Apesar de ter tido um ano economicamente positivo e apresentado desempenho melhor do que o Brasil ao longo dos últimos meses, em 2025, a região Nordeste enfrentará “grandes desafios” — tanto internos quanto externos — para a manutenção de seu status quo.
Com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, é esperado que o novo governo adote políticas mais contracionistas, “especialmente na forma de tarifas de exportação”, que devem afetar inclusive a região Nordeste. A análise é de Rogério Sobreira, economista-chefe do Banco do Nordeste (BNB).
Caso as políticas protecionistas de Trump se concretizem, os nove estados da região podem enfrentar impactos negativos em sua economia, principalmente aqueles que mais exportam para os Estados Unidos.
“Se essas políticas protecionistas afetarem mercadorias específicas, a região poderá ser impactada. Embora isso afete a balança comercial do Brasil como um todo, as diferentes regiões e estados terão impactos distintos. Portanto, se Trump seguir com políticas protecionistas como fez no primeiro mandato, isso representará outro desafio para a região”, pontua Sobreira.
O Nordeste teve um crescimento maior do que o do Brasil em 2024 e o maior “desafio imediato”, segundo o economista, é continuar essa tendência “sem pressionar os preços, aumentando a renda real disponível e reduzindo as taxas de desemprego” — características da economia da região no ano corrente.
Mas fatores internos também podem afetar o nível da atividade econômica no ano que vem, como as políticas monetária e fiscal. Além da “taxa de juros, que ainda está em um nível elevado e que deverá continuar a subir”, Sobreira pontua que “o mercado tem exigido do governo uma sinalização clara sobre ajustes fiscais.”
“Em resumo, 2025 se desenha como um ano particularmente complexo, com desafios tanto internos (política monetária e fiscal) quanto externos, que sugerem um contexto menos favorável do que o vivido até agora”, conclui.
Balanço de 2024
Analisando este ano, o Nordeste tem apresentado um desempenho melhor do que o Brasil também devido às “políticas assistenciais”. Sobreira explica que elas “impactaram os consumidores da região” positivamente, que possuem menor poder de compra em comparação com o restante do País, o que se traduziu “em mais consumo e maior crescimento”.
Outro destaque para o economista é a renda real disponível na região, que cresceu no ano mais do que tem crescido no Brasil. Além do fator mercado de trabalho, já que apesar da taxa de desemprego no Nordeste ainda ser mais alta do que no Brasil, “a região tem mostrado uma queda mais rápida em comparação com o restante do País”.
Ao longo das próximas semanas, um relatório completo deverá ser divulgado pelo órgão sobre o assunto.
Nordeste: inflação em outubro
O quadro inflacionário na região Nordeste também é, atualmente, mais favorável do que o do Brasil. Enquanto, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA do Nordeste está em 4,26%, o do Brasil é de 4,76%. Em 2024, o IPCA da região é de 3,78%, e o do País de 3,88%.
Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento foi analisado pelo Banco do Nordeste (BNB) e divulgado no último sábado (9).
E mesmo com o crescimento na região, não tem sido “gerado uma pressão maior sobre os preços, o que ajuda a sustentar a demanda agregada”, tendo esse “bom comportamento” da inflação na região sido influenciado principalmente pelo desempenho dos preços de alimentos no domicílio, em comparação com o Brasil.
Isso se deve, principalmente, aos efeitos da seca e das queimadas, que afetou lavouras importantes em outras partes do País. “No caso da região Nordeste, as lavouras foram menos afetadas, pois a seca e as queimadas não foram tão críticas quanto em nível nacional”. Assim, o impacto sobre os preços dos alimentos no Nordeste foi menor, o que beneficiou os consumidores da região.
Outro item importante destacado por Sobreira é a carne, que também foi impactada pela seca, queimadas e enchentes no Rio Grande do Sul, uma das principais regiões produtoras.
“Esse problema afetou o Brasil inteiro, inclusive o Nordeste, mas o impacto na região foi menor, pois o abastecimento local não depende tanto dessa área específica”. O que fez com que os preços do produto na região tivesse “comportamento menos adverso” do que no restante do Brasil.
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