que já é”, afirmou o governador.
Piauí se consolida como exportador de energia
Fonteles também destacou que, em apenas duas décadas, o Piauí deixou de ser um estado dependente de energia para se tornar exportador, com geração superior à própria demanda.
Atualmente, o estado consome cerca de 1 GW, mas já produz 7 GW — dos quais 99,75% são provenientes de fontes limpas, como solar e eólica. Segundo o governador, com novos projetos em andamento, o potencial de geração pode chegar a 20 GW.
Para ele, a abundância de energia renovável é a principal oportunidade para impulsionar uma industrialização sustentável no estado e em toda a região Nordeste.
O que é curtailment
O termo curtailment é usado no setor elétrico para descrever a redução forçada da geração de energia, mesmo quando há capacidade instalada e condições ideais de produção — como em usinas solares ou eólicas.
Ainda este ano, o Tribunal de Contas da União (TCU), começou uma auditoria operacional para avaliar a regulação e a gestão destes cortes. A estimativa é de que esses cortes tenham trazido uma queda de receita de R$ 1,8 bilhão as geradoras eólicas instaladas em sete Estados do Nordeste no período de 15 de agosto de 2023 a 26 de maio de 2025.
No Brasil, o curtailment ocorre principalmente por causa de gargalos na infraestrutura de transmissão, que impedem o envio da energia gerada até os centros consumidores. Essa limitação gera perdas econômicas e freia a transição energética, afetando especialmente estados como o Piauí, líderes em geração renovável.
Brazil Energy Conference 2025
A Brazil Energy Conference 2025 reúne em Teresina os principais nomes do setor energético do Brasil e do mundo para discutir os rumos da transição energética, inovação tecnológica, energias renováveis e sustentabilidade. O evento, que iniciou na última quarta-feira (4), segue até o próximo sábado (7), e acontece em formato híbrido, conta com a participação de especialistas, representantes de governos, organismos internacionais e grandes empresas do setor elétrico.
O Movimento Econômico está presente e realiza a cobertura completa da conferência, trazendo informações exclusivas, análises e entrevistas com os protagonistas dos debates sobre o futuro da energia no país.
*O repórter Allan Peterson viajou a convite da Brazil Energy Conference
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