Pesquisa divulgada pelo Datasenado aponta preocupação com o comportamento da população brasileira em relação às apostas esportivas, conhecidas como bets. Alagoas se destaca como o quarto estado do país e o primeiro de todo o Nordeste na quantidade de pessoas que gastaram algum valor em apostas nos últimos 30 dias. Já o Ceará foi o estado com menor percentual de apostadores.
A 21ª edição da Pesquisa Panorama Político traz informações sobre os principais temas que preocupam os brasileiros. A saúde foi o item mais citado entre 29% da população pesquisada, seguida pelo custo de vida e pela corrupção.
Porém, a pesquisa traz dados preocupantes sobre o percentual de pessoas que estão apostando em plataformas digitais. Roraima (17%), Pará (17%), Mato Grosso (17%) e Alagoas (15%) encabeçam a lista onde a pesquisa identificou mais apostadores, superando a média nacional que ficou em 12%.
Entre os estados nordestinos, o Maranhão é o segundo com maior percentual de apostadores, com 14%, seguido de Sergipe e Bahia, ambos também com 14%.
Já o Ceará ficou em último no ranking com 8% da população pesquisada que gastou no último mês algum valor em apostas esportivas.
Ainda segundo a pesquisa, o perfil das pessoas que apostaram é composto majoritariamente por homens (62%), de até 39 anos (56%). Em relação à escolaridade, observa-se que 40% dos apostadores possuem o ensino médio completo.
Entre os que apostaram, a maioria gastou até R$ 500 e 52% da população que gastou em apostas ganha até dois salários mínimos.
Impacto em Alagoas
O economista Francisco Rosário alerta para o perigo de muitos alagoanos estarem destinando boa parte de suas finanças para apostas, o que vem contribuindo para que haja uma redução do consumo no comércio local, o que acarreta problemas para a saúde da economia.
“As apostas esportivas vêm afetando o consumo das famílias alagoanas nas mais variadas faixas de renda e isso ocasiona o desarranjo nos orçamentos de muitas famílias”, observa Rosário.
Ainda segundo análise do economista, o setor varejista vem sendo prejudicado por conta do aumento dos valores gastos com apostas e a consequente diminuição no faturamento do comércio. Recentemente, a Fecomércio Alagoas divulgou dados apontando que o consumo das famílias no estado recuou pelo quarto mês consecutivo e os gastos com as bets estão entre os principais fatores para essa desaceleração no consumo.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou recentemente um estudo onde aponta os prejuízos causados ao comércio em decorrência do aumento dos gastos em apostas.
De acordo com o levantamento, entre 2023 e 2024, mais de R$ 68 bilhões foram gastos em apostas. Com isso, o setor varejista enfrenta potencial redução de até 11,2% no faturamento; uma perda de R$ 117 bilhões por ano.
A entidade estima que os cassinos on-line já retiraram R$ 1,1 bilhão do comércio apenas no primeiro semestre deste ano. Diante deste cenário, a CNC revisou para baixo a projeção de crescimento do setor varejista em 2024, ajustando de 2,2% para 2,1%, como um reflexo do impacto negativo causado pelo aumento descontrolado das apostas online, que tem comprometido a renda das famílias e redirecionado o consumo para jogos de azar, em vez de bens e serviços essenciais.
Bets na mira do Governo Federal
O crescente endividamento de pessoas em decorrência de apostas esportivas fez o governo federal, por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA-MF) autorizar apenas as empresas que pediram autorização, por meio do Sistema de Gestão de Apostas do MF (Sigap), para explorar a modalidade lotérica de apostas de quota fixa, até a data de publicação da portaria, demonstrando-se interessadas em seguir adequadamente a regulamentação e a legislação.
A lista dos sites autorizados foi divulgada na terça-feira (1º) contém 193 marcas de 89 empresas que foram autorizadas a continuar operando em âmbito nacional. A SPA-MF também notificou os 26 estados e o Distrito Federal solicitando que enviassem as listas de empresas autorizadas em âmbito estadual.
Os sites que não estão na lista divulgada pela Fazenda não podem mais ofertar apostas, em âmbito nacional e serão tirados do ar a partir do dia 11 de outubro, com auxílio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
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