A catástrofe climática no Rio Grande do Sul desencadeou diversos problemas, com grande impacto em alimentos, sendo o arroz o que mais vem sendo debatido. Alagoas importa a maior parte do consumo do grão, mas produtores locais têm investido no plantio, como forma de diversificar a produção estadual. Um dos exemplos é a Cooperativa Pindorama, que adquiriu uma unidade de beneficiamento e tem apostado no plantio de arroz na entressafra da cana.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alagoas consome cerca de 87 mil toneladas por ano e produz uma média de 11 mil toneladas, segundo o último levantamento realizado em 2022. De forma percentual, o estado produz 13% do total consumido e compra 87% de vários outros estados do país para conseguir suprir a demanda da população.
Apesar dos últimos dados disponíveis mostrarem que a produção local ainda está longe de conseguir suprir a demanda interna, algumas políticas estaduais de incentivo devem aumentar os números colhidos nas próximas safras.
Atualmente, a produção de arroz em Alagoas se concentra em municípios do Baixo São Francisco, na divisa com o estado de Sergipe. E em Igreja Nova, a Cooperativa Pindorama deu início a mais um empreendimento, com a aquisição de uma unidade de beneficiamento de arroz.
Segundo a engenheira agrônoma da Pindorama, Cleice Alves, a aquisição aconteceu em fevereiro de 2023 e os trabalhos tiveram início em maio do mesmo ano. A unidade recebe matéria prima de produtores de todo o Baixo São Francisco de ambos os estados, o que está fortalecendo o cultivo de arroz em perímetro irrigado na região.
“A unidade tem capacidade de estocagem de 4 mil toneladas e adquirimos o dobro para iniciar a produção. A capacidade de beneficiamento é de 70 toneladas ao dia e planejamos dobrar essa capacidade para as próximas safras. Hoje a Pindorama participa de todo o ciclo do manejo, desde o plantio até a comercialização, o que tem incentivado diversos produtores locais a investirem na rizicultura”, explicou Cleice.
Na unidade, estão sendo beneficiados arroz branco dos tipos 1 e 2 e no último mês já foi possível sentir uma diferença na procura e comercialização, tudo por conta da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. “De certa forma, os produtores locais vão ser beneficiados, pois teremos mais procura pelo arroz feito no estado. É importante também ressaltar que com a entrada da Pindorama nesse cenário, vamos atuar para o crescimento da cultura no Baixo São Francisco, ajudando os produtores com materiais de qualidade”, disse.
Pindorama inicia plantio de arroz na entressafra da cana
A experiência da unidade de beneficiamento em Igreja Nova está sendo levada para Coruripe, onde funciona a unidade de produção de cana-de-açúcar. Para aproveitar a entressafra e realizar a rotação de cultura no solo que recebe cana, foi iniciado o experimento com plantio de arroz.
A novidade tem motivado outros produtores da região a diversificarem suas plantações, o que favorece a agricultura alagoana. “Foram plantados no final de abril, no fim da safra da cana-de-açúcar, 10 hectares para entendermos o arroz de sequeiro e pretendemos colher em agosto cerca de 20 toneladas. É importante realizar essa rotação de plantação, pois não deixa o solo descoberto e vamos oferecer a nossos associados a experiência dessa nova cultura. Notamos também que aqueles produtores que tinham deixado de plantar arroz e investido na cana agora estão voltando para a rizicultura”, completa a engenheira agrônoma Cleice Alves.
Para o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Antônio Santiago, as iniciativas para impulsionar o plantio de arroz no estado vão contribuir também para o fortalecimento da economia do estado. “O Baixo São Francisco tem muito a ganhar com os incentivos para o plantio de arroz e isso vai fortalecer a economia do estado e promover a diversificação da agricultura no estado, que abre espaço para outros alimentos, como mandioca, abacaxi e arroz, indo além da cana-de-açúcar”, explicou.
Benefícios estaduais e linha de crédito do arroz
A cultura do arroz em Alagoas e Sergipe tem ganhado espaço e apoio das esferas públicas, no sentido de promover um ambiente favorável para o desenvolvimento dos produtores locais.
As secretarias de Agricultura de Alagoas e Sergipe se uniram para debater junto à Embrapa medidas de fortalecimento da rizicultura nos dois estados. Em março, uma missão técnica percorreu diversos municípios para conhecer a produção e tentar solucionar os gargalos para potencializar o que é produzido.
A Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve) lançou em outubro de 2023 uma linha de crédito específica para atender produtores de arroz. Segundo informações da Agência, 18 produtores dos municípios de Penedo, Porto Real do Colégio e Igreja Nova são beneficiados.
A linha de crédito possui taxa de 1,97% a.m., com prazo de sete meses para pagamento e valores de até R$ 50 mil.
Chuvas no RS ainda não impactam abastecimento em AL
A situação caótica vivida por moradores do Rio Grande do Sul nas últimas semanas terá efeitos prolongados, sobretudo com impacto direto na economia local e nacional. Responsável por cerca de 70% de todo arroz consumido no Brasil, antes das chuvas, mais de 80% do total plantado já havia sido colhido, o que não deve causar desabastecimento imediato no país.
O presidente Lula tinha anunciado que importaria arroz de países da América do Sul para evitar o desabastecimento, mas o leilão para a compra de 104 mil toneladas de arroz que estava previsto para ocorrer esta semana (20) foi cancelado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Em diversos supermercados de Maceió, por exemplo, é possível notar avisos de controle de venda de pacotes por clientes. A Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA) recomendou que os consumidores adotem o uso consciente e não façam estoques dos produtos.
“O setor supermercadista alagoano trabalha incansavelmente para garantir o abastecimento da população e não deveremos registrar a falta de quaisquer produtos”, disse.
A Associação de Comerciantes da Central de Abastecimento (Ceasa) também não prevê de imediato desabastecimento de outros alimentos que vêm do Rio Grande do Sul. Contudo, a perspectiva é que alguns produtos sofram aumento ou tenha algum comprometimento de abastecimento, devido a perda de lavouras e o aumento do valor do frete, pelos desvios das estradas interditadas. Com este cenário, a Ceasa informa que itens como maçã, cebola, alho e a Pêra importada da Argentina poderiam ser afetados, mas sem previsão concreta de ocorrer.
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