Hidrogênio verde pode trazer investimentos de R$ 70 bi até 2030

A implantação da indústria do hidrogênio verde vai trazer investimentos e insumos verdes para a neoindustrialização do País
Presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Luis Viga, diz que o setor pode trazer investimentos e uma arrecadação expressiva para o governo federal. Foto: Divulgação/ABIHV

Apontado como uma das soluções para a descarbonização, o setor de Hidrogênio Verde (H2V) espera a votação do Projeto de Lei 5816/2023, o marco regulatório do setor, para as plantas que vão produzir o combustível saírem do papel. O motivo é simples: não há investimentos sem regras claras. Essa futura indústria pode trazer R$ 70 bilhões para a economia brasileira até 2030, segundo um estudo da consultoria LCA.

O investimento de R$ 70 bilhões seria feito pelos investidores na implantação das obras físicas, compra de máquinas, contratação de pessoas e outras despesas que ocorrem na instalação de empreendimentos deste tipo. “Nesse momento em que a preocupação fiscal é grande, a implantação desta indústria contribuiria para aumentar a arrecadação do País. Poderiam ser arrecadados R$ 80 bilhões até 2030”, conta o presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Luis Viga. Ambos os números citados estão no estudo elaborado pela LCA, uma das maiores consultorias econômicas do País.

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O preço do H2V ainda não é competitivo atualmente por isso o setor defende um subsídio (dinheiro bancado pelo governo) que as fábricas só começariam a receber depois que entrassem em operação, o que está previsto para ocorrer em 2027, de acordo com Luis. Para isso, os investimentos teriam que começarem a ser realizados este ano.

O marco legal do H2V seria votado na quarta-feira (17), mas foi retirado de pauta e agora está sem data para ser votado. “Defendemos um incentivo para quando as plantas entrassem em operação. Seria um pagamento do tesouro depois do hidrogênio produzido. Isso traria o produto para um preço que o consumidor possa pagar. Dá pra fazer um paralelo com o que ocorreu com a geração eólica e solar quando estavam no início”, afirma Luis.

O subsídio defendido pela Associação ocorreria por 20 anos e custaria R$ 80 bilhões aos cofres da União, incentivando os primeiros projetos que serão os que terão os custos mais altos. “É algo com começo, meio e fim. Quando chegar a uma capacidade de produção de 20 gigawatts de hidrogênio instalados, o incentivo (ou subsídio) cai a zero. Queremos ser uma indústria que ande pelos próprios pés. O hidrogênio é um combustível verde de arrecadação para o governo de uma indústria que não existe atualmente. A nossa previsão é de que o governo federal já tenha arrecadado, até 2031, os R$ 80 bilhões que vai pagar em 20 anos “, comenta Luis.

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Ele lembra que “há 20 anos, a eólica gerava o megawatt-hora por R$ 850.Era difícil sair do papel. Em 1979, colocar um pequeno sistema fotovoltaico custava R$ 30 milhões. Hoje, sai por R$ 30 mil”. O sistema citado se refere a um que é colocado no telhado de uma casa, por exemplo.

Segundo Luis, vários países estão bancando este subsídio ao hidrogênio verde para que esta indústria se concretize, ganhe escala e fique mais competitiva. Os Estados Unidos estão dando um subsídio de até US$ 3 pelo quilo do hidrogênio, dependendo do nível de descarbonização do produto. O hidrogênio mais limpo, que não emite carbono, é o verde produzido a partir de energia renovável.

Na história recente do País, tanto a geração eólica como a solar eram consideradas caras e foram incentivadas pelo governo federal de várias formas, incluindo o Proinfa, descontos nas linhas de transmissão, contratação nos leilões promovidos pelo governo federal, entre outras.

“As empresas não conseguem fazer um contrato de (venda) de longo prazo porque o preço está alto”, conta Luis. A estimativa é de que o quilo do H2V fique em US$ 4 no Brasil, mantida as atuais condições. O Brasil ainda não fabrica H2V. “Senão começar, as oportunidades não vão se concretizar”, argumenta Luis.

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A implantação de uma indústria do hidrogênio verde poderia gerar mais investimentos em geração eólica, o que é bom para o Nordeste. Foto: Agência BNDES

Hidrogênio verde terá impacto na neoindustrialização

“O hidrogênio verde é um vetor de descarbonização e produção de insumos competitivos para novas indústrias”, comenta Luis. O H2V pode ser usado como insumo na produção de fertilizante, no aço verde, no briquete de ferro verde, combustível de aviação verde e no diesel verde, entre outros. Isso faz esta indústria ser considerada estratégica numa época em que vários setores, como o siderúrgico e o cimenteiro, anunciaram metas de descarbonizar os seus processos industriais. O H2V pode substituir o carbono em muitos desses processos industriais.

Por exemplo, o Brasil importa quase todo o fertilizante nitrogenado que usa na produção agrícola. O fertilizante é um dos produtos que poderia ser feito no País, caso o hidrogênio verde alcance um preço competitivo.

A implantação da indústria de hidrogênio verde também é muito importante para o Nordeste. “A cada R$ 1 que se investe num planta de hidrogênio verde, gera um investimento de R$ 1,30 na geração de energia renovável, principalmente de eólica e solar”, explica Luis, acrescentando que a futura produção de H2V “vai consumir a energia que está sobrando no País e contribuir para a construção de mais plantas, porque é uma indústria eletrointensiva”.

Cerca de 90% dos melhores potenciais de geração de energia eólica do Brasil estão no Nordeste, onde também está o maior potencial de geração de energia solar.

Fundada em 2022, a ABIHV reúne entidades e empresas do setor de hidrogênio verde e tem entre os seus objetivos incentivar a produção e comercialização de hidrogênio verde no Brasil, promover o hidrogênio verde como uma solução para a descarbonização da economia, representar a indústria do setor junto ao governo e à sociedade civil, além de ajudar na elaboração de propostas de políticas públicas.

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