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Guerra em Israel: risco de expansão do conflito ameaça economia do Nordeste

No 13º dia da guerra em Israel, a declaração do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, nesta quinta-feira (19), de que o combate ao Hamas será longo aumenta as preocupações do setor produtivo no Nordeste, diante do risco de que esse confronto evolua para um conflito regional, envolvendo os países vizinhos no Oriente Médio, como Irã, Síria […]
Bombardeio em Gaza: evolução da Guerra em Israel pode levar a fechamento do Canal de Suez, com consequências para o comércio internacional que vão afetar o Nordeste
Bombardeio em Gaza: evolução da Guerra em Israel, com possibilidade de fechamento do Canal de Suez, gera apreensão pelos impactos na economia regional, especialmente na indústria e agronegócio/Foto: Youssef Massoud (AFP)

No 13º dia da guerra em Israel, a declaração do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, nesta quinta-feira (19), de que o combate ao Hamas será longo aumenta as preocupações do setor produtivo no Nordeste, diante do risco de que esse confronto evolua para um conflito regional, envolvendo os países vizinhos no Oriente Médio, como Irã, Síria e Líbano.

Uma escalada da guerra traria consequências para estados nordestinos que têm relações comerciais com a região, como Pernambuco, ou onde a exportação de commodities é uma das bases da economia, como Bahia, Ceará e Maranhão.

Em Pernambuco, a federação das indústrias (Fiepe) acompanha o cenário com apreensão. “Uma guerra regional no Oriente Médio poderia afetar significativamente a indústria pernambucana, principalmente devido aos impactos nos preços do petróleo”, afirma o coordenador do Núcleo de Economia da entidade, Cézar Andrade.

“O Oriente Médio é um grande produtor de petróleo e qualquer aumento nos preços internacionais, resultante da instabilidade política e dos conflitos armados, teria um efeito direto sobre o custo dos insumos e dos produtos no estado”, acrescenta.

Para o especialista, além do efeito em cadeia gerado pela alta dos combustíveis, haveria consequências nas exportações locais, que poderiam ser prejudicadas, já que o Oriente Médio é um importante destino de produtos industrializados pernambucanos, como alimentos, bebidas à base de frutas, calçados e plásticos.

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“Há uma variável política adicional nesse contexto que não pode ser esquecida. O conflito na região poderia levar a manifestações populares, boicotes ou até mesmo embargos comerciais contra países ou empresas que são vistos como parceiros próximos de uma das partes envolvidas e Pernambuco, dependendo da evolução do conflito e de como o Brasil será visto pelos países em guerra, está sujeito a esse fator”, destaca.

Guerra em Israel: Cézar Andrade (Fiepe), vê riscos para exportações pernambucanas de  alimentos, sucos, calçados e plásticos
Guerra em Israel, afirma Cézar Andrade (Fiepe), pode afetar embarques de produtos da indústria de Pernambuco, como alimentos, sucos, calçados e plásticos/Foto: Fiepe (Divulgação)

Importações de Pernambuco também podem ser afetadas por guerra em Israel

A Fiepe também está atenta a como uma possível ampliação da guerra em Israel poderia afetar as importações do setor fabril no estado. “Importamos diversos produtos do Oriente Médio, como fertilizantes, combustíveis e produtos químicos”, ressalta Cézar Andrade.

“Restrições comerciais impostas em meio a um conflito poderiam dificultar ou tornar mais caro o acesso a esses insumos essenciais para a indústria local, afetando sua competitividade e capacidade produtiva”, avisa.

Guerra em Israel traz apreensão em relação ao risco para a logística global

Outro motivo de apreensão para a Fiepe é o risco de que, dependendo da extensão territorial da guerra, o Canal de Suez venha a ser afetado. “Com a intensificação do conflito armado na Faixa de Gaza e a possibilidade de se espalhar para áreas próximas ao canal, podemos esperar atrasos no trânsito de cargas marítimas”, adverte a coordenadora de Relações Internacionais Sthefany Miyeko Nishikawa.

O Canal de Suez – que interliga os mares Vermelho e Mediterrâneo – desempenha papel crítico no transporte de petróleo, gás natural e mercadorias em todo o mundo, tornando-o um ponto vital para a economia global.

Qualquer interrupção nas operações do canal, como bloqueios causados por acidentes ou outros eventos, pode ter um impacto significativo no comércio internacional e nas cadeias de abastecimento globais.

“Como medida de precaução num panorama de guerra, navios podem ser retidos ou desviados dessa rota, levando a atrasos significativos”, diz a especialista.

“Haveria, como consequência, aumento dos custos de frete, atraso no transporte de cargas essenciais para o setor industrial, encarecimento do seguro marítimo e a possibilidade das seguradoras negarem cobertura a cargas que trafeguem na zona do conflito”, enumera.

Guerra em Israel pode pressionar petróleo e gerar reação em cadeia

Economista sócio na Ceplan Consultoria (Recife), Jorge Jatobá acredita que, embora as relações comerciais com o Oriente Médio tenham um peso variável entre os estados nordestinos, a eventual evolução da guerra em Israel para um conflito regional traria consequências globais que atingiriam toda o Nordeste.

“O grande perigo de uma guerra como essa para o Nordeste é exatamente o impacto sobre o preço dos combustíveis, desde que haja o envolvimento de países árabes, sobretudo a Arábia Saudita, entre outros integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a Opep”, alerta.

“Esse risco é elevado. Um choque do petróleo teria consequências significativas para a economia brasileira e nordestina. O primeiro impacto seria obviamente sobre o preço da energia, com o aumento do custo para o transporte de mercadorias e serviços, numa reação em cadeia. Teremos que aguardar os desdobramentos para saber se isso vai se concretizar e em que medida”, analisa.

Guerra em Israel ameça exportações de Matopiba, região produtora de grãos responsável por 10% de todo o trigo e soja do Brasil
Matopiba, região produtora de grãos responsável por 10% de todo o trigo e soja do Brasil, pode ser afetada pelas consequências da guerra em Israel no setor de commodities/Foto: Ministério da Agricultura e Pecuária (Divulgação)

Guerra em Israel: aumento de custos logísticos pode impactar Matopiba

Fronteira do agronegócio em ascensão, a região de Matopiba – que integra terras do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – é um dos centros econômicos que, na visão de Jorge Jatobá, podem ser mais afetados por uma escalada do confronto Israel-Hamas.

“O Nordeste está se destacando com o crescimento de Matopiba e se inseriu no contexto das regiões exportadoras de cereais e outros grãos”, explica o economista.

Para ele, um aumento de custos logísticos, gerado por um choque do petróleo, e outros problemas resultantes de uma guerra no Oriente Médio podem prejudicar os embarques do polo, que reúne 337 municípios, totaliza 73 milhões de hectares e produz, entre outras commodities, soja, milho e algodão.

Nessa área, chegam a ser colhidos 10% de toda a soja e milho produzidos no Brasil. Outro número superlativo: a porção baiana da região é a segunda maior produtora brasileira de algodão, atrás apenas do estado do Mato Grosso.

“O grande choque que uma guerra como essa traz é sempre o de preços, porque afeta relações de comércio, quantidade, volume, de commodities que são fundamentais para o funcionamento da economia mundial e que são a especialização de vários países, entre eles o Brasil, onde acontece uma expansão do setor nos estados nordestinos”, ressalta Jorge Jatobá.

Impactos econômicos da guerra na Ucrânia começavam a ser absorvidos

Jatobá frisa que a possibilidade de eclosão de uma guerra envolvendo diversos países do Oriente Médio acontece num momento em que a economia global parecia ter absorvido parte do impacto gerado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, especialmente no caso dos combustíveis.

“Os efeitos da guerra na Ucrânia no mercado de petróleo e gás acabaram sendo menores que o esperado.  Já nas commodities, como alimentos, com destaque para cereais, o impacto foi considerável e, depois, atenuado com a criação de um corredor de exportação em que a Rússia permitiu que os ucranianos encaminhassem suas exportações de cereais, entre elas trigo para o Brasil”, detalha.

“O problema é que hoje esse canal se fechou devido à negociação que havia acontecido antes com a Turquia e que não foi retomada”, acrescenta.

Esse gargalo é um dos motivos que tem levado o governo brasileiro a tentar mediar um acordo de paz entre os dois países, já que o Brasil depende anualmente da importação de 5,5 milhões de toneladas de trigo de produtores ucranianos. Até agora não houve avanço e o posicionamento dúbio do Brasil, que em algumas ocasiões se mostra mais próximo de Moscou, tem contribuído para o insucesso.

Para o economista João Rogério Filho, sócio-diretor na PPK Investimentos, a eventual eclosão de uma guerra regional entre Israel e países vizinhos contribuiria para tornar mais difícil a recuperação de uma recessão global que começou antes da pandemia da Covid-19.

“É um movimento recessivo que foi agravado pela emergência sanitária mundial, piorou com a invasão da Ucrânia e pode se aprofundar com esse conflito no Oriente Médio. Com isso, a desarticulação das cadeias produtivas globais, gerada por essa sucessão de crises, tende a evoluir para um nível ainda mais crítico, com reflexos em diversos setores, incluindo no Nordeste”, conclui.

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